Fátima Fonseca
Componho o meu texto como uma colcha de palavras, pego palavras daqui e dali e vou alinhavando ganhando dobras e vestindo minha nudez.
sábado, 8 de dezembro de 2018
quarta-feira, 28 de novembro de 2018
quarta-feira, 14 de novembro de 2018
Poesia
«A poesia, nos nossos dias, expõe-se a um perigo que não vem dela, mas da palavra que se lhe refere. Ela é ofuscada por essa palavra. O leitor já não lê o poema, lê o poeta, as suas referências, as suas inclinações. Lê o que lhe declaram do poeta e da poesia. O poeta tornou-se para o crítico um meio de afirmar as suas opções, de expor as suas teorias, não de dar acesso ao poema enquanto tal. Trata-se aqui de uma crítica que decifra a poesia por intermédio do mundo. A verdadeira crítica é o seu oposto, desvenda o mundo através da poesia. Acede às energias da própria língua sem outro instrumento que não seja só a poesia.»
obs desconheço autoria
obs desconheço autoria
segunda-feira, 12 de novembro de 2018
Era assim...
Fátima Fonseca
Era assim (década 70)
Lá no interior era assim
mulheres nos saltos altos se equilibrando
nos paralelepidos e buracos das ruas estreitas
os homens avaliando
e os que tinham motorizados
cantavam pneus para elas
Meio à pobreza reinava naquela cidadezinha
um competir mesquinho
Traços de insignificâncias
no desespero dos rostos
denunciavam como a vida ê vã
Todos tinham a senha da soberba
o reconhecimento pelo ter
a indiferença disfarsada
Eu sumo desse desdém
me continha pequena ser
Cercada de mim.
Sem saltos altos
Hoje escrevo poemas
com os pés descalços
de uma Cinderela que nunca
fui.
domingo, 11 de novembro de 2018
Prosseguir
Fátima Fonseca
a palavra é: navegar
coragem está na hora de desencorar
então vamos ó poesia
há sempre esperança
de
chegada
a palavra é: navegar
coragem está na hora de desencorar
então vamos ó poesia
há sempre esperança
de
chegada
quinta-feira, 8 de novembro de 2018
sede de eternidade
Fátima Fonseca
um triângulo pode ser
passado
presente
futuro
condensado em um verso
e em cada vértice
uma sílaba curvada
suplicando eternidade.
quarta-feira, 7 de novembro de 2018
Escrever
Neuza Lima
Aceitar a provocação
Da página em branco
Desatar as palavras das correntes
Deixa-las contar dos sentimentos
Que escapam da alma
Derrama-los nas brancas e cálidas paginas
Dar-lhes vida.
Desvirginar uma página em branco
Não pode ser em vão
Puras, incólumes
Merecem líricas emoções
Cruel,
Nem sempre consigo conter
Minhas afiadas palavras
Emocionadas lâminas
Dilaceram o virgem papel
A branca página
Agora é manchada pelo vermelho
Do sangue que corre em minhas veias poéticas.
Sedento da morte daquele branco ameaçador.
O branco da página atormenta-me
É interminável, sem fim.
Por mais que se escreva
Sempre haverá uma pagina em branco a sua espera.
Aceitar a provocação
Da página em branco
Desatar as palavras das correntes
Deixa-las contar dos sentimentos
Que escapam da alma
Derrama-los nas brancas e cálidas paginas
Dar-lhes vida.
Desvirginar uma página em branco
Não pode ser em vão
Puras, incólumes
Merecem líricas emoções
Cruel,
Nem sempre consigo conter
Minhas afiadas palavras
Emocionadas lâminas
Dilaceram o virgem papel
A branca página
Agora é manchada pelo vermelho
Do sangue que corre em minhas veias poéticas.
Sedento da morte daquele branco ameaçador.
O branco da página atormenta-me
É interminável, sem fim.
Por mais que se escreva
Sempre haverá uma pagina em branco a sua espera.
