terça-feira, 26 de março de 2024

Escrevo,

 

"Escrever é uma luta contínua com a palavra. Um combate que tem algo de aliança secreta” Julio Cortázar

domingo, 24 de março de 2024

Outono


 Eu, 


Tu,


Eles,


Nos, somos uma folhinha em queda livre. Tudo despreende. Insinua o outono.

sexta-feira, 22 de março de 2024

 Escrevo,

 "O fato central da minha vida foi a existência das palavras e a possibilidade de tecê-las em poesia." Jorge Luis Borges

quinta-feira, 21 de março de 2024

 Escrevo,

 “Meu jeito preferido de prece. Minha maneira predileta de levar o coração pra pegar sol." Ana Jácomo

 "Que em cada canto, haja um encanto, uma ternura, uma delicadeza e um Anjo bom."


Ariano Suassuna


sábado, 16 de março de 2024

 Escrevo,

"Porque tu sabes que é de poesia minha vida secreta…" – Hilda Hilst

sexta-feira, 8 de março de 2024

Nasci mulher


é arriscado e perigoso 

ser fêmea 

diziam  meus pais 

por isso queriam um filho homem

Irremediável nasci mulher

uma dor

cresci no cerrado 

entre gravetos e serpentes 

aprendi a fala da seca 

a dureza da escassez  

poderia ser torrão 

escolhi seguir poetas. 

Fatima Fonseca

segunda-feira, 4 de março de 2024

Textos de oficina

  Lê me - disse ela

a borboleta 

pousada levemente sobre a pedra


Limitado,

quadrado é um sujeito

que é todos nós 


com seus  hiatos, traços e rastros

em cada vão 

resquícios de loucura

sopros de ternura


um poema ergue 

nas farpas do limite

sem se ferir


*

triângulo


Numa ponta, eu

noutra ponta você

noutra ponta ilusão


Fantasia craquelando...

Meu Deus, 

de onde vem esse morrer 



-Ele retornou ofegante. Ela já havia virado a esquina.



-Arrumou as malas em silencio. Saiu nas pontas dos pés. Bateu a porta com força para registrar o adeus.


-Encarou o chefe e disse: fica aí jararaca! Na bolsa a sonhada  aposentadoria.


-Não aconteceu. Ainda assim, ela suspirava uma esperança que ensolarava o coração.


-Lá na cidadezinha todos se conheciam. 

A mulher do prefeito gerenciava projetos sociais em parceria com a igreja local. Elegante, simpática, mas os moradores a olhavam com um certo  "ar" de piedade. Todos sabiam que seu marido além de fama de sedutor, tinha uma amante num distrito próximo. Um dia a cidade acordou em alvoroço com a notícia de que o padre havia fechado a paróquia e fugido com primeira dama. Uma história de amor de longas datas comentavam os mais próximos.

Eu sou a menina do cerrado com sua cesta de sonhos e porque vestia chita com flores graúdas era perseguida por borboletas.

Hoje a menina espia essa mulher e  murmura:

O que fizeste ela com seus sonhos? E por que essas cruas reticências na palavra silêncio? 


I

Os sonhos têm idades 

e existem perguntas 

que nem o eco  responde,  

todos os dias mudo 

e sou outra pessoa

nao sei para onde estou indo 

nem tenho intinerario 

estou me tornando 

fluente em silencio 

nao que eu queira 

aliás quando dei por conta  

tudo já  inclinava 

para dentro.


II

A menina vestida de chita  

levava em sua cesta sonhos 

queria tocar o horizonte, 

mas quando chegava no topo 

avistava outro horizonte

ali  ela decidiu escrever 

um poema turquesa  

e foi assim que  ficou

afogada no verde e azul

com gosto de colinas na boca 

com os olhos nuveados, 

brumados, quase verbo.

tem remédio

 Escrevo para mim e para  os "comigos de mim" 


A infância na roça foi sem livros, revistas, jornais... mas a menina observava  que ali todos liam. Liam muito: a lua, o sol, plantações... eles tinham conexão com a natureza e sabiam interpretar os avisos dos animais. Quando estavam angustiados levantavam as mãos para cima e com palavras escreviam nos céus: "Êta mundão de Deus, de infinitos milagres" segui caminhos a fora  escrevendo, recolhendo no mais fundo de mim, sentidos. Caminhos esses  que vem me escrevendo e entornandor um certo doer.

FF



Nó 


numa ponta a realidade

na outra ponta o devaneio 


E porque a realidade 

tem mãos  de ferro, 

dentes de leão, 

e anda  nua e crua aos pés da cova, 


ela sempre deu um jeito 

de flertar com as estrelas, 

de desaparecer com as nuvens,  

de conversar com os queridos 

que já partiram. 

