segunda-feira, 29 de setembro de 2014

anonimo
sou extremamente inacabada
tenho fluidos zonzos
que penetram na carnadura
um drama excessivo
uma febre contemporânea
uma quentura comprimida e larga
como teu silêncio.
sou território
danço como uma chama.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Fernando Pessoa
Eu amo tudo o que foi
Tudo o que já não é
A dor que já me não dói
A antiga e errônea fé
O ontem que a dor deixou,
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.

domingo, 14 de setembro de 2014

VIDRO CÔNCAVO

Antonio Gedeão
Tenho sofrido poesia
como quem anda no mar.
Um enjoo.
Uma agonia.
Sabor a sal.
Maresia.
Vidro côncavo a boiar.

Dói esta corda vibrante.
A corda que o barco prende
à fria argola do cais.
Se vem onda que a levante
vem logo outra que a distende.
Não tem descanso jamais.
Tel Mont

espalho estrelas de papel no céu
do meu quarto
e elas brilham, é só apagar a luz
cerrar o sol, encerrar o dia

esse é o meu mundo, e pronto
nem se atreva a me interromper quando sonho


sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Vestígios


Ana Cecília de Sousa Bastos 

Estranha pulsão, esta:
derramar no caderno porções de alma.
A mão, captando sinais invisíveis.
Lenta, no formigueiro em marcha.
Absolutamente só,
enquanto todos perseguem a sagrada hora do
                                              [ trabalho
e dos compromissos bancários.

E depois, palavras escondidas em oculto caderno,
papel rasgado, para que delas não sobrem
vestígios.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

não vou- me embora para Passárgada

Fátima Fonseca
não vou- me embora para  Passárgada
não tenho afinidades com reis
sou bicho de goiaba
moro nas  cantorias e algazarras
aqui onde estou 
tenho o fascínio das  passárgadas.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

comidinha simples

Fátima Fonseca
  
dói o cale-se do estômago
que pede uma comidinha simples
com cheiro de flor
verbos enlatados de sujeitos
adjetivos líquidos
 emoção cor rosa
ao gosto dos guimarães
transbordando pelas beiras
de poesia 
vontade que não abranda
fome que não estanca
e eu inacabada
gerundiando, escrevendo, pelejando
cheia de garças
porque a vida é a melhor ilusão.