Ode a solidão
Neuza Lima
Solidão
A falta da falta
Perda do que não se tem
Ausência do que não se conhece
E deseja
Solidão
Vazio que se fecha em um si expurgado
Ocaso, os últimos raios, que languidos,
Te fazem chorar sem saber por que.
Solidão
Não compartilhar da paz que envolve
Aqueles que dormem em silêncio
Nas escuras noites das cidades
Sentir-se só e atormentado.
Solidão não é perder um pouco a cada dia
Solidão é não ter um pouco a cada dia.
segunda-feira, 5 de novembro de 2018
Sol
Fátima Fonseca
se você é Lua
eu sou Sol
mas por favor não se intimide comigo
porque o que existe de grande em mim
são as florezinhas miúdas do cerrado
uma sede de amor e justiça
que não me deixam desistir
de brilhar
de sonhar
mesmo que me falem
de
impossibilidades.
se você é Lua
eu sou Sol
mas por favor não se intimide comigo
porque o que existe de grande em mim
são as florezinhas miúdas do cerrado
uma sede de amor e justiça
que não me deixam desistir
de brilhar
de sonhar
mesmo que me falem
de
impossibilidades.
domingo, 4 de novembro de 2018
sexta-feira, 2 de novembro de 2018
Escrever
Fátima Fonseca
Escrever
Escrever
De repente envelheci
Fiquei antiga na era digital
Para me reinventar busquei as palavras
Encontrei salvação no convite sagrado dos versos
Descobri com o poeta “escrever não dói”
Aprendi escutar a voz que vem de dentro
enxergar a cor do céu
a flor que fura o asfalto
alimentar dos milagres dos instantes
O que seria de mim se não fosse a escrita?
Sem a escrita eu seria Chico Buarque sem a Gota D’água
Espanca sem Florbela
Guimarães sem o Rosa
Ora, sem a escrita eu seria o vazio do inativo
Solidão sem utopia
Silêncio sem poesia
Fiquei antiga na era digital
Para me reinventar busquei as palavras
Encontrei salvação no convite sagrado dos versos
Descobri com o poeta “escrever não dói”
Aprendi escutar a voz que vem de dentro
enxergar a cor do céu
a flor que fura o asfalto
alimentar dos milagres dos instantes
O que seria de mim se não fosse a escrita?
Sem a escrita eu seria Chico Buarque sem a Gota D’água
Espanca sem Florbela
Guimarães sem o Rosa
Ora, sem a escrita eu seria o vazio do inativo
Solidão sem utopia
Silêncio sem poesia
quarta-feira, 24 de outubro de 2018
ave palavra
Fátima Fonseca
II
aves palavras!
cheias de garças...
que me escrevem
nos barrancos dos rios e lagos
onde procuro respirar a brisa do cerrado
que transporta o aroma do fedegoso
II
aves palavras!
cheias de garças...
que me escrevem
nos barrancos dos rios e lagos
onde procuro respirar a brisa do cerrado
que transporta o aroma do fedegoso
segunda-feira, 22 de outubro de 2018
sexta-feira, 19 de outubro de 2018
O amor
Fátima Fonseca
III
o amor é vadio
escorregadio...
está sempre com as malas zipadas
de mortes prematuras
ou
vindo de viagens fatigadas
cúmplices esses ir e vir
não é para explicar.
III
o amor é vadio
escorregadio...
está sempre com as malas zipadas
de mortes prematuras
ou
vindo de viagens fatigadas
cúmplices esses ir e vir
não é para explicar.
segunda-feira, 15 de outubro de 2018
domingo, 14 de outubro de 2018
Tá caindo flor
Fátima Fonseca
Tá caindo flor...
manto floral calça o caminho
Tá caindo flor...
moto serra ronda a cidade
Tá caindo flor...
porque florir é preciso.
