domingo, 31 de janeiro de 2021

 Querido diário,

No meu caminho solitário, ainda não vi os rastros de um ano novo. O sol ainda não ascendeu para todos, ninguém fala de sedas nem do brilho das purpurinas.  Uma espera atravessada. Há meses, dias e horas que aguardo 2021 para me falar de lucidez.

Fátima Fonseca

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Um amor que so vingou dentro de mim


Como defesa enterrei
aquele amor com palavras
num cemitério particular dentro de mim
décadas depois 
fico sabendo que ele morreu de verdade 
Agora esse poema inacabado 
estrofes craqueladas 
não quer ser cremado.
Contudo, não consigo deter essa  lágrima 
que mereja meus olhos de cumplicidade
  
                   Fátima Fonseca

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Do interior p capital mineira


 Havia um anseio de sumir

Plantar  jacintos 
noutros caminhos

Embarquei num trem de ferro 
como se estivesse me arrancando de mim 
fui deixando para trás 
todas as dobras, pontos correntes ...
e nua, 
quase nua com uma malinha bege nas  mãos.

Hoje ja não tenho estrada  
a convidar me repentina
embora às vezes 
escapole um verso coragem  
que esbarra na vírgula de um certo doer.

No que fui
No que sou
Sigo caminho afora 
esculpida pelo verbo resistir
conjugando, escrevendo, gerundiando...

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

 Minas em Vila Rica. Kleber Auad. Janeiro de 2022.


Há em Minas um calabouço que arrepia, um rio negro que escorre ouro,

Há um silêncio aflito, quando os lombos se cobrem de açoites pesados e frios;


Há um pavor entalado na garganta, 

E suspiros noite adentro,

Há  traição na cinzenta madrugada, isto não é poesia; 


Há um martírio enquanto escrevo essas letras, há na Vila  angustia e solidão, 

Há uma foice na caserna,

O canto das armas;


Há uma flor à espera de seu amor,(#)

Um risco assumido e vivido,

E há um vazio que ainda não foi preenchido. 


(#) Muitos inconfidentes foram deportados para colônias portuguesas, e suas amadas aguardavam suas voltas. O que de fato não aconteceu.

 Eterno estar-à-janela. Kleber Auad. 

Janeiro de 2021


Este eterno estar-à-janela não foi minha escolha, mas uma imposição alheia. 

Vivo a pensar se sou raso, ou se sou fundo;


Se sou vírgula, ou se sou ponto-e-virgula, se sou adjetivo ou se sou adverbio.  Suado, choro sobre meus versos. 


Um tédio inquieto faz-me pensar: quantos fui e quantos sou hoje? Olha como vai escurecendo. 


Tenho sonhado muito nas vagas sombras de luz, recolho-me sonâmbulo antes que a lua adormeça. 


Quisera eu construir uma ponte, erguendo-me num nirvana próprio, e como os gatos guiar-me, espontaneamente, em busca de sol e de imaginações.

Kleber Auad