domingo, 30 de setembro de 2018

De repente ...

                         Fatima Fonseca


Ela naufragava
desfaziam os alinhavos
com medo de desintegrar
abraçou o espelho e...
avistou no fundo de seus olhos
um barco chegando de mansinho
ancorando....

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Da felicidade

Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!
Mário Quintana
Mas o que quer dizer este poema? - perguntou-me alarmada a boa senhora.
E o que quer dizer uma nuvem? - respondi triunfante.
Uma nuvem - disse ela - umas vezes quer dizer chuva, outras vezes bom tempo...
Mário Quintana

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Paixão

                             Fatima Fonseca
Nos braços do vento
sua fantasia
uma rosa uma rosa uma rosa
nesse breve voo de liberdade
rosa despetala
cala a paixão
versos fragmentados
escrevem ilusão no chão.



segunda-feira, 24 de setembro de 2018

                                       Fátima Fonseca

Enquanto houver político
com discurso  dissimulado
e jacaré vendendo sapatos
hei de rabiscar poemas.

quinta-feira, 20 de setembro de 2018


                                   Fátima Fonseca
Entre o céu e a terra
nas curvas do azul
nas retas pontilhadas
de chuva, vento e sol
Sou pássaros palavras
no sentido de voar sem asas

quarta-feira, 19 de setembro de 2018


                                                                     Fátima Fonseca
"Sei que às vezes uso palavras repetidas mas quais são as palavras que nunca são ditas?"
Uma rosa, uma rosa, uma rosa
Repetitivo o roseiral.

domingo, 16 de setembro de 2018

                                   Fátima Fonseca

Se esperança é ter algo a esperar
até o último suspiro
quero construir
sob os meus enganos cometidos
porque tornar-se
creio, vai além dos meus propósitos.

Último verso

                              Fátima Fonseca

Quando eu estiver com as mãos cansadas 
sentindo o peso da idade
Que meu último verso
seja apenas um traço
contido o silêncio da natureza.

Que entre eu e Deus
aprender continue sendo o milagre da vida.
E nesse virar de páginas
eu não perca a sensibilidade
mesmo que seja seda
nas pontas dos dedos.




aprendiz

                           Fátima Fonseca


Água- substantivo feminino 
de voz antiga 
a desaguar continuamente 
para dentro da mata 
deitando ramos 
garimpando barrancos 
escrevendo poemas... 

Sou rio acima 
no sentido piracema  
a produzir nas quebradas 
do verbo aprender. 

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

O bom do caminho é haver volta.
Para ida sem vinda
Basta o tempo.
                            Mia Couto

o amor é líquido

                 Fátima Fonseca

lago plácido e sereno?
não!
quase nunca.
às vezes procura as frestas e escorre
muda de curso e pega um desvio
transborda pelas margens
ou derrete-se pelo sol
ah...! o amor é líquido
sempre chegando, derramando
ou dando um adeus do nada
que seja!
amargura?
quero não!

Poente

                                        Fátima Fonseca

Ainda desce em mim
o poente do cerrado
norte das minas Gerais.

E como doía o entardecer, meu Deus!
Tudo partia para algum canto.
Tudo se  curvava para vestir a existência torta de ser
e as tardes deitavam-se caladas, profundas...

Um retorno sem saber para onde
do amanhecer incerto
das buscas em vão
da vaidade audaz que brota nesse deserto.

Um pássaro risca o céu rubro.

Ó condor, talvez eu seja o ninho que procuras.

terça-feira, 11 de setembro de 2018

aniversário






Hoje na oficina literária: Aniversário  do poeta Ronald Claver

" há sempre uma pitada de poesia  em cada dedo de prosa"

"fake news"

                                      Fátima Fonseca
Acabei de ler nos portais de notícias
que copos de leite transbordam nos quintais, varandas e praças
que amora doou sangue de todos os fatores aos bancos de sangue
não é "fake news" é fatia de poesia para aliviar o desalento.

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

«Se alguma vez, nos salões de um palácio, sobre a erva de uma vala ou na solidão morna do vosso quarto, acordardes de uma embriaguez evanescente ou desaparecida, perguntai ao vento, à vaga, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai-lhes que horas são; e o vento a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio, vos responderão: São horas de vos embriagardes! Para não serdes escravos martirizados do tempo, embriagai-vos; embriagai-vos sem cessar! Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha. Mas embriagai-vos! Deslumbrai-vos!»
                                                                           Charles  Baudelaire                                                
é doce morrer na praia,
depois que o mar espanca.
                                           Eveline Sin
mapeei essa saudade
e deu sua geografia
                                 Eveline Sin

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

grito de liberdade

                                          Fátima Fonseca
já nascemos amarrados a morte.
ainda inventamos tantas outras amarras!?

tenho um grito preso no brejo do poema

em qual dobra na garganta
está acorrentado o seu grito de liberdade?

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Van Gogh  disse uma coisa linda:
"O melhor meio de amar a vida é amar muitas coisas"

terça-feira, 4 de setembro de 2018

                             Fátima Fonseca
hoje vesti a palavra coragem
com uma roupa velha
rasgada de medo.
contudo, ela não ficou nua.

domingo, 2 de setembro de 2018

Ainda sobre o Cerrado

                                  

                              Fátima Fonseca
Cavo no cupinzeiro
Um poema 
Uma estrela
Um cacto
Uma noite
E nem uma gota d'água 
O cerrado que me corta tem sede
Olhar para trás me excessiva de sonhos
que se faziam com outro barro.


minha rua


                                                Fátima Fonseca

Flores amarelas arrastam esperança sobre a concertina
Aviso rolando no chão:
Cuidado!  Pedra portuguesa desgarrada
O lixo ajoelhado me reconhece
Uma árvore suprimida
e uma plaquinha ao lado
 “dono educado, cão educado”

“mundo vasto mundo” e as moradias se amontoam
umas sobre as outras.  

E aquela mulher na esquina com lápis e papel?
Nada tecnológica. O que escreve?  Vai saber...
Por aqui na minha rua
passam ventos para derrubar folhas

Bem no olho da rua
um mosquitinho flutuante
só de  passagem
eu, vizinhos e você.