Tá caindo flor...
manto floral calça o caminho
Tá caindo flor...
moto serra ronda a cidade
Tá caindo flor...
porque florir é preciso.
quinta-feira, 11 de outubro de 2018
Saudade
Fátima Fonseca
Ela é quintal
pé de jurubeba
fumo de rolo
agulha e linha
Saudade comprida
que não sabe costurar
o caminho
dos
avós maternos e paternos
Ela é quintal
pé de jurubeba
fumo de rolo
agulha e linha
Saudade comprida
que não sabe costurar
o caminho
dos
avós maternos e paternos
segunda-feira, 8 de outubro de 2018
domingo, 7 de outubro de 2018
sábado, 6 de outubro de 2018
quinta-feira, 4 de outubro de 2018
Solidão
Fatima Fonseca
A solidão é adoecida de vazio
padece de silêncio
e porque era estranho falar sozinha
ela passou adentrar os poemas como quem
procura vestimenta, pó de estrelas, gotas
de perfume...
A solidão é adoecida de vazio
padece de silêncio
e porque era estranho falar sozinha
ela passou adentrar os poemas como quem
procura vestimenta, pó de estrelas, gotas
de perfume...
terça-feira, 2 de outubro de 2018
segunda-feira, 1 de outubro de 2018
domingo, 30 de setembro de 2018
De repente ...
Fatima Fonseca
Ela naufragava
desfaziam os alinhavos
com medo de desintegrar
abraçou o espelho e...
avistou no fundo de seus olhos
um barco chegando de mansinho
ancorando....
quinta-feira, 27 de setembro de 2018
Da felicidade
Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!
Mário Quintana
terça-feira, 25 de setembro de 2018
Paixão
Fatima Fonseca
Nos braços do vento
sua fantasia
uma rosa uma rosa uma rosa
nesse breve voo de liberdade
rosa despetala
cala a paixão
versos fragmentados
escrevem ilusão no chão.
Nos braços do vento
sua fantasia
uma rosa uma rosa uma rosa
nesse breve voo de liberdade
rosa despetala
cala a paixão
versos fragmentados
escrevem ilusão no chão.
segunda-feira, 24 de setembro de 2018
quinta-feira, 20 de setembro de 2018
quarta-feira, 19 de setembro de 2018
domingo, 16 de setembro de 2018
Último verso
Fátima Fonseca
Quando eu
estiver com as mãos cansadas
sentindo
o peso da idade
Que meu
último verso
seja
apenas um traço
contido o
silêncio da natureza.
Que entre
eu e Deus
aprender
continue sendo o milagre da vida.
E nesse
virar de páginas
eu não
perca a sensibilidade
mesmo que
seja seda
nas
pontas dos dedos.
aprendiz
Fátima Fonseca
Água- substantivo feminino
de voz antiga
a desaguar continuamente
para
dentro da mata
deitando ramos
garimpando barrancos
escrevendo poemas...
Sou rio acima
no sentido piracema
a produzir
nas quebradas
do verbo aprender.
sexta-feira, 14 de setembro de 2018
o amor é líquido
Fátima Fonseca
lago plácido e sereno?
não!
quase nunca.
às vezes procura as frestas e escorre
muda de curso e pega um desvio
transborda pelas margens
ou derrete-se pelo sol
ah...! o amor é líquido
sempre chegando, derramando
ou dando um adeus do nada
que seja!
amargura?
quero não!
lago plácido e sereno?
não!
quase nunca.
às vezes procura as frestas e escorre
muda de curso e pega um desvio
transborda pelas margens
ou derrete-se pelo sol
ah...! o amor é líquido
sempre chegando, derramando
ou dando um adeus do nada
que seja!
amargura?
quero não!
Poente
Fátima Fonseca
Ainda desce em mim
o poente do cerrado
norte das minas Gerais.
E como doía o entardecer, meu Deus!
Tudo partia para algum canto.
Tudo se curvava para vestir a existência torta de ser
e as tardes deitavam-se caladas, profundas...
Um retorno sem saber para onde
do amanhecer incerto
das buscas em vão
da vaidade audaz que brota nesse deserto.
Um pássaro risca o céu rubro.
