quarta-feira, 4 de março de 2020

DESFILE DE FEBEAPÁ

                                                                              Sebastião Aimone Braga
O samba corria solto na Escola de Samba Febeapá, que mais uma vez homenageava seu criador, Stanislaw Ponte Preta. É que o país não toma jeito e o Festival de Besteiras que Assolam o País continua e, dia a dia, acordamos assustados com notícias de Jesus Cristo aparecendo na goiabeira (prefiro na Mangueira), cristãos pegando em armas em nome da paz, meninos e meninas a usar azul e rosa respectivamente, Ministro da Educação errando feio até na ortografia, milicianos protegidos na Justiça...
Este ano, alas e alegorias fazem homenagem à importância da acentuação no uso da nossa língua. Pra começar, falavam que os cágados são os que mais sofrem. Realmente, cria-se algum constrangimento, mas os doídos também sofrem quando chamados de doidos, a dor aumenta. Parece propício à política atual quando, nas igrejas, esquecem o acento na frase: Deus gostaria que nos amássemos. Vira argumento pra arminha na mão, inclusive com crianças no colo, e saiam do meu caminho índios, negros, pobres, ecologistas, desafetos, mulheres, gays e qualquer pedra no caminho. Tudo em nome do combate à corrupção. E o povo, já pergunta com maldade: onde está a honestidade? Onde está a honestidade?!...
A ala das sábias já cantava a pedra há tempos, conhecendo rebeldia em quartéis, mente confusa, grosserias, preguiça de 30 anos no Congresso, desmandos e prepotência familiar na corte do Rio de Janeiro, terra de tanto samba. Ela já sabia de evidências, que se tornaram verdades. Junto a ela, as sabiás cantavam um país de palmeiras e povo cordial, misturando realidades com berço esplêndido. Insistiam no lirismo, tentando abafar o brado retumbante de um povo nada heróico, mais acostumado com o autoritarismo herdado e cultivado nas casas grandes e senzalas. Mas as sabiás têm lá sua importância: em Tons e Chicos, viniciamente, insistem em cantar o refrão: Vou voltar, sei que ainda vou voltar.
A Escola tem ainda nas suas evoluções um bloco destinado aos messias. Sim, o povo sempre espera de braços cruzados um messias, que venha fazer o que ele não faz como cidadão. Ser educado custa, dar bom dia só quando está de bom humor ou interessado, respeitar a faixa de pedestre quando estou nela e, cheio de razão, criticar as roubalheiras porque não estou nessa boquinha. Ou acreditar num mito de boca suja, porque não gosto de frescuras e leituras. Cada um no seu lugar, desde que não me incomode e deixe minha escola de samba passar.
Vai passar. Mesmo que o samba não tenha nada de popular. Os Estados Unidos e os que pensam que nele estão incluídos. Os banqueiros no alto dos carros alegóricos, chicote nas mãos sedentas de lucro e petróleo. Riquezas roubadas e doadas.
Um sucesso a Escola e continuamos assistindo, no conforto aparente da sala, as evoluções das besteiras que continuam assolando o país. PT saudações!


 03.março.2020