quinta-feira, 30 de maio de 2013

Para os que virão


Thiago de Mello

Como sei pouco, e sou pouco,
faço o pouco que me cabe
me dando inteiro.
Sabendo que não vou ver
o homem que quero ser.

Já sofri o suficiente
para não enganar a ninguém:
principalmente aos que sofrem
na própria vida, a garra
da opressão, e nem sabem.

Não tenho o sol escondido
no meu bolso de palavras.
Sou simplesmente um homem
para quem já a primeira
e desolada pessoa
do singular – foi deixando,
devagar, sofridamente
de ser, para transformar-se
- muito mais sofridamente -
na primeira e profunda pessoa
do plural.

Não importa que doa: é tempo
de avançar de mão dada
com quem vai no mesmo rumo,
mesmo que longe ainda esteja
de aprender a conjugar
o verbo amar.

É tempo sobretudo
de deixar de ser apenas
a solitária vanguarda
de nós mesmos.
Se trata de ir ao encontro.
( Dura no peito, arde a límpida
verdade dos nossos erros. )
Se trata de abrir o rumo.

Os que virão, serão povo,
e saber serão, lutando.

Ninguém me habita


Thiago de Mello
Ninguém me habita. A não ser
o milagre da matéria
que me faz capaz de amor,
e o mistério da memória
que urde o tempo em meus neurônios,
para que eu, vivendo agora,
possa me rever no outrora.
Ninguém me habita. Sozinho
resvalo pelos declives
onde me esperam, me chamam
(meu ser me diz se as atendo)
feiúras que me fascinam,
belezas que me endoidecem.


quarta-feira, 29 de maio de 2013

As Ensinâncias da dúvida


 Thiago de Mello
Tive um chão (mas já faz tempo)
todo feito de certezas
tão duras como lajedos.

Agora (o tempo é que fez)
tenho um caminho de barro
umedecido de dúvidas.

Mas nele (devagar vou)
me cresce funda a certeza
de que vale a pena o amor

terça-feira, 28 de maio de 2013

Vinícius de Moraes


Tomara

Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz

E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais...

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Mario Quintana

No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:
um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento...

Castro Alves


Na hora em que a terra dorme
enrolada em frios véus,
eu ouço uma reza enorme
enchendo o abismo dos céus

domingo, 26 de maio de 2013

Silêncio


Octavio Paz

Assim como do fundo da música
brota uma nota
que enquanto vibra cresce e se adelgaça
até que noutra música emudece,
brota do fundo do silêncio
outro silêncio, aguda torre, espada,
e sobe e cresce e nos suspende
e enquanto sobe caem
recordações, esperanças,
as pequenas mentiras e as grandes,
e queremos gritar e na garganta
o grito se desvanece:
desembocamos no silêncio
onde os silêncios emudecem.

sábado, 25 de maio de 2013

Érico Veríssimo



Como o tempo custa a passar quando a gente espera!
Principalmente quando venta.
Parece que o vento maneia o tempo.

Padre Fabio de Melo



(...)Outro dia me pus a pensar que sou semelhante às mulheres da literatura de Érico Veríssimo.
Aquelas que enquanto os homens se ocupavam da guerra, elas se ocupavam do tempo e do vento.
Eu não tenho muitas definições a meu respeito; apenas respeito a dor de cada hora,
a esperança de cada momento.
E, se isso me define, então sou a dor que sabe esperar.

[ Trecho do livro Mulheres de Aço e de Flores]

arte



Ludwig van Beethoven 
Batizado em Bonn (Alemanha), em 17 de dezembro de 1770 — Viena (Áustria), 26 de março de 1827

Um dos maiores compositores da história, foi atormentado em toda sua vida por uma surdez progressiva sem diagnóstico definitivo.
Teria tido Beethoven a mesma genialidade que mostrou em suas sinfonias caso ele não tivesse hipoacusia e zumbido? Qual a influência que sua surdez teve sobre sua vida e obra?

