domingo, 21 de março de 2021

Outono

 Eu, 

Tu,

Eles,

Nos, somos uma folhinha em queda livre. Insinua o outono.

                    Fátima Fonseca

sábado, 13 de março de 2021

Solitude

 

                                      Kathia Pimentel

Desfaço-me de todas as necessidades

Para manter-me, no mínimo, ao longe 

Das febris exigências de um tempo inglório  

Quero voar acima de todo incômodo

Fugir das palavras vãs e mórbidas

Soadas em estridentes falsetes

A invadir tímpanos e sonhos

Desfaço-me de toda urgência

Que a tantos falta o imprescindível

Nem um sonho para tornar verdade

Embriago-me nos agudos das alcateias

A enfrentar tempos desconhecidos 

Esqueço-me no cuidar das plantas

No brilho óbvio das noites enluaradas

Até que nasça a trêmula palavra 

Que reconheça a solitude 

Do que tenho para viver hoje.

terça-feira, 9 de março de 2021

 Lá fora barulho.

Um sobe e desce.

Eu,

aqui na minha janela

rezando bem baixinho

é para não espantar 

os passarinhos.

Fátima Fonseca

sexta-feira, 5 de março de 2021

 O branco desmaiando nas folhas verdes

"comigo ninguém pode" 

era a única arma daquela gente. Ff

 Ontem peguei na estante um livro para reler

numa página um "T" rendado

traça que come poesia. Ff

 Estranhável, pode ser essa fruta fora de época - sem sabor da estação 

Estranhável, aquele q está a frente de seu tempo - visão vasta

Estranhável, aquele q carrega as horas paradas 

atrás de seu tempo - alienado

Poesia: sou eu querendo entender onde estou no tempo.

Ff

 Peguei um jeito de nuvem, poeta

tenho andado mais leve.

Na minha bagagem apenas uma gota d'água 

e silêncio viciados em leveza

desimportancias q descobri. ff

 tempo seco

recomenda: vestir palavras leves

                         tomar poesia líquida

                          evitar verbos indigestos.

FF

 Há qualquer coisa de delicadeza

com voz de  poesia

que

adentra setembro

FF

 Ela não entendia de fel

não falava a língua de pedras

não sabia manusear cortantes

Deu as mãos a poesia 

e

dobrou a esquina.

Foi tocar o azul dos céus.

FF

 Tenho padecido de ¨noticias¨

como as flores nas margens das rodovias

empoeiradas

               sedentas

                         espantadas

                                       que amargura!

FF

 Todos aquelas pessoas tinham o coração do lado esquerdo do peito

só eu tinha o coração na boca

todos tinham os pés no chão

só eu que levitava e tocava os céus

A menina queria crescer para ser normal

de nada adiantou

Antes ela era imortal

Hoje morre todos os dias

FF

 Adentro o poema para partir

outras vezes para regressar

            antes que o motor do verbo rompa

            e   eu perco o trem da vida

                                            corro e escrevo

FF

 Releio o livro das ingnorãnças/ MBarros


"Tenho uma dor de concha extraviada.

Uma dor de pedaços q não voltam.

Eu sou muitas pessoas destroçadas.

Meu olhar tem odor de extinção

Tenho abandonos por dentro e por fora. Penso me renovar usando borboletas"

quinta-feira, 4 de março de 2021

 Não sou negra

nem branca

sou amarela


descendência indígena

pintada de sol


cultivo no quintal dos meus olhos

uma roça de girassol

como quem sonha escrever

com os pinceis de Van Gogh. https://t.co/QKi95MJSEf

 página dobrada 

         frases sublinhadas

             “viver não dói. O que dói é a vida que não se vive” FF

 fiquei antiga

sou aprendiz dos quadros de giz

tempo do disco arranhado

cartas escritas com  esmero: nome da cidade, data, vocativo, inicio, meio 

e

fim 

FF

 voz de água doce

é o que eu queria para ouvir

quando abrisse uma janela

janela de um quarto

janela de um verso

onde finda o poemundo FF

 às vezes tudo que a gente precisa

é de um olhar  que não olha

ser indiferente

se agrada ou desagrada

 

adentrar o poema

sem dobras e laços 

e

ganhar liberdade

feito uma  palavra

solta por aí.

FF

 Então é natal?

               Ano novo também?

quero um poema

poema sem algemas

despido de datas

que não peça nada

apenas justiça.