Ó condor, talvez eu seja o ninho que procuras.
terça-feira, 11 de setembro de 2018
aniversário
Hoje na oficina literária: Aniversário do poeta Ronald Claver
" há sempre uma pitada de poesia em cada dedo de prosa"
"fake news"
Fátima Fonseca
Acabei de ler nos portais de notícias
que copos de leite transbordam nos quintais, varandas e praças
que amora doou sangue de todos os fatores aos bancos de sangue
não é "fake news" é fatia de poesia para aliviar o desalento.
Acabei de ler nos portais de notícias
que copos de leite transbordam nos quintais, varandas e praças
que amora doou sangue de todos os fatores aos bancos de sangue
não é "fake news" é fatia de poesia para aliviar o desalento.
segunda-feira, 10 de setembro de 2018
«Se alguma vez, nos salões de um palácio, sobre a erva de uma vala ou na solidão morna do vosso quarto, acordardes de uma embriaguez evanescente ou desaparecida, perguntai ao vento, à vaga, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai-lhes que horas são; e o vento a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio, vos responderão: São horas de vos embriagardes! Para não serdes escravos martirizados do tempo, embriagai-vos; embriagai-vos sem cessar! Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha. Mas embriagai-vos! Deslumbrai-vos!»
Charles Baudelaire
Charles Baudelaire
sexta-feira, 7 de setembro de 2018
grito de liberdade
Fátima Fonseca
já nascemos amarrados a morte.
já nascemos amarrados a morte.
ainda inventamos tantas outras amarras!?
tenho um grito preso no brejo do poema
em qual dobra na garganta
está acorrentado o seu grito de liberdade?
quinta-feira, 6 de setembro de 2018
terça-feira, 4 de setembro de 2018
domingo, 2 de setembro de 2018
Ainda sobre o Cerrado
Fátima Fonseca
Cavo no cupinzeiro
Um poema
Uma estrela
Um cacto
Uma noite
E nem uma gota d'água
O cerrado que me corta tem sede
Olhar para trás me excessiva de sonhos
que se faziam com outro barro.
minha rua
Fátima Fonseca
Flores amarelas arrastam esperança sobre a concertina
Aviso rolando no chão:
Cuidado! Pedra portuguesa
desgarrada
O lixo ajoelhado me reconhece
Uma árvore suprimida
e uma plaquinha ao lado
“dono educado, cão educado”
“mundo vasto mundo” e as moradias se amontoam
umas sobre as outras.
E aquela mulher na esquina com lápis e papel?
Nada tecnológica. O que escreve?
Vai saber...
Por aqui na minha rua
passam ventos para derrubar folhas
Bem no olho da rua
um mosquitinho flutuante
só de passagem
eu, vizinhos e você.
domingo, 26 de agosto de 2018
toda prosa
Fátima Fonseca
a menina usa vestido chita com babados
a menina usa vestido chita com babados
o batom
vermelho contorna os lábios
meio a
pobreza
toda prosa
ela vai pra janela
e espreita o
horizonte sisudo.
segunda-feira, 20 de agosto de 2018
ausência
Fátima Fonseca
encontrei com a dama da noite
na esquina de um canteiro
para falar de jacinto
que partiu vestido de silêncio
embriagamos com vinho seco
que rimou com
ausência
encontrei com a dama da noite
na esquina de um canteiro
para falar de jacinto
que partiu vestido de silêncio
embriagamos com vinho seco
que rimou com
ausência
quarta-feira, 15 de agosto de 2018
tempo
Fátima Fonseca
eu sou um coração
que pulsa neste mundo
menor que um cisco
ninguém vê
ninguém soletra
mas todos os dias o sol se põe para mim
tenho a proteção dos anjos
o amor dos deuses
uma rosa para enfeite
um anel de ouro
um criado mudo
uma gaveta e um poema
sou vulnerável
mas tenho a força de um
leão.
meu texto chama-se tempo
aos poucos me leio
e me aprendo.