Ele escreveu ao amigo e médico Franz Gerhard Wegeler em 21 de junho de 1801, quando tinha 31 anos de idade: 
"Você tem tido notícia da minha situação? Os meus ouvidos nos últimos 3 anos estão cada vez mais fracos, Frank o diretor do Hospital de Viena procurou retonificar o meu organismo com tônicos e meus ouvidos com óleo de Mandorle. Não houve nenhum efeito, a surdez ficou ainda pior. Depois um asno de um médico me aconselhou banhos frios o que me levou a ter dores fortes. Outro médico me aconselhou banhos rápidos no Danúbio, todavia a surdez persiste, as orelhas continuam a rosnar e estalar dia e noite. Te confesso que estou vivendo uma vida bem miserável. Há quase 2 anos me afastei de todas as atividades sociais, principalmente porque me é impossível dizer para as pessoas : Sou surdo !... Se minha profissão fosse outra, talvez poderia me adaptar à minha doença, mas no meu caso a surdez representa um terrível obstáculo. E se os meus inimigos vierem a saber ? O que falarão por aí? Para te dar uma ideia desta estranha surdez, no teatro eu tenho que me colocar pertíssimo da orquestra para entender as palavras dos atores e a uma certa distância não consigo ouvir os sons agudos dos instrumentos e do canto. Surpreendentemente, nas conversas com as pessoas muitos não notaram minha surdez, acreditam que eu sou distraído. Muitas vezes posso ouvir o som da voz mas não entendo as palavras, mas se alguém grita eu não suporto ! O doutor Vering me disse que certamente meu ouvido melhorará, se isso não for possível tenho momentos em que penso que sou a mais infeliz criatura de Deus.” 

Não há dados que possam estabelecer exatamente o início de sua surdez. Por alguns manuscritos de Beethoven parece que os sintomas se manifestaram quando tinha 26 anos (em 1796), ano no qual fez sua primeira turnê em Berlin, Dresda, Praga, Lipsia, Nuremberg e Budapest. 
Esta imprecisão se deve ao fato de que ele provavelmente não a percebeu ou não dava valor pois não foi súbita e por ser jovem e consciente de suas amplas capacidades artísticas e musicais, não esperava ficar surdo. 
Apesar de racional em suas escritas sobre a ineficácia dos tratamentos médicos sempre procurou esperança em novos tratamentos. 

Em 16 de novembro de 1801 o compositor escreveu novamente ao seu amigo Wegeler: 
..."quer saber como estou? E do que preciso? O doutor Vering me coloca torniquetes nos braços. Este tratamento é muito desagradável, à parte da dor, fico privado de usar o braço por 2 ou 3 dias. Devo confessar que o ruído nos ouvidos fica menor, principalmente no esquerdo onde começou a doença, mas a audição fica na mesma. Não gosto de trocar muito de médico, mas me parece que Vering seja um pouco empírico... O que você pensa do doutor Schmidt**? Parece ser um outro homem. Me contam maravilhas dele, O que você acha? Um médico me disse que viu em Berlin um menino surdo-mudo começar a ouvir e um homem surdo a sete anos se curar totalmente.” 

Mas mesmo o Dr. Schmidt, não fez nada mais do que aconselhar-lhe a vida no campo para proteger-se do nervosismo da cidade. 
Beethoven seguiu seus conselhos e no fim de abril de 1802 se transferiu a Heiligenstadt, pequeno e tranquilo subúrbio aos pés dos bosques de Viena. 
Isso o fez se concentrar por seis meses e atingir a plenitude de seus pensamentos musicais. E foi neste local que se encontrou, anos após sua morte, um manuscrito dentro de uma velha escrivaninha - seu testamento, que entre tantas dizia: 