FF

 Ela encontrava c suas personagens 

na geometria das paredes descascadas 

entendia, intrometia 

nas conversas das formigas em carreirinhas 


Ah..., meu Deus! 

essa menina é cheia de nove horas 

 

ninguém levava a sério 

nem compreendia

q ela lavava a alma 

e

aprendia ternura

FF

 Às vezes é preciso coragem para abraçar o destino e florir onde foi plantado.

FF

 a orquídea pedala nas cascas grossas do tronco

                                    tem lá suas inseguranças

e

num repente de loucura verga em flores p o abismo FF

 realidades ultrapassando ficção

histórias, fatos... que assombram 

nunca sabemos ao certo p onde caminha o homem

ficamos com os 

porquês

?

FF

 carrego um tanto 

de lembranças...

e não pensei 

que seria assim


doído


quase inteira

quase acertos

quase sempre

só metade

FF

 Nasci mulher 

no rasgo do meu choro 

uma dor 

é perigoso ser fêmea 

diziam  meus pais 

por isso queriam um filho 

cresci no cerrado 

entre gravetos e serpentes 

aprendi a fala da seca 

a dureza da escassez  

poderia ser torrão 

escolhi seguir poetas. FF

 não sou conhecedora das letras

sei apenas que faço da escrita

meu próprio 

divã. FF

 Cresci me equilibrando em pinguelas, abrindo porteiras. Extraviei-me por outras bandas. Já fui capitu de Assis. Angustia de Flor Bela Espanca. Enígma de Da Vinci. Amor de Vinicius e muito mais...FF

 Hoje tenho os pés rachados de florzinhas miúdas. Carrego na boca um cerrado de letras que não vingaram. Retorcida sou a insistência de não esmorecer. O calor me compõem. O desafio me incita. Quando menina sonhei... Ser valente igual a Maria Bonita.

FF

 esse tempo de espera...

tenho sede 

de liberdade 

de delicadezas 

enquanto isso fico com o silêncio do poema 

que já sonhou com eternidade

FF

 Lá na roça naquela época não existiam:  TV , jornais, muito menos internet, Google


Minha avó me disse: olha, até creio q deve ser bom mesmo esse tratamento aí q você faz, mas aq o nosso analista é o tempo. A gente dá tempo ao tempo. 

É o melhor remédio

FF

 adorava contos de fadas...

hoje escrevo poemas 

com os pés descalços

de uma Cinderela 

que nunca fui.

FF

 folhas amarelas, murchas

outras ressequidas...

ventos de agosto

caindo folhas...

porque renovar é preciso:

as vestes, o olhar, os valores 

o conhecimento, os conceitos...

FF

 Sob o reflexo  espelhado de uma divisória de vidro, a moça contornava com os labios seu batom. Do outro lado o rapaz entendeu q ela insinuava p ele. Por isso deu a volta  é passou a segui la.

Nem sempre é p nós o que vemos, e/ou ouvimos.

 essa vulnerabilidade 

em silêncio 

me define

um caco

de 

um mosaico 

nesse mundo animal.

FF

Há um escrever de liberdade

 florir por paixão

de enlouquecer por querer

vestir a alma de ilusão.



 esses pássaros 

inquietos entre folhas 

que cessam seu canto 

medrosos com minha aproximação me refletem 

me questionam  

quem sou eu

 verbos presos gradeados 

de 

imperfeiçao.

 Minha cartilha escolar 

c orelhas de burro 

me escrevia cartas de encorajar assinadas por Pedrico.


Escreva!

Escrever desacorrenta 

dizia meu porquinho favorito.


Obediente, inacabada segui escrevendo...

ora poemas ora pedras.

FF

 florzinhas com cheiro de onze horas  adentram  em mim p dizer que posso comer c os olhos.

é primavera! FF

 “Estou com um horrível gosto de sapo na boca”. Não fui eu quem disse. Foi a boneca Emília no Sítio do Picapau Amarelo.

FF

 Releio o livro das ingnorãnças/ MBarros


"Tenho uma dor de concha extraviada.

Uma dor de pedaços q não voltam.

Eu sou muitas pessoas destroçadas.