eu sou um coração
que pulsa neste mundo
menor que um cisco
ninguém vê
ninguém soletra
mas todos os dias o sol se põe para mim
tenho a proteção dos anjos
o amor dos deuses
uma rosa para enfeite
um anel de ouro
um criado mudo
uma gaveta e um poema
sou vulnerável
mas tenho a força de um
leão.
meu texto chama-se tempo
aos poucos me leio
e me aprendo.
alguma poesia
Fátima Fonseca
hortência,
violeta,
jacintos,
dália
e sempre vivas
que somos todos nós,
falavam dos versos
que suas flores não escreveram
o lamento era num idioma
que entendia espinhos
falharam ser
embora também contavam acertos
isso doía fundo
o silêncio atenuava
escavando néctar
ou quem sabe
canções,
suspiros, algodão doce
ou alguma poesia.
segunda-feira, 13 de agosto de 2018
domingo, 12 de agosto de 2018
vazio
Fátima Fonseca
com olhos de roer ossos
súplicas que ladram noites
esperança risca íris
de um vira lata
que baba diante do poste
“Buzios
Cartas
Tarot
Trago seu
amor de volta”
ele levanta a perna e rega
aquela promessa de amor
quinta-feira, 9 de agosto de 2018
segunda-feira, 6 de agosto de 2018
segunda-feira, 30 de julho de 2018
sábado, 28 de julho de 2018
alento
Fátima Fonseca
escrava
aos poucos me escrevo
as palavras calam em mim
o que me dói é povoado com alento
nunca chego
mas em todos os poemas
me debruço e descanso
escrava
aos poucos me escrevo
as palavras calam em mim
o que me dói é povoado com alento
nunca chego
mas em todos os poemas
me debruço e descanso
segunda-feira, 23 de julho de 2018
Quando
Quando te revelei meu segredo havia uma
flor no asfalto deixada por algum deus
que sabia de nosso comercio. Era noite e a
aurora provavelmente não viria. Assim
mesmo permaneci enigmático em
teus olhos mágicos. Ronal Claver
flor no asfalto deixada por algum deus
que sabia de nosso comercio. Era noite e a
aurora provavelmente não viria. Assim
mesmo permaneci enigmático em
teus olhos mágicos. Ronal Claver
sexta-feira, 20 de julho de 2018
Falar
Ferreira Gullar
A poesia é, de fato, o fruto
de um silêncio que sou eu, sois vós,
por isso tenho que baixar a voz
porque, se falo alto, não me escuto.
A poesia é, na verdade, uma
fala ao revés da fala,
como um silêncio que o poeta exuma
do pó, a voz que jaz embaixo
do falar e no falar se cala.
Por isso o poeta tem que falar baixo
baixo quase sem fala em suma
mesmo que não se ouça coisa alguma.
A poesia é, de fato, o fruto
de um silêncio que sou eu, sois vós,
por isso tenho que baixar a voz
porque, se falo alto, não me escuto.
A poesia é, na verdade, uma
fala ao revés da fala,
como um silêncio que o poeta exuma
do pó, a voz que jaz embaixo
do falar e no falar se cala.
Por isso o poeta tem que falar baixo
baixo quase sem fala em suma
mesmo que não se ouça coisa alguma.
segunda-feira, 16 de julho de 2018
poetas nosso de cada dia
Fátima Fonseca
poetas nosso de cada dia
vocês me convencem de coisas lindas
que vocês vêem.
por isso
vivo querendo ser verso.
poetas nosso de cada dia
vocês me convencem de coisas lindas
que vocês vêem.
por isso
vivo querendo ser verso.
segunda-feira, 9 de julho de 2018
O que tenho de Capitu em mim
Fátima Fonseca
quando conheci Machado de Assis
eu era Capitu
raios e trovão
ideias atrevidas
olhos de cigana
e toda coisa em mim era sentimento
hoje?