“Para meus amigos e para aqueles que pensavam que eu era anti-social, distraído e ermitão, me julgaram mal. Vocês não conheceram a causa secreta disso tudo. Eu era atormentado de um mal sem esperança, piorado devido a médicos insensatos. Por anos fui enganado com esperanças de melhora e no final fui constrangido a aceitar a realidade de uma doença incurável. Nascido com um temperamento ardente e ativo e sensível às atrações da sociedade, tive que bem cedo me isolar e transcorrer a vida em solidão. Se às vezes tentava me esquecer, meu ouvido me trazia de volta à realidade. Não podia nem pedir para as pessoas : Falem mais alto, gritem, porque sou surdo ! Como poderia admitir uma doença na qual o sentido que para mim mais do que para ninguém deveria ser perfeito? Tive que viver sozinho e se estou com alguém fico com uma enorme ansiedade do medo de correr o risco de se notar a minha condição. Provei desta humilhação quando um aluno que estava ao meu lado ouvia o som de uma flauta e eu não, ouvia o canto de um pastor e eu nada. Quase coloquei fim à minha vida algumas vezes. Foi a música que me entreteve. Me parecia impossível abandonar este mundo antes de criar todas as óperas que sentia imperiosa necessidade de compor. Esta foi minha vida, angustiosa. Quando lerem estas linhas saberão que aqueles que de mim falaram, cometeram grande injustiça. Peçam ao Dr. Schmidt para descrever minha doença para que o mundo possa se reconciliar comigo, ao menos após minha morte.” 
(Ludwig van Beethoven, in Testamento de Heilingenstadt, a 6 de Outubro de 1802)

Este documento testemunha perfeitamente o drama psicológico do grande compositor e justifica plenamente sua involução de caráter. Todavia a surdez não interferiu de modo algum na sua veia criativa que terminou por expressar de modo sublime todo seu mundo interior, todos os sentimentos, todas as paixões, todas as emoções e cada percepção de sua alma e da natureza. 


O caráter do maestro, fechado, foi em parte reflexo de sua doença, mas é evidente que sua formação teve também influência de sua infância e adolescência.

Beethoven nasceu em 16 de dezembro de 1770 em Bonn, Alemanha. O pai era um tenor medíocre e com vício da bebida; sua mãe, Maria Madalena Keverich, já viúva de um camareiro da corte. era filha de um cozinheiro e tinha 19 anos quando ele nasceu. Sua infância foi rígida e triste. Como manifestou precocemente o talento para música, não tinha ainda 8 anos e seu pai, incapacitado de prever um gênio em formação e querendo desfrutar de lucros pessoais o apresentou como prodígio na Academia de Música de Colônia, mentindo sua idade para seis anos. 

Com 11 anos fazia parte da orquestra de Bonn e aos 13 era organista. O pai sem dúvida atrapalhou seu início de carreira obrigando-o a ganhar a vida. 

Com 22 anos deixou Bonn e foi para Viena, na Áustria, considerada capital da música. Foi em Viena que conquistou rapidamente a notoriedade e sucesso como concertista e compositor. 

Em 1814 veio o apogeu da vida musical de Beethoven quando no Congresso de Viena foi aclamado como o maior músico vivo. 

O Imperador Francisco I da Áustria (irmão da Princesa Leopoldina do Brasil) colocou a sua disposição dois salões em seu palácio em Viena e lhe deu a cidadania honorária de Viena. 

Mas foi neste momento também que a o agravamento de sua surdez o fez abandonar a carreira de concertista. 
Consultou vários médicos, inclusive o médico da corte de Viena.  Fez curativos, usou cornetas acústicas, realizou balneoterapia, mudou de ares; mas os seus ouvidos permaneciam arrolhados. Desesperado, entrou em profunda crise depressiva e pensou em suicidar-se.
"Devo viver como um exilado. Se me acerco de um grupo, sinto-me preso de uma pungente angústia, pelo receio que descubram meu triste estado. E assim vivi este meio ano em que passei no campo. Mas que humilhação quando ao meu lado alguém percebia o som longínquo de uma flauta e eu nada ouvia! Ou escutava o canto de um pastor e eu nada escutava! Esses incidentes levaram-me quase ao desespero e pouco faltou para que, por minhas próprias mãos, eu pusesse fim à minha existência. Só a arte me amparou!"

