segunda-feira, 10 de agosto de 2015


E eu, de novo, tentando fazer em versos
os pedaços dispersos
que apreendo de quem é você,
cuja beleza,
poesia viva,
quero tornar letra, subjetiva,
mas a arapuca da palavra, sem escolha,
sabota meu projeto
tão logo toco a tinta na folha
e tudo que era você por completo,
e me dominava ainda agorinha,
acaba emoção de esteta,
e mais,
enquanto o texto por si, caminha,
nada perto do que era antes,
eu, apaixonado pelos termos,
melodia das vogais,
pelo ritmo das consoantes,
mergulho no inebriante precipício que só vemos
no exercício da criação da arte.

E esse novo fracasso,
o presente poema que faço
e as delícias de compô-lo,
muito mais que consolo,
proporciona o mesmo nível epifânico de deleite
que tenho ao ver seu rosto, corpo inteiro,
ouvir o canto, sentir seu cheiro.

Nem espero que entenda, tampouco que aceite,
mas saiba que ainda mais lhe devo
na contabilidade dos prazeres que me desperta!
Agora, além de sua realidade concreta,
o gozo de contemplar seu relevo,
soma-se a transcendência a que me elevo,
quando aqui me faço poeta!

*    *    *
Adriano Dias

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

utopia só na poesia

Fátima Fonseca
utopia só na poesia

ela percorria caminhos sinuosos
deitados nas sombras da memória

fantasiava seus sonhos e não sabia

da ponta do lápis de bochechas rosadas
apareceu o palhaço distraído.
era a vontade ingenua de ser feliz
mas o que aprendeu na travessia
foi a complexidade de um deserto

a vida chama-se agora

ela afastou daquela margem
queimando lembranças
virando páginas
fechando gavetas
acordando palavras

submergindo na  poesia.