quarta-feira, 28 de novembro de 2018

O sonho encheu a noite
Extravasou pro meu dia
Encheu minha vida
E é dele que eu vou viver
Porque sonho não morre.
Adélia Prado

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Poesia

   «A poesia, nos nossos dias, expõe-se a um perigo que não vem dela, mas da palavra que se lhe refere. Ela é ofuscada por essa palavra. O leitor já não lê o poema, lê o poeta, as suas referências, as suas inclinações. Lê o que lhe declaram do poeta e da poesia. O poeta tornou-se para o crítico um meio de afirmar as suas opções, de expor as suas teorias, não de dar acesso ao poema enquanto tal. Trata-se aqui de uma crítica que decifra a poesia por intermédio do mundo. A verdadeira crítica é o seu oposto, desvenda o mundo através da poesia. Acede às energias da própria língua sem outro instrumento que não seja só a poesia.»

obs desconheço autoria

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Era assim...


                                            Fátima Fonseca

Era assim (década 70)

Lá no interior era assim
mulheres nos saltos altos se equilibrando
nos paralelepidos e buracos das ruas estreitas
os homens  avaliando
e os que tinham motorizados
cantavam pneus para elas
Meio à pobreza  reinava naquela cidadezinha
um competir mesquinho
Traços de insignificâncias 
no desespero dos rostos
denunciavam como a vida ê vã
Todos tinham a senha da soberba
o reconhecimento pelo ter
a indiferença disfarsada
Eu sumo desse desdém
me continha pequena ser
Cercada de mim.
Sem saltos altos
Hoje escrevo poemas 
com os pés descalços
de uma Cinderela que nunca
fui.



domingo, 11 de novembro de 2018

Prosseguir

                                            Fátima Fonseca
a palavra é: navegar
coragem está na hora de desencorar
então vamos ó poesia
há  sempre esperança
de
chegada

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

sede de eternidade


                                         Fátima Fonseca
um triângulo pode ser
passado
presente
futuro
condensado em um verso
e em cada vértice
uma sílaba curvada
suplicando eternidade.

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Escrever

                                 Neuza Lima
Aceitar a provocação
Da página em branco
Desatar as palavras das correntes

Deixa-las contar dos sentimentos
Que escapam da alma
Derrama-los nas brancas e cálidas paginas
Dar-lhes vida.

Desvirginar uma página em branco
Não pode ser em vão
Puras, incólumes
Merecem líricas emoções

Cruel,
Nem sempre consigo conter
Minhas afiadas palavras
Emocionadas lâminas
Dilaceram o virgem papel

A branca página
Agora é manchada pelo vermelho
Do sangue que corre em minhas veias poéticas.
Sedento da morte daquele branco ameaçador.

O branco da página atormenta-me
É interminável, sem fim.
Por mais que se escreva
Sempre haverá uma pagina em branco a sua espera.



Ode a solidão


                                   Neuza Lima
Solidão
A falta da falta
Perda do que não se tem
Ausência do que não se conhece
E deseja

Solidão
Vazio que se fecha em um si expurgado
Ocaso, os últimos raios, que languidos,
Te fazem chorar sem saber por que.

Solidão
Não compartilhar da paz que envolve
Aqueles que dormem em silêncio
Nas escuras noites das cidades
Sentir-se só e atormentado.

Solidão não é perder um pouco a cada dia
Solidão é não ter um pouco a cada dia.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Sol

                              Fátima Fonseca
se você é Lua
eu sou Sol
mas por favor não se intimide comigo
porque o que existe  de grande  em mim
são as florezinhas miúdas do cerrado
uma sede de amor e justiça
que não me deixam desistir
de brilhar
de sonhar
mesmo que me falem
de
impossibilidades.

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Escrever

                            Fátima Fonseca

Escrever

De repente envelheci
Fiquei antiga na era digital
Para me reinventar busquei as palavras
Encontrei salvação no convite sagrado dos versos
Descobri com o poeta “escrever não dói”
Aprendi escutar a voz que vem de dentro
enxergar a cor do céu
a flor que fura o asfalto
alimentar dos milagres dos instantes
O que seria de mim se não fosse a escrita?
Sem a escrita eu seria Chico Buarque sem a Gota D’água
Espanca sem Florbela
Guimarães sem o Rosa
Ora, sem a escrita eu seria o vazio do inativo
Solidão sem utopia
Silêncio sem poesia