Derradeiros anos
A culminância destes anos foi a Sinfonia nº 9 em Ré Menor, Op.125 (1822-1824), para muitos a sua maior obra-prima. Pela primeira vez é inserido um coral num movimento de uma sinfonia. O texto é uma adaptação do poema de Friedrich Schiller, "Ode à Alegria".

Alegria bebem todos os seres
No seio da Natureza:
Todos os bons, todos os maus,
Seguem seu rastro de rosas.
Ela nos deu beijos e vinho e
Um amigo leal até à morte;
Deu força para a vida aos mais humildes
E ao querubim que se ergue diante de Deus!

(Parte do verso da Ode à Alegria, de Friedrich Schiller, utilizado por Ludwig van Beethoven)

Beethoven recebeu a extrema unção na manhã do dia 24 de março, junto a ele estavam a mulher de seu irmão Johann e um jovem músico de Graz de nome Anselm Huettenbrenner vindo a ser dado como morto no dia 26 às 17:45. O jovem escultor Danhauser moldou sua máscara mortuária na manhã seguinte. 
Os funerais de Ludwig van Beethoven foram realizados no final do dia 29 de março de 1827 na igreja da rua Alserstrasse em Viena, Áustria. 
Viena lhe ofereceu todas as honras que lhe havia negado em vida. As escolas foram fechadas e naquele dia os vienenses tiveram a certeza de terem perdido algo de verdadeiramente grande; todavia a imensa e emocionada participação não resgatou aos olhos daqueles que o amaram profundamente, a longa indiferença ao músico nos últimos anos de sua triste existência. 
Seu devoto companheiro, Nikolaus Zmeskal, poucos dias depois escreveu a Therese von Brunsvik, mais que amiga do maestro: "A sua morte suscitou uma emoção da qual não se tem lembrança...” 
De vinte a trinta mil pessoas acompanharam o funeral. Os compositores mais ilustres entre os quais Franz Schubert (que morreu aos 31 anos 1 ano depois de Beethoven e foi enterrado ao lado dele) estavam ao lado de sua urna funerária.
Terminou assim a vida do Maestro, uma vida triste e solitária, não obstante os sucessos artísticos, atormentada nos últimos 30 anos por uma saúde precária e sobre tudo por uma surdez progressiva, angustiante, iniciada precocemente com zumbido e intrusões auditivas persecutórias que o foram excluindo gradualmente e inevitavelmente da vida em sociedade. 
*            *            *

Roberto Shinyashiki


Neste momento,
penso em você e então
quisera me transformar em vento.
E se assim fosse,
chegaria agora como brisa fresca
e tocaria leve sua janela.
E se você me escuta e
me permite entrar,
em você vou me enroscar
quase sem o tocar.
Vou roçar nos seus cabelos,
soprar mansinho no ouvido,
beijar sua boca macia,
o embalar no meu carinho
Mas eu não sou vento...
Agora sou só pensamento e
estou pensando em você.
E se abrir sua janela,
eu estou chegando aí,
agora...
neste momento,
em pensamento...
no vento.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Mais uma vez o tempo me assusta.


Flora Figueiredo
Mais uma vez o tempo me assusta.
Passa afobado pelo meu dia, atropela minha hora, despreza minha agenda.
Corre prepotente, para disputar lugar com o vento.
O tempo envelhece, não se emenda.
Deveria haver algum decreto que obrigasse o tempo a desacelerar e a respeitar meu projeto.
Só assim, eu daria conta dos livros que vão se empilhando,das melodias que estão me aguardando;
Das saudades que venho sentindo,
Das verdades que ando mentindo,
Das promessas que venho esquecendo,
Dos impulsos que sigo contendo,
Dos prazeres que chegam partindo,
Dos receios que partem voltando.
Agora, que redijo a página final,
Percebo o tanto de caminho percorrido
Ao impulso da hora que vai me acelerando.
Apesar do tempo, e sua pressa desleal,
Agradeço a Deus por ter vivido, amanhecer e continuar teimando ...