Ninguém entende sua lucidez 

e dizem que é delirio


Cartas de amor 


necessário ou ridículo 

a verdade é  que ela escrevia

cartas e cartas de amor 

calçava o caminho com versos 

ladrilhados de desatino e  ternura 

havia perdido a discrição 

transbordava...

sabes  por que?

apaixonou - se!

Depois tudo foi desacontecendo:

o caminho, o desassossego , o tempo

ela, as cartas e o  amir.


páágina de um diário 


Perguntei para minha amiga anfitriã:

Com qual roupa eu vou? 

Vá com a mesma  que você usou ontem. Ficou ótima em você. 

A mesma roupa? 

Mas o que vão dizer as pessoas?

Minha amiga deu uma gargalhada e respondeu: acorda mulher! Você está numa capital. Aqui ninguém quer saber de ninguém. 

Da roça para a cidadezinha, eu nunca havia colocado os pés em outro lugar. Acabara de experimentar pela primeira vez o prazer em ser anônima.

Naquele momento tomei uma decisão. É aqui que eu quero morar. Pois carregava um fardo pesado por ser famosa. Isso mesmo: famosa.  Pobre, invisível  e famosa. Lá no interior você já nascia famoso. Todos eram famosos.Todos se conheciam. E existia aquela troca sutil de competição e desafeto, as vezes um trágico trocar de asas por pedras. 

Bom mesmo só os biscoitos riscados de carvao forno de barro  feitos pela minha avó. Tinha um ingrediente  só dela: amor

Querido diário, hoje pedi minha tia para me enviar um cheirinho de alecrim e fui escrever porque  bateu uma saudade danada do canteiro da casa velha  lá do interior. Porém uma certa estupidez desavisada atravessou  minha memória para  expor a lua de uma certa amargura.

afetos e desafetos 

mas você sabe, sou inclinada para o amor. Tenho todas as sílabas. Escrevo a palavra: MILAGRE

ff

[3/3 19:46] Sebastião/oficinaliteraia: Flor de maracujá 


Já fui  flor 

Caçadora de primavera

aquarela de arco-iris

bela, grávida de eternidade

vagando no mundo

interrogativa, indefinida

ao seu  destino 

de um maracujá enrugado 

mas se a navalha da palavra  

me atravessa 

transbordo as taças 

um reverdecer líquido 

onde escorrem pelos trilhos 

os 

poemas amadurecidos pelo  tempo



Enfeitei um lampião com picadinho de estrelas

amassei palavras ternura na geleia

desenhei meia lua na espuma do café 

te convidei a beber do meu poema

você demorou

a fogueira apagou

tudo esfriou  

eu entardeci

sinto muito, passou  


(O poema)


O poema me disse : "Escreva-me"...

"Escreva-me enquanto luz no farol do mundo,

enquanto água vertendo para a boca do céu dos homens...

Escreva-me naturalmente, como se não me saibas o quanto eu perduro, amargo, esperando a hora de existir...

(LFernando Souza/ amigo do Twitter)

[3/3 19:49] Sebastião/oficinaliteraia: Isso é parte da beleza de toda a literatura. Você descobre que seus desejos são desejos universais, que você não está só e isolado de todo o mundo. Você pertence.


-: Hoje abri o caderno

página vazia, branca 

me refletia

sem rosto, sem palavras. 


Mas ainda hei de escrever 

para você um poema 

com violetas na janela  

no jardim um pé de algodão  

rosas carmim

ff



Enigmático 


Havia naquele agosto um vento

que respiravas dentes de leão 

um assopro sedento por asas 


estremecida na tímida leveza 

ela era imperfeita 

mas 

quando despertou já voava

eterno torna-se

sempre viva

começavas outro amanhã.

ff

Texto 9

Nem te conto os micos 


Hoje eu li a seguinte manchete:

"Avenida do Contorno: História, Mapa, Câmeras, Trânsito ..."

Abri para ler e pensei comigo: eu também tenho uma história com essa avenida. Em 1980 desembarquei em BH com o propósito de estudar e trabalhar.

Foi um impacto muito grande pois eu estava acostumada que os endereços eram todos logo alí. Naquela época havia pouco tempo que passou a circular ônibus de lotação em minha cidade e eu nunca havia entrado em um.

Eu caminhava pelo centro de BH com uma caderneta nas mãos anotado o endereço para um emprego dos classificados de jornal. Avistei um militar na praça sete e perguntei: onde fica a Av do contorno? Ele me olhou com ar de piedade e disse: Ah ... essa avenida é enorme ela contorna toda a cidade. 

Conclusão: eu tinha que pegar um  ônibus para ir ao endereço, fiquei muito assustada com extensão da avenida. Quando escrevi carta para minha família comentei: Não me peçam favores para eu resolver porque aqui as ruas são imensas e eu não tenho tempo e   sem falar que eu sentia mal estar, enjoou dentro de  ônibus. Logo que cheguei na capital  causei  uma fila de passageiros dentro de um dos onibus, pois paguei a passagem e fiquei esperando o trocador rodar a roleta e nada  dele rodar a bendita roleta. Foi um fuzuê. Eu não sabia que era a gente quem empurrava a roleta  com  o corpo.