Meu olhar tem odor de extinção

Tenho abandonos por dentro e por fora. Penso me renovar usando borboletas"

FF

 entre o branco e o roxo

uma nasce outra morre

alegres e livres

estranho viver


vergo em ternura 


outro botão

eis a viagem

há de chegar

há de florir

             manacas

FF

 Maria, cresceu rápido 

sempre impaciente 

nunca soube esperar 

com seu jeito dado 

pula cerca 

extrapola muros 

às vezes vexatória, 

invasora, desavergonhada,

brancas, rosas, roxas, vermelhas... Maria-sem-vergonha 

essa plantinha linda 

resistente

FF

 dentre os irmãos, 

a menina era a mais obediente, calada, 

nao reclamava de nada 

mas 

carregava consigo 

um desejo  enorme de fugir confessava tudo ao diário 

escrever aliviava 

e a continha comportada 

no seu universo. 

cresceu  e seguiu a vida  equilibrando nas palavras

FF

 Abandonei 

os acessórios, os saltos altos...

hoje minha vaidade tem um modo novo de vestir.

FF

 Nesses tempos de tanta exposição    e julgamentos infundados 

É um privilégio ser anônimo.

Só me exponho para as letras, ainda assim, codificadas.

FF

 chegou sacudindo a poeira 

lavando as vestes 

desalinhando os cabelos 

a chuva 

escreve com água as súplicas 

dos louva-a-Deus 


surge um medo acuado 

em tom esverdeado 

e escreve 

esperança.

FF

 chegou sacudindo a poeira 

lavando as vestes 

desalinhando os cabelos 

a chuva 

escreve com água as súplicas 

dos louva-a-Deus 


surge um medo acuado 

em tom esverdeado 

e escreve 

esperança.

FF

 Bruxa, eu?

Talvez quem carrega o saquinho de maldade tem pele aveludada, voz  doce ou nem mostra a cara

FF

 novembro beija o sol nas montanhas 

e eis que surge um

Belo Horizonte

FF

 Escrevo! 

Sim. Escrevo

porque é de alívio a forma 

q encontrei deixar partir 

o q ñ me cabe 

o q transborda em mim


Escrevo com a mesma necessidade 

e direito q um asno t de relinchar, 

um cão rosnar, 

baleia bufar, 

um lobo uivar... 


O q importa 

é q

Escrevo!

FF

 Ficaram amigas. 

Uma era fanática, avessa a mudanças e pregava um Deus vingativo. 

A outra transtornada, vulneravel.


A vulnerável acabou ficando cega no caminho da fanática. Mas um dia encontrou saída e exclamou: Milagre!  


Maldição! respondeu enlouquecida, a suposta amiga.

FF

 Não sejam como o cavalo ou o burro,

    que não têm entendimento

precisam ser controlados

    com freios e rédeas,

caso contrário não obedecem

Salmo 32:9-11

FF

 no arrastar do tempo a gente vai perdendo a vaidade 

as ilusões vão dissecando  

bagagem mais leve,  isso é verdade. 

porém, a vida vai ficando mais pontiaguda. 

lá no interior eles diziam: 

"segurar o boi pelo chifre" encarar

FF

 ano findando

   ainda folhas otonadas no jardim

         ...e nem arredei a pedra

                que oprime meu gerânio.

FF

 carregava na boca a palavra "impossibilidade " 

feito um cão que não larga o osso.

FF

 Fiquei observando aquela lagarta verde na folha verde. Ela tem a cor de seu alimento. Pensei.

E nos humanos? Que alimentamos de notícias catastróficas, medo...

Que cor temos?

FF

 todos os dias adubando, regando...

às vezes indignada

às vezes resignada 

mas sempre com ternura

porque florir é preciso

FF

 ligando frases de alguns perfis:


"Do mundo e seus mistérios sou um emaranhado de palavras q vistas no todo formam poesia, textos em qualquer forma, formas em qualquer textos 

além de estrelas

silêncios 

terra 

lua 

céu

mar, ar ...

natureza perfeita"

FF

 ligando frases de perfis:

"Entenda, 

sou apenas um verso de um velho poema 

isso porque um dia abracei a vida e tropecei na poesia 

que passou a ser meu manifesto no mundo 

e assim  sigo amante de corpo e alma "

FF

 ligando frases de perfis:

"Economista em desconstrução, hoje eu planto jacintos no verso do poema. As vezes eles murcham aí vergo de ternura e eles voltam a florir. São as palavras soltas e reações adversas. Te amarei como se fosse uma pétala de rosa

 repito todos os dias."