às vezes sua presença ainda me invade
com sua voz soprada e ríspida
emoção?
ela se foi como uma fruta madura
que vira adubo
ilusões desfazendo... morrendo...
a vida passando
eu abismada com a indiferença
choro com as palavras
e elas choram comigo.
quando conheci Machado de Assis
eu era Capitu
raios e trovão
ideias atrevidas
olhos de cigana
e toda coisa em mim era sentimento
hoje?
às vezes sua presença ainda me invade
com sua voz soprada e ríspida
emoção?
ela se foi como uma fruta madura
que vira adubo
ilusões desfazendo... morrendo...
a vida passando
eu abismada com a indiferença
choro com as palavras
e elas choram comigo.
sexta-feira, 6 de julho de 2018
quinta-feira, 5 de julho de 2018
rebelde
Fátima Fonseca
ela se espelhava também naquela pedrinha portuguesa
desgarrada, extraviada
indiferente
livre a transbordar de ternura.
segunda-feira, 2 de julho de 2018
Santo dos Anjos
Iolanda Braga
Deu de bulir na prainha um boato calado,
flor e farpa no sertão, reza de índio, encantados.
Tem coisa que só é. Nem santo, nem anjo,
nem palavreado arrumado explica.
Vida e desviver é revirado, é aperreio.
Tudo junto e misturado, sino e sacristão;
um existir derramado em lombo de boiadeiro.
Corpo fechado do caboclo... extrema unção?
A morte é coronel da vida... redemoinho?,
tem poder de empurrar o que é certeiro
pra outra ocasião?
Podia ser só burburinho, vadiagem das línguas.
Mas é não! Deu de confirmação! Arremedo!
Velho Chico bebe o verbo, o corpo inerte.
Água doce engole... e amarga a vida goela abaixo.
Bebe, ácida, a lúdica lágrima do palhaço.
Na corda bamba, corre agora, em etílico estado.
Sol e sal, e um gosto de desgosto no seu dorso.
Tão bulino com seu leito, Mano Veio!
Que jeito malarrumado, meu Deus!!!
No Velho Chico, palhaço sonha oceano...
terça-feira, 26 de junho de 2018
Flexível Aço
Lançamento do livro "Flexível Aço" da nossa amiga poeta: Iolanda Braga
Acordei sessenta
Me vi tao cotidiana quanto anônima.
Espreguiço rimas, alongo pensamentos,
penso versos, se a palavra é ausente.
Vísceras vibram delicados poemas.
Quanto tempo demora uma vida pra passar? (Iolanda Braga)
segunda-feira, 25 de junho de 2018
sexta-feira, 22 de junho de 2018
terça-feira, 19 de junho de 2018
Com licença poética
Adélia Prado
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
– dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
segunda-feira, 18 de junho de 2018
escrever
Fátima Fonseca
Dizem que os loucos tem o habito de falarem sozinhos e que também falam sozinhos aqueles que escrevem. Escrevo pouco
porem,
com a mesma necessidade que puxo o ar para os pulmões.
Dizem que os loucos tem o habito de falarem sozinhos e que também falam sozinhos aqueles que escrevem. Escrevo pouco
porem,
com a mesma necessidade que puxo o ar para os pulmões.
poesia
Fátima Fonseca
sou viciada em poesias
por necessidade
e por prazer
e se somos o que consumimos
o que fazemos
o que vivemos
então,
posso dizer com ousadia
que sou
poesia.
sou viciada em poesias
por necessidade
e por prazer
e se somos o que consumimos
o que fazemos
o que vivemos
então,
posso dizer com ousadia
que sou
poesia.
quinta-feira, 14 de junho de 2018
Desejo
Fátima Fonseca
Quero pétalas de poesia
quero a paz reinando no mundo
quero o choro de alegria
Descobri mil desejos no verso:
É ter cá dentro um astro que flameja
É ter garras e asas de condor! (Florbela)
Alem do desejo de ser palavra
sem dor!
