sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Fátima Fonseca
quando flores
ande pelo caminho da ternura
 cabe a mim escrever seu voo
não tenho mais espaço pra amargura
vou cantar
onde tiver cheiro de poesia
estarei cantando

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Agonia de ser


fátima fonseca


A chuva agreste o sertão

A vó sempre dizia: olha por onde pisa menina!
desvia das poças d’água!
mas ela insistia em molhar os pés
afundar na lama
pegar frieira entre os dedos

Aprendeu a fala medonha dos raios que partem
do tempo tingido de nuvens escuras
as palavras molhadas das goteiras
a geografia dos córregos
a imposição dos trovões, medos e reticências...

Ah, mas o que ela queria mesmo era aprender ser rio
e ficou assim: transbordando por tudo
ou talvez  tornando vazia, desamparada
escorrendo infinitamente sem conseguir  alcançar
sem saber para onde vai
agonia de ser 



domingo, 14 de fevereiro de 2016

carnaval


 Fátima Fonseca
Diamantes
agora são confetes pelo chão
e como tudo vira cinzas 
acabou-se na quarta-feira
o que era bão
chorei
chorei, porque perdi a multidão
eu não sabia
não sabia que era assim
preto e branco
e que eu tinha vocação pra ilusão.


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Sonhos


Solange Amado


Aos cinco anos eu queria o céu
Aos dez anos conhecer o mar
Aos quinze anos o amor chegou
E suas ondas me levaram ao firmamento
Hoje lamento.
Não sonho mais,
Que de céu, mar e vento
Sobrou o tormento
De uma areia escoando sonhos
No ar.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

CARNAVAL

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Livros e flores


Machado de Assis
Teus olhos são meus livros.
Que livro há aí melhor,
Em que melhor se leia
A página do amor?

Flores me são teus lábios.
Onde há mais bela flor, 
Em que melhor se beba
O bálsamo do amor?

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Queria endurecer o coração, eliminar o passado, fazer com ele o que faço quando emendo um período — riscar, engrossar os riscos e transformá-los em borrões, suprimir todas as letras, não deixar vestígio de idéias obliteradas.
Graciliano Ramos

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016


Uma flor se abriu:
Vida rasga a crescer do nada.
Vida sob pedra,
por um quinhão de eternidade.

VARIAÇÕES EM TORNO DE UMA FLOR E O OLHAR DO POETA
            Quero crer que tudo na vida tem um propósito, mesmo aquilo que não é perceptível aos olhos ou à razão. E a falta de sentido pode ser, ela mesma, o sentido de uma coisa sem sentido.
            Se eu pudesse absorver as razões e intenções de tudo que existe, teria uma percepção bem aguçada da vida e estaria no patamar dos chamados eruditos. No entanto, estaria sendo um sábio, entendendo como sábio aquele que sabe tirar proveito da vida?
            Acredito que não. Veja você: o mundo natural, o das ciências e das relações humanas todos eles apresentam milhares, milhões de propósitos, de sentidos a serem desvendados. O erudito é capaz de dissertar sobre muitos, mas o sábio, quando solicitado a emitir sua opinião, pouco terá a dizer.
            Vivemos num mundo onde frequentemente somos cobrados. A toda hora, querem saber nosso posicionamento sobre questões de política, de religião, de tecnologia e de tantas coisas mais. Se eu quiser ter opinião a respeito de tudo, a minha ideia será pequena e fragmentada. Em resumo, como estou correndo atrás de tudo, acabo não sabendo de nada.
            Sábio não é bem aquele que nada sabe, sabendo disso. Sábio é aquele que enxerga a vida sob determinada perspectiva, não em busca de um conhecimento especializado, mas de um saber que seja sabor, que dá prazer, alegria, encantamento.
            Existem diferentes formas de sabedoria. Existe sábio que se encanta com a simplicidade, com as coisas simples, com as manifestações simples. Existe sábio que cuida da beleza; a beleza de uma paisagem, do sorriso de uma criança, de um olhar, de uma flor, do som de uma música ou de uma palavra, a beleza de um silêncio, de um pôr do sol.
            Cada sábio, à sua maneira, procurar pelo saber/sabor da vida. Como sábio, não é uma pessoa egoísta, está disponível, embora nem sempre seja possível compartilhar suas descobertas.
            A poesia é uma das formas de saber/sabor que permite um certo compartilhamento. Aliás, a angústia do poeta é justamente essa busca do compartilhar, muitas vezes sem respostas. Além das limitações linguísticas, ele encontra falta de compreensão e de sensibilidade.
            Um exemplo dessa sabedoria do poeta pode ser encontrado na imagem de uma semente que brota e se transforma em flor. Ela está numa calçada, junto ao asfalto; fica ali se oferecendo para as pessoas que passam, quase todas apressadas e desatentas. Até o dia ou momento em que é percebida pelos olhos de um poeta. Do encontro, brotam estas palavras:
Uma flor se abriu:
Vida rasga a crescer do nada.
Vida sob pedra,
por um quinhão de eternidade.
            Outro poeta, ao ler tal encantamento, acrescenta:
No concreto a vida não se finda...
procura luz onde a sombra imperava.
Explode sol onde a semente ingênua se infiltrara.
            Finalmente, um terceiro, movido mais pela sensibilidade do que pela arte poética, chega a dizer:
A semente que se abre em flor
procura os olhos do poeta
para contar-lhe a beleza.
E o sol explode em alegria
na celebração da vida.

Etelvaldo Vieira de Melo

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

ALÉM DO TEMPO


Vinícius de Moraes

Esse amor sem fim, onde andará?
Que eu busco tanto e nunca está
E não me sai do pensamento
Sempre, sempre longe

Esse amor tão lindo que se esconde
Nos confins do não sei onde
Vive em mim além do tempo
Longe, longe, onde?

Por que não me surges nessa hora
Como um sol
Como o sol no mar
Quando vem a aurora

Esse amor que o amor me prometeu
E que até hoje não me deu
Por que não está ao lado meu?

Esse amor sem fim, onde andará?
Esse amor, meu amor,
Onde andará?