FF

 frases de perfis:

"Desenhada por frases colecionadora de textos e pensamentos 

vivo nas nuvens 

sou estabanada meio lenta 

deixei o vaso cair 

rachou 

pouco importa 

agora ele tem frestas por onde vão entrar luz de um universo 

bem querer."

FF

 frases de perfis:


"Sou um aprendiz de poeta e um amante entusiasmado da poesia mas 

meu poeta é um malvado ser impiedoso

Estragando  decepcionando pessoas

Livre (mente). 

Tipo assim: decifra-me ou te devoro. 

Vou rebater sim, julgar jamais 

meu intuito aq é rir  e fazer sorrir "

FF


 frases de perfis:

"certo que a necessidade de procurar a verdadeira felicidade é o fundamento de nossa liberdade.  Me recuso a desistir de ser feliz.

E  carrego  a poesia interior 

Sob o céu

 com

 Peace."

FF

 O ano é repetitivo.

Mas eu preciso dizer que ele é novo.

E vou me alinhavando nas miudezas milagrosas

que tanto alimentam meus eus líricos de para quês.

 Logo, sou infinita. 

Inteira.

Um ano de novo em mim.

Que me faz sonhar na vida que escorre

FF

 Um ano de novo em mim.


É preciso partir.

É preciso chegar.

Embrulhado de esperança.


E eu aqui a escrever

Porque palavra me recicla

neste ir e vir constante.


Feliz Ano Novo!

 Há um abrolhar de jacintos

Inventar infinitos

fugir do vazio 

buscar utopia 


Q esse partir me arranque de mim

E plante no olhar 

caminhos de resistir

Qdo a poesia escreve noutro horizonte


(Hoje 40 anos qdo me arranquei  do interior p

escrever outros caminhos na capital)

Fátima Fonseca

 Mundo vasto mundo!

Incompreensível esse pássaro na gaiola.


Sensaçao que alguém do alto me observa

e murmura:


Vida  breve vida!

Quantas amarras,  limitações, prisões ...

que o homem construiu para ele 

neste livre e explendido universo.

Fátima Fonseca



segunda-feira, 1 de março de 2021

 "A vida é um incêndio: nela dançamos, salamandras mágicas

Que importa restarem cinzas se a chama foi bela e alta?


Em meio aos toros que desabam, cantemos a canção das chamas!


Cantemos a canção da vida, na própria luz consumida..."

🔥

                  (Mario Quintana)

 TE AGUARDO num verso desesperado de uma canção Neruda. No The End de uma última sessão de cinema. Nas cores da tarde de  uma aquarela tardia. TE AGUARDO nos rabiscos secretos de um diário abandonado,  TE AGUARDO no lado obscuro da lua, nas esquinas de amores clandestinos, na caligrafia aflita do adolescente percorrendo o labirinto do amor impossível, no beijo proibido no escurinho do cinema. TE AGUARDO no entardecer dos olhos, na noite que finda os olhos, no ocaso do olhar  TE AGUARDO, TE AGUARDO.  


RONALDCLAVER, FEV.2021

" - Fica-te tão bem o dia que trazes. Onde é que o arranjaste?
- Fui eu que fiz. Já me aborreciam os dias sempre iguais, sempre a mesma coisa, e resolvi arriscar um toque personalizado.
- E como fizeste?
- Aproveitei coisas que tinha e a que voltei a dar uso. Subi as bainhas da manhã para deixar entrar mais claridade e bordei uns pontos de exclamação nos bolsos para ter sempre à mão maneira de me espantar com a beleza da vida. Descosi velhos hábitos e teci algumas considerações importantes, como a de apanhar as malhas caídas dos dias com força de vontade e coragem. Depois, junto à fímbria da noite, deixei abertos uns rasgos de imaginação e prendi os sonhos com colchetes de luz à esperança num mundo melhor."

Elisabete Bárbara 
lado.a.lado

.

Ela embrenhava no milharal por onde rastejavam as melancias. Lá na roça, longe dos produtos industrializados, minha avó nos surpreendia com aquelas bonecas de espigas nas mãos. A melancia vermelha tão doce só ela sabia escolher. E os frutos de época, chegavam até nós  para falar de amor. Baixinha, magrinha com uma vara tirava os mamões verdes do pé. Lavem as mãos c sabão e vamos fazer anelzinhos. Pedia ela. Só alegria. E cada anel daquela fruta era uma aliança de amor. No tacho transformavam em doce. Existem várias formas de dizer: eu te amo. Fátima Fonseca