segunda-feira, 6 de abril de 2020

Desperto taciturno para o resto do dia
e por detrás de uma nuvem
o olho de Deus mantém o silêncio.
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Sou a sombra de todos os rostos,
dependente de um tempo exato,
mestre em horas de miséria
ou desempregado frente a paragens de transportes.
Trago comigo uma dor de pedra entre as mãos.
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Afastado de toda a caridade
renuncio a ser apóstolo de uma fé em mim mesmo.
Oficio aqui os silêncios da página.
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Sou herói e peão do instante e da surpresa.
Aqui aguardo as súplicas do acaso
e uma sensação de sede como agulha entre as palavras.
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Hoje não tenho necessidade de fingir
que prefiro a vida qu'em mim tropeça.
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Mijail Lamas in "Cuaderno de Tyler Durden". Buenos Aires: El Suri Porfiado Ediciones, 2014, p 12 (Tradução de Victor Oliveira Mateus)