quinta-feira, 29 de junho de 2023

segunda-feira, 19 de junho de 2023

Flor de maracujá


Já fui  flor
Caçadora de primavera
aquarela de arco-iris
bela, grávida de eternidade
vagando no mundo
interrogativa, indefinida
ao seu  destino
de um maracujá enrugado
mas se a navalha da palavra 
me atravessa
transbordo as taças
um reverdecer líquido
onde escorrem pelos trilhos
os
poemas amadurecidos pelo tempo

                     Fatima Fonseca

segunda-feira, 5 de junho de 2023

Página de um diário


Perguntei para minha amiga anfitriã:
Com qual roupa eu vou?
Vá com a mesma  que você usou ontem. Ficou ótima em você.
A mesma roupa?
Mas o que vão dizer as pessoas?
Minha amiga deu uma gargalhada e respondeu: acorda mulher! Você está numa capital. Aqui ninguém quer saber de ninguém.
Da roça para a cidadezinha, eu nunca havia colocado os pés em outro lugar. Acabara de experimentar pela primeira vez o prazer em ser anônima.
Naquele momento tomei uma decisão. É aqui que eu quero morar. Pois carregava um fardo pesado por ser famosa. Isso mesmo: famosa.  Pobre, invisível  e famosa. Lá no interior você já nascia famoso. Todos eram famosos.Todos se conheciam. E existia aquela troca sutil de competição e desafeto, as vezes um trágico trocar de asas por pedras.
Bom mesmo só os biscoitos riscados de carvao forno de barro  feitos pela minha avó. Tinha um ingrediente  só dela: amor
Querido diário, hoje pedi minha tia para me enviar um cheirinho de alecrim e fui escrever porque  bateu uma saudade danada do canteiro da casa velha  lá do interior. Porém uma certa estupidez desavisada atravessou  minha memória para  expor a lua de uma certa amargura.
afetos e desafetos
mas você sabe, sou inclinada para o amor. Tenho todas as sílabas. Escrevo a palavra: MILAGRE