quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Mia Couto
Mente o tempo:
a idade que tenho
só se mede por infinitos.

Pois eu não vivo por extenso....

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015


Viviane Mosé
Flores sem sombra
I
O dia não nascia.
Ao meio dia, a céu aberto
A madrugada perdurava.
Entre as frestas dos tacos
No encontro dos ossos
Entre as roupas no armário
No fundo dos olhos
O hiato sob os pés, o olfato
De flores sem sombra.
Eu não sei se você sabe
Mas meu corpo sem letras
Ficou vagando
Por estas esquinas vazias
Nos abismos destas ruas
Sem paixão.
II
Nossos olhos iluminando a sala
Nossos corpos incendiando as praças
Nossos sonhos de mãos dadas pelas ruas.
Em meu sonho você me amava
E encontrava o caminho que te levava a mim
E erguíamos cidades novas.
Porque em meu sonho era isso que queríamos
Cidades novas onde pudéssemos viver.ivia
Flores sem sombra
I
O dia não nascia.
Ao meio dia, a céu aberto
A madrugada perdurava.
Entre as frestas dos tacos
No encontro dos ossos
Entre as roupas no armário
No fundo dos olhos
O hiato sob os pés, o olfato
De flores sem sombra.
Eu não sei se você sabe
Mas meu corpo sem letras
Ficou vagando
Por estas esquinas vazias
Nos abismos destas ruas
Sem paixão.
II
Nossos olhos iluminando a sala
Nossos corpos incendiando as praças
Nossos sonhos de mãos dadas pelas ruas.
Em meu sonho você me amava
E encontrava o caminho que te levava a mim
E erguíamos cidades novas.
Porque em meu sonho era isso que queríamos
Cidades novas onde pudéssemos viver.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Solange Amado
QUEM SOU EU?
Não sou melhor
Nem pior
Sou apenas.
E meu passado
Sem eira nem beira
Ficou perdido
No tempo e na poeira.
Dá pra espanar um pouco
Passar um pano molhado
De lágrimas.
Aproveitar o telhado
Do que foi,
No alicerce
Do que sou
Afinal,

Sou um ser reciclado.                        
Solange Amado
E IMPORTA?
Proseio no verso
Versejo na prosa
E importa?
Com a pena
Poeta é antena
De tudo
O que o mundo
Comporta.

Solange Amado
MINHA CIDADE
Minha cidade tem
Lixo
Bicho
Dos quais o pior é o
Bicho homem.
Minha cidade tem
Árvores
Prédios
Barulhos e
Sol ardente.
Minha cidade
Tem somente
A semente
Do meu amor desconfiado.
Solange Amado
POETAR
Num poema profundo
Não podem faltar antenas
Que captem
As penas
Do mundo.


sábado, 7 de fevereiro de 2015

Manuel Bandeira
"Só é meu
O país que trago dentro da alma.
Entro nele sem passaporte
Como em minha casa.
Ele vê minha tristeza
E a minha solidão.
Me acalanta,
Me cobre com uma pedra perfumada.
Dentro de mim florescem jardins.
Minhas flores são inventadas.
As ruas me pertencem
Mas não há casas nas ruas.
As casas foram destruídas desde a minha infância.
Os seus habitantes vagueiam no espaço
à procura de um lar.
Instalam-se em minha alma.
Eis por que sorrio
Quando mal brilha o meu sol.
Ou choro
Como uma chuva leve
Na noite.
Houve tempo em que eu tinha duas cabeças.
Houve tempo em que essas duas faces
Se cobriam de um orvalho amoroso,
Se fundiam como o perfume de uma rosa.
Hoje em dia me parece
Que até quando recuo
Estou avançando
Para uma portada
Atrás da qual se estendem muralhas
Onde dormem trovões extintos
E relâmpagos partidos.
Só é meu
O país que trago dentro da alma."

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015



Poema Se (Professor Hermógenes)

Se, ao final desta existência,
Alguma ansiedade me restar
E conseguir me perturbar;
Se eu me debater aflito
No conflito, na discórdia…

Se ainda ocultar verdades
Para ocultar-me,
Para ofuscar-me com fantasias por mim criadas…

Se restar abatimento e revolta
Pelo que não consegui
Possuir, fazer, dizer e mesmo ser…

Se eu retiver um pouco mais
Do pouco que é necessário
E persistir indiferente ao grande pranto do mundo…
Se algum ressentimento,

Algum ferimento
Impedir-me do imenso alívio
Que é o irrestritamente perdoar,

E, mais ainda,
Se ainda não souber sinceramente orar
Por quem me agrediu e injustiçou…

Se continuar a mediocremente
Denunciar o cisco no olho do outro
Sem conseguir vencer a treva e a trave
Em meu próprio…

Se seguir protestando
Reclamando, contestando,
Exigindo que o mundo mude
Sem qualquer esforço para mudar eu…

Se, indigente da incondicional alegria interior,
Em queixas, ais e lamúrias,
Persistir e buscar consolo, conforto, simpatia
Para a minha ainda imperiosa angústia…

Se, ainda incapaz
para a beatitude das almas santas,
precisar dos prazeres medíocres que o mundo vende…

Se insistir ainda que o mundo silencie
Para que possa embeber-me de silêncio,
Sem saber realizá-lo em mim…

Se minha fortaleza e segurança
São ainda construídas com os materiais
Grosseiros e frágeis
Que o mundo empresta,
E eu neles ainda acredito…

Se, imprudente e cegamente,
Continuar desejando
Adquirir,
Multiplicar,
E reter
Valores, coisas, pessoas, posições, ideologias,
Na ânsia de ser feliz…

Se, ainda presa do grande embuste,
Insistir e persistir iludido
Com a importância que me dou…

Se, ao fim de meus dias,
Continuar
Sem escutar, sem entender, sem atender,
Sem realizar o Cristo, que,
Dentro de mim,
Eu Sou,
Terei me perdido na multidão abortada
Dos perdulários dos divinos talentos,
Os talentos que a Vida
A todos confia,
E serei um fraco a mais,
Um traidor da própria vida,
Da Vida que investe em mim,
Que de mim espera
E que se vê frustrada
Diante de meu fim.

Se tudo isto acontecer
Terei parasitado a Vida
E inutilmente ocupado
O tempo
E o espaço
De Deus.
Terei meramente sido vencido
Pelo fim,
Sem ter atingido a Meta.

( Professor Hermógenes )

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Martha Medeiros
Sou uma mulher madura
Que às vezes anda de balanço
Sou uma criança insegura
Que às vezes usa salto alto
Sou uma mulher que balança
Sou uma criança que atura