quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

uso a palavra para...



Manoel de Barros
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Não Direi...




José Saramago

Não direi :
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

tenho aprendido...


A alma é sábia:
enquanto achamos que só existe dor,
ela trabalha, em silêncio,
para tecer o momento novo.
E ele chega.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

tomara!




João Guimarães Rosa


Quando nada acontece,
há um milagre que não estamos vendo.


Rezar muito. E ter fé.
Porque as coisas estão todas amarradinhas em Deus




Felicidade se acha é em horinhas de descuido
Guimarães Rosa
O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem..





domingo, 3 de fevereiro de 2013

poesia


a poesia me alaga
transborda
e se derrama...
e me alaga...
por que será que sigo assim?