Ô céus!

ff



 Texto 16


Vou me embora pra cidade grande 


Lá no cerrado onde ela vivia 

a vida era um poema 

bebia leite de estrela, a vaquinha

mimada do avô.  

era namorada de João de Barro e rival de Joaninha, amiga do sapo que antes de beijá lo era príncipe.

A vida era mesmo divertida: 

loucos regidos pelas faces da lua.

engarrafamento de andorinhas.

balanços nos galhos retorcidos 

E outras luxúrias...

Lá ela era verso de folha "Maria fecha a porta", mas ela vivia dizendo que ia embora para a cidade grande. Queria ser alérgica, viver na correria e sair do marasmo.

Um dia fez sua trouxinha em silencio 

e foi-se... 

Agora tem muitas histórias para contar.

ff

 Texo 10


O amor


Ah nao quero falar de amores

não quero falar dos desertos

que inventei

que atravessei 

entardeceu... 


não tenho mais tempo 


agora só quero caminhos férteis

para namorar

meu desejo de florir.

ff

: Texto 16



Sim, é com você que eu falo 


Quando crescer...

Ser

Quando aposentar

descansar

Quando mudar

inovar

Quando perfilar palavras

escrever

Ah,...  esse tempo de espera 


Mas já eram descaminhos do início 

e ela ainda hesitava 

De repente...

Esperança  acenou

Sim,  é  com você que eu falo 

Não espere versar com perfeição. 

encontre me na poesia...

ff

Texto 13

outubro

Há no mês de outubro alguma coisa que encontrei. 

Talvez quem sabe  um regresso de mim

Há  também alguma coisa que perdi 

uma alegria  entre tristezas qualquer 


Nasci em outubro

fui me compondo nas sombras e nas luzes

Sou nascida desde o sonho das águas nas cavernas.

aguas que não contentam ser só água 

aguas que escorrem, pingam, perfuram, petrificam. 


Comigo nessa trilha estão as crianças, os professores, os funcionários públicos, os franciscanos as bruxas 

que eu sou

todos nasceram neste mês de outubro.

ff

: O dia amanhece.

O galo canta.

Eu não posso cantar de galo.

Nunca sei se vou amanhecer. 

ff

Texto 03

Paredes descascadas da casa velha 


Lá na casa velha ninguém estava preocupado com perfeição. As crianças podiam desenhar amarelinha no chão para jogar. Pintar, bordar sem ser repreendidos.

Com carvões a menina contornava rostos de pessoas imaginárias nas paredes descascadas. Um dia ouviu sua  avó dizer para seu avô: Essa menina tem umas esquisitices!  outro dia me perguntou quem passa bombril nas estrelas. E olha só essa parede,  são pessoas com quem ela fala. Sei não! Essa menina precisa ser estudada.

ff

: Alongamento

Texto 09


Em memória a minha querida tia, costureira.


No morrer de cada dia 

ela virava as páginas dos jornais, 

lia as manchetes, 

alguma palavra bonita, 

às vezes alguma poesia.  

Transformava tudo em moldes 

que recortavam tecidos 

que vestiam corpos 

que embelezavam sonhos. 

Um dia ela vestiu de branco, 

disse que ia costurar nos céus 

Essa data ficou emoldurada 

numa lápide .

agora só saudades ...

ff

: "Todo escritor que admiro, traz algo perturbador, triste , uma dor que se joga em segundo plano.

Talvez seja isso que impulsiona a criação mais densa .

Escritores veem no escuro, como gatos.

E quem consegue vê-los rs atravessa a barreira da carne  , até ver o território do segredo"

: Palavra sinuosa

arco íris 

cores gazozas


Fachos  de luzes

sol nascente

desperta o louva-a-deus


 Dobrando a esquina


Ela não entendia de fel

não falava a língua de pedras

não sabia manusear cortantes

Deu as mãos a poesia 

e

dobrou a esquina.

Foi tocar o azul dos céu

[3/3 20:17] Sebastião/oficinaliteraia: Mulher...na cabeça um pote de mágoas 

nas mãos  poesia algemada, 

segue caminhando, anônima. 



Um sino dobra em mim,  Ave-Marias! 

Fico pensativa, olhando o vago...

Eu queria ser a pedra que não pensa, 

a charneca Florbela que não espanca.


folheio o livro das ignoranças: 

Afinal tenho uma dor de concha extraviada,  uma dor de pedaços que não voltam. 

Eu sou muitas pessoas destroçados, 

meu olhar tem odor de extinção, 

tenho abandonos por dentro e por fora.

Penso me renovar usando borboleta...

essa que sinto voltejar em mim. 

Nesse virar de paginas com Manoel de Barros.

                                     




 

sábado, 2 de março de 2024