Quero pétalas de poesia
quero a paz reinando no mundo
quero o choro de alegria
Descobri mil desejos no verso:
É ter cá dentro um astro que flameja
É ter garras e asas de condor! (Florbela)
Alem do desejo de ser palavra
sem dor!
quarta-feira, 13 de junho de 2018
"Nunca jogue pérolas em porcos"
Fátima Fonseca
Era uma vez Dod um coelhinho que se apaixonou pela porquinha Pink. Dod trabalhou arduamente e presenteou Pink com um anel de ouro que foi colocado em seu focinho. Dod ficou frustrado quando viu o anel sem a pedra, afinal ele não sabia que Pink gostava de fuçar tudo que via pela frente. Desistiu cabisbaixo.
Moral da história: "Nunca jogue pérolas em porcos"
Era uma vez Dod um coelhinho que se apaixonou pela porquinha Pink. Dod trabalhou arduamente e presenteou Pink com um anel de ouro que foi colocado em seu focinho. Dod ficou frustrado quando viu o anel sem a pedra, afinal ele não sabia que Pink gostava de fuçar tudo que via pela frente. Desistiu cabisbaixo.
Moral da história: "Nunca jogue pérolas em porcos"
segunda-feira, 11 de junho de 2018
inspiração X transpiração
Fátima Fonseca.
vamos transpirar
afinal escrever
é lavar chão
para as palavras
transitarem.
vamos transpirar
afinal escrever
é lavar chão
para as palavras
transitarem.
Eu que me Aguente Comigo
Fernando Pessoa
Eu que me Aguente Comigo
Contudo, contudo,
Também houve gládios e flâmulas de cores
Na Primavera do que sonhei de mim.
Também a esperança
Orvalhou os campos da minha visão involuntária,
Também tive quem também me sorrisse.
Hoje estou como se esse tivesse sido outro.
Quem fui não me lembra senão como uma história apensa.
Quem serei não me interessa, como o futuro do mundo.
Caí pela escada abaixo subitamente,
E até o som de cair era a gargalhada da queda.
Cada degrau era a testemunha importuna e dura
Do ridículo que fiz de mim.
Pobre do que perdeu o lugar oferecido por não ter casaco limpo com que aparecesse,
Mas pobre também do que, sendo rico e nobre,
Perdeu o lugar do amor por não ter casaco bom dentro do desejo.
Sou imparcial como a neve.
Nunca preferi o pobre ao rico,
Como, em mim, nunca preferi nada a nada.
Vi sempre o mundo independentemente de mim.
Por trás disso estavam as minhas sensações vivíssimas,
Mas isso era outro mundo.
Contudo a minha mágoa nunca me fez ver negro o que era cor de laranja.
Acima de tudo o mundo externo!
Eu que me aguente comigo e com os comigos de mim.
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
segunda-feira, 4 de junho de 2018
morrer
Fátima Fonseca
bela
altiva
a flor curva murcha diante da morte
para falar de mim
de você
de todos nos viventes.
bela
altiva
a flor curva murcha diante da morte
para falar de mim
de você
de todos nos viventes.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias
Manoel de Barros
Poderoso pra mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre
as insignificâncias (do mundo e as nossas)
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado e chorei.
Poderoso pra mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre
as insignificâncias (do mundo e as nossas)
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado e chorei.
domingo, 3 de junho de 2018
segunda-feira, 28 de maio de 2018
escrever
Fátima Fonseca
escrevo porque desaguar é necessário
e nesse escorrer
venho banhando minhas margens
ora ressequidas
ora encharcadas
me atravessando por todos os lados.
escrevo porque desaguar é necessário
e nesse escorrer
venho banhando minhas margens
ora ressequidas
ora encharcadas
me atravessando por todos os lados.
o amor uma miragem
quadro na parede
leio o poema nas flores
suspensas no ar
flor andorinha, capitu, madalena, escrava princesa...
flores de plástico.
amei quem me transformasse em violetas
brotando nas veias
amei quem adubasse o aroma
da poesia nos meus pólens
perdoe-me
eu amei a projeção que fabulei
amei o meu ideal
e esse não era você
despir dói
mas suas mãos imperfeitas
podem apagar a miragem
na imagem
da tela do artista.