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Chuva




Luiz Vilela
 Chuva fina cortando a poeira
 Dádiva boa que Deus concedeu.
 Rompe a semente na terra vermelha
 Gerando o sustento para o filho meu.

 Chuva abundante que entra na terra
 Conserva a vida e dissipa o calor.
 Molha a campina, o monte, a serra
 E dá o alimento ao herói lavrador.

 Chuva gelada, cortante granizo,
 Provoca o choro e desgraça de alguém;
 Na natureza nem tudo são risos
 Crescemos nas penas da vida também.

 E apesar da revolta e desdita,
 Conserva a vida e dá rumo ao destino.
 Deus concedeu essa graça infinita
 Ao homem, nem sempre, fiel ao Menino. (Luiz Vilela \Angelo Vilela Tannus)

SERENA



Henriqueta Lisboa

Essa ternura grave
que me ensina a sofrer
em silêncio, na suavi-
dade do entardecer,
menos que pluma de ave
pesa sobre meu ser.

E só assim, na levi-
tação da hora alta e fria,
porque a noite me leve,
sorvo, pura, a alegria,
que outrora, por mais breve,
de emoção me feria.


Nunca fui...


Florbela Espanca
Nunca fui como todos
Nunca tive muitos amigos
Nunca fui favorita
Nunca fui o que meus pais queriam
Nunca tive alguém que amasse
Mas tive somente a mim
A minha absoluta verdade
Meu verdadeiro pensamento
O meu conforto nas horas de sofrimento
não vivo sozinha porque gosto
e sim porque aprendi a ser só...

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Leo Buscaglia



A morte nos ensina a transitoriedade de todas as coisas.

Pablo Neruda



"... quando explicamos a poesia ela torna-se banal. Melhor do que qualquer explicação é a experiência directa das emoções, que a poesia revela a uma alma predisposta a compreendê-la."



ERLY WELTON RICCI



poesia deve ser isso:
o que ferve e congela
o que assombra e desanuvia
o que apaga
e incendeia
acena
à cena vazia

poesia deve ser isso:
o que amálgama e fere
anátema do frio
o que crema e espalha
amassa, esfarela,
e entra no cio

poesia deve ser isso:
morfemas e lexias
qualquer sal
um risco
de difundir
a via
quase
abissal


terça-feira, 21 de maio de 2013

Minha cidade



Cora Coralina.
Eu sou a dureza desses morros, revirados, enflorados, lascados a machado, lacerados. Queimados pelo fogo. Pastados. Calcinados e renascidos. Minha vida, meus sentidos, minha estética, todas as vibrações de sensibilidade de mulher, têm, aqui, suas raízes. Eu sou a menina feia da ponta da Lapa. Eu sou aninha.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Fabrício Carpinejar



Chega um momento
em que somos aves na noite,
pura plumagem, dormindo de pé,
com a cabeça encolhida.
O que tanto zelamos
na fileira dos dias,
o que tanto brigamos
para guardar, de repente
não presta mais: jornais, retratos,
poemas, posteridade.
Minha bagagem
é a roupa do corpo.
r

sábado, 18 de maio de 2013

Frida Kahlo




Pensavam que eu era uma surrealista, mas eu não era. Nunca pintei sonhos. Pintava a minha própria realidade.





Sinto-me mal, e ficarei pior, mas vou aprendendo a estar sozinha e isso já é uma vantagem e um pequeno triunfo.


Pinto a mim mesmo porque sou sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor.

FRIDA KAHLO



Magdalena Carmen Frieda Kahlo y Calderón
(Coyoacán, Mexico, 6 de julho de 1907 — Coyoacán, 13 de julho de 1954).

Em 1913, com seis anos, Frida contrai poliomielite, a primeira de uma série de doenças, acidentes, lesões e operações que sofreu ao longo da vida. A poliomielite deixou uma lesão no seu pé direito, pelo que ganhou o apelido de Frida pata de palo (ou seja, Frida perna de pau). Passou a usar calças, depois longas e exóticas saias, que se tornaram uma de suas marcas pessoais.

