sábado, 18 de julho de 2015

O mundo que me cabe

Ita Portugal

Eu carrego o mundo onde não cabe nos meus sonhos. Carrego as doçuras, mas também as indecisões. Carrego alegrias que se misturam com as dores. E é disso que minha vida é feita, de tudo e mais um pouco e eu me esbaldo nestas coisas e fico tecendo uma colcha que me defina.
Tenho uma alma criança e vou continuar assim. Gosto de abraços apertados, sentir a alegria por completo, inventar o mundo, reinventar amores, misturar os sonhos em realidade.
Gosto de tudo ao meu modo e assim reinvento e costuro todos os meus pensamentos. O simples me fascina, o difícil me aborrece. Para mim o mundo é enorme e não entendo como as coisas envelhecem e o planeta gira e o amor daqui é igual em todo lugar. Bom, entender eu até entendo, mas algumas coisas eu acho complicadas demais, por exemplo: como pode o mar ser tão grande, o mundo ser colorido e o sol aparecer justamente quando a lua vai embora?
Quem inventou a saudade? Como se faz para tocar a alma? Tem coisas que para mim precisam ter explicações, mas também se não tiverem vou continuar tentando entender. Tenho um coração maior do que eu, maior que meus sonhos. Parece que ele mesmo nem cabe em mim. Nunca sei a altura de minha risada quando estou feliz nem o tamanho de meus sonhos. E por falar em sonhos, sonhos pra mim é aquilo que vou realizar quando eu rabiscar meus desejos no papel e eles saírem correndo direto para meu coração. E olha que tenho muitos sonhos que rabisco, leio, releio, prego na parede para eu olhar todos os dias e lembrar que ali estão os meus desejos mais secretos.
Ita Portugal

terça-feira, 14 de julho de 2015

Anseio
Adalgisa Nery
Quero que desça sobre mim a grande sombra que alivia,
Aquela que arranca do meu coração a revolta que me impede de ser mansa.
Quero descansar...
Quero encontrar aquele que é mais belo que o sol,
Que aumenta o meu sofrimento e que ajuda na minha redenção,
Que reparte suas angústias comigo para que lhe sirva de auxílio.
Quero ouvir a sua voz que é como a música dos mares,
Quero acolher-me na sua sombra e abraçar-me aos seus joelhos...
Quero descansar sem demora...
Quero chegar o tempo da minha última lágrima
ser recolhida dos meus olhos pisados e saudosos
Por aquele que é o molde dos poetas, o que se veste com as estrelas que meus olhos
ainda não vêem. 

Poesia-me

De braço quebrado, recebendo os amigos consumidores e escreventes/poesia.









domingo, 5 de julho de 2015

ZOGAFIA


Sebastião Aimone Braga
Zogafia era a palavra mágica
que minha mãe sonolenta
repetia fim do dia final da reza
- O que é zogafia, mãe?
- Meu filho, desconheço essa palavra
Onde foi que ouviu isso?
- A senhora mesmo mãe
ontem à noite no terço
antes de todos irem pra cama
- Menino você confunde tudo
ou fica inventando essas coisas
só pra atentar sua mãe coitada
Lembra outro dia a sobrinha na leitura
rezando por Jesus atacado da coluna
quando Jesus estava atado à coluna?
Até hoje zogafia ecoa na minha vida
Seria a palavra de minha invenção
ou meu coração já denunciava
esse estranho amor pela palavra?