quinta-feira, 24 de maio de 2018
quarta-feira, 23 de maio de 2018
Paris
Fátima Fonseca
Minha Paris está no meu jardim
nos faróis dos vaga lumes
que cortam o breu das noites
sem luar feito picadinho de estrelas.
segunda-feira, 21 de maio de 2018
Fé, café e poesia
Fátima Fonseca
hoje acordei cedo
friozinho...
passei poesia num pedaço de palavra
fui me soletrando na fumacinha
porque escrever é necessário
quando o desejo é voar.
hoje acordei cedo
friozinho...
passei poesia num pedaço de palavra
fui me soletrando na fumacinha
porque escrever é necessário
quando o desejo é voar.
maio
Fátima Fonseca
maio chove flores em nós
escreve frio em versos
suas histórias de grinaldas.
nenhuma ilusão me assalta agora
as traças devoraram a ultima veste de poesia
e perdi o discurso de amor.
maio chove flores em nós
escreve frio em versos
suas histórias de grinaldas.
nenhuma ilusão me assalta agora
as traças devoraram a ultima veste de poesia
e perdi o discurso de amor.
morrer não é preciso quando se tem vida
Fátima Fonseca
o
silencio transborda sem resposta
sob
esse rabisco
que
hoje sou
ilusões
desfazendo... morrendo...
a vida
passando...
eu
abismada com a indiferença que fui
uma
saudade atravessa apagando as luzes
esses
gravetos secos nada escrevem
estão presentes
como a morte
Senhor,
poda- os em mim!
quarta-feira, 16 de maio de 2018
só enxergamos o que queremos ver
Fátima Fonseca
Outro dia fiz uma compra e no caixa fiquei sabendo que o preço referia a 100 gramas do produto. Aprendi que ás vezes só enxergamos o que queremos ver e depois ainda lamentamos:
Fui ludibriado!
É como aquela história da adolescente que enxerga na bochecha do namorado uma covinha onde tem uma espinha.
É o parceiro que só descobre que o outro é imperfeito depois do desencanto.
o politico que sabemos que é corrupto, ainda assim queremos provas para crer.
E outras tantas cegueiras ,,,
segunda-feira, 14 de maio de 2018
ser
Fátima Fonseca
gosto
de meter o pé na jaca
afundar
na lama
desenhar
com carvão nas paredes descascadas
falar
e arrepiar com os fantasmas
você
pode até dizer que sou uma caipira estranha
e
dai?
não
vou mudar
só
para que você tenha uma outra impressão
da
minha pessoa
eu
também posso não gostar
desse
seu jeito ácido de olhar
entretanto,
não vou me expressar
entendo
que você esta sendo você
e
eu só posso ser o que sou
mesmo
porque, esse inútil mistério
me
faz melhor
caipira
do cerrado
com
orgulho
de
ser.
segunda-feira, 7 de maio de 2018
Amar, amar, amar e viver.
Fátima Fonseca
Agente andava
de mãos dadas e eu com muito medo de me perder. Dobrávamos a esquina e...
Assim
começava a minha história quando a professora passou por perto da minha
carteira e fez um traço vermelho com muita força em cima da frase que até furou
a página.
Preste
atenção menina! A gente escreve separado.
Eu
tão centrada nas histórias que ia contar, fiquei sem entender que desgrudar uma
letra de uma palavra era mais importante que o meu itinerário.
Mas
não é disso que eu quero falar
Falo
das folhas secas que cantam
do
sol que filtra as flores
dos
beijos que nascem nas bocas de lobo
da
“flor que nasceu na rua e crescia luminosa e branca no marrom da imundície”.
do
cotidiano sem sensibilidade
das
línguas ferinas rimando com mal dizer
Falo
da língua inculta amorosa morrida de poesia
Falo
das crianças indefesas sem utopia que são todos nós
Falo
do anjo torto drumoniano
Falo
de ser rebuscado de esperança
Amar,
amar, amar e viver.
sábado, 21 de abril de 2018
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