Entre 1922 e 1925 frequenta a Escola Nacional Preparatória do Distrito Federal do México e assiste a aulas de desenho e modelagem.

Em 1925, aos 18 anos, aprende a técnica da gravura com Fernando Fernandez.

Então sofreu um grave acidente. Um bonde, no qual viajava, chocou-se com um trem. O pára-choque de um dos veículos perfurou-lhe as costas, atravessou sua pélvis e saiu pela vagina, causando uma grave hemorragia.
Frida ficou muitos meses entre a vida e a morte no hospital, teve que operar diversas partes e reconstruir por inteiro seu corpo, que estava todo perfurado. Tal acidente obrigou-a a usar coletes ortopédicos de diversos materiais, e ela chegou a pintar alguns deles (como o colete de gesso da tela intitulada ‘A Coluna Partida'). Durante a sua longa convalescença, começou a pintar, usando a caixa de tintas de seu pai e um cavalete adaptado à cama.

A coluna partida
Em 1929 casa-se com Diego Rivera, importante pintor também mexicano, criador do ‘movimento muralístico mexicano’. Assim como os outros muralistas, considerava a pintura de cavalete burguesa, pois em maior parte dos casos as telas ficavam confinadas em coleções particulares. Foi um casamento tumultuado pelo forte temperamento dos dois e dos casos extraconjugais de ambos.

Tentou diversas vezes o suicídio com facas e martelos, devido a sua vida extremamente infeliz, já que vinha sendo traída pelo marido e viviam brigando, mas não tinha coragem de se separar de vez.

Sob a influência da obra do marido, Frida adotou o emprego de zonas de cor amplas e simples, num estilo propositadamente reconhecido como ingênuo. Procurou na sua arte afirmar a identidade nacional mexicana, por isso adotava com muita frequência temas do folclore e da arte popular do México.

Em 1938 André Breton- poeta e teórico do surrealismo - qualifica sua obra de surrealista em um ensaio que escreveu para a exposição de Kahlo na galeria Julien Levy de Nova Iorque.

Não obstante, ela mesma declarou mais tarde: Pensavam que eu era uma surrealista, mas eu não era. Nunca pintei sonhos. Pintava a minha própria realidade.

Em 1939 expõe em Paris na galeria Renón et Colle. A partir de 1943 dá aulas na escola La Esmeralda, no D.F. (México).
Em 1953 a Galeria de Arte Contemporânea desta mesma cidade organiza uma importante exposição em sua honra.
Alguns de seus primeiros trabalhos incluem o Auto-retrato em um vestido de veludo (1926), Retrato de Miguel N. Lira (1927), Retrato de Alicia Galant (1927) e Retrato de minha irmã Cristina (1928).

Em 13 de julho de 1954, Frida Kahlo, que havia contraído uma forte pneumonia, foi encontrada morta.
Seu atestado de óbito registra embolia pulmonar como a causa da morte. Mas não se descarta que ela tenha morrido de overdose, devido ao grande número de remédios que tomava, e que pode ter sido acidental ou não.
A última anotação em seu diário diz: "Espero que minha partida seja feliz, e espero nunca mais regressar - Frida", o que permite a hipótese de suicídio.

*        *        *





sexta-feira, 17 de maio de 2013

Jorge Luiz Borges


Buenos Aires
Penso que as Palavras essenciais que me expressam se encontram nessas folhas que nem sabem quem sou.

Mão velha de guerra
segue traçando seus versos
para o esquecimento.

Uma oração



Jorge Luis Borges

Minha boca pronunciou e pronunciará, milhares de vezes e nos dois idiomas que me são íntimos, o pai-nosso, mas só em parte o entendo. Hoje de manhã, dia primeiro de julho de 1969, quero tentar uma oração que seja pessoal, não herdada. Sei que se trata de uma tarefa que exige uma sinceridade mais que humana. É evidente, em primeiro lugar, que me está vedado pedir. Pedir que não anoiteçam meus olhos seria loucura; sei de milhares de pessoas que vêem e que não são particularmente felizes, justas ou sábias. O processo do tempo é uma trama de efeitos e causas, de sorte que pedir qualquer mercê, por ínfima que seja, é pedir que se rompa um elo dessa trama de ferro, é pedir que já se tenha rompido. Ninguém merece tal milagre. Não posso suplicar que meus erros me sejam perdoados; o perdão é um ato alheio e só eu posso salvar-me. O perdão purifica o ofendido, não o ofensor, a quem quase não afeta. A liberdade de meu arbítrio é talvez ilusória, mas posso dar ou sonhar que dou. Posso dar a coragem, que não tenho; posso dar a esperança, que não está em mim; posso ensinar a vontade de aprender o que pouco sei ou entrevejo. Quero ser lembrado menos como poeta que como amigo; que alguém repita uma cadência de Dunbar ou de Frost ou do homem que viu à meia-noite a árvore que sangra, a Cruz, e pense que pela primeira vez a ouviu de meus lábios. O restante não me importa; espero que o esquecimento não demore. Desconhecemos os desígnios do universo, mas sabemos que raciocinar com lucidez e agir com justiça é ajudar esses desígnios, que não nos serão revelados.

Quero morrer completamente; quero morrer com este companheiro, meu corpo.

Sou


Jorge Luiz Borges
Sou

Sou o que sabe não ser menos vão
Que o vão observador que frente ao mudo
Vidro do espelho segue o mais agudo
Reflexo ou o corpo do irmão.
Sou, tácitos amigos, o que sabe
Que a única vingança ou o perdão
É o esquecimento. Um deus quis dar então
Ao ódio humano essa curiosa chave.
Sou o que, apesar de tão ilustres modos
De errar, não decifrou o labirinto
Singular e plural, árduo e distinto,
Do tempo, que é de um só e é de todos.
Sou o que é ninguém, o que não foi a espada
Na guerra. Um esquecimento, um eco, um nada.
Jorge Luis Borges

Arte & Vida

Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de livraria.
Jorge Luis Borges  

Jorge Francisco Isidoro Luis Borges Acevedo (Argentina,Buenos Aires, 24 de agosto de 1899 — Suíça, Genebra, 14 de junho de 1986)
escritor, poeta, tradutor, crítico literário e ensaísta argentino.
O grande escritor ficou cego, mas enxergava o mundo pelas palavras. Uma doença genética e progressiva foi tirando-lhe a visão e isso o incentivava a ler e a ver tudo em menos tempo.
Foi diretor da Biblioteca Nacional de Buenos Aires.

Dominava a língua inglesa e também o francês, por ter sido educado em Genebra, Suíça. Sua obra expressa universalismo, variedade e excentricidade.
Aprendeu alemão sozinho e gostava de ler o filósofo Shopenhauer.
Segundo escritores e críticos contemporâneos era capaz de colocar um universo dentro da caixa de fósforo pela simplicidade e objetividade como escrevia em seus textos.

“Não criei personagens. Tudo o que escrevo é autobiográfico. Porém, não expresso minhas emoções diretamente, mas por meio de fábulas e símbolos. Nunca fiz confissões. Mas cada página que escrevi teve origem em minha emoção”(Jorge Luís Borges)

O menino Borges decidiu a certa altura ser escritor. Aos oito anos de idade, escreveu seu primeiro conto: La visera fatal.
(...)
Traduziu aos nove anos O Príncipe Feliz, de Oscar Wilde, que foi publicado no jornal “El País”, de Buenos Aires.
(...)
Quase oitenta anos mais tarde, mesmo cego, velho, encurvado sob o peso da idade e sob o signo da descrença, ainda prosseguia ditando palavras.

Falava da solidão como de uma aliada às avessas de sua criação, espécie de segunda companheira, sombra sempre em volta dos livros acumulados sobre a mesa, empilhados nas estantes: “Passo boa parte do meu tempo só, conheço poucas pessoas. Então fico planejando poemas, narrações..."

A consagração de Borges só veio em 1935, depois da publicação de seu primeiro livro de contos História Universal da Infância.
O universo fantástico de suas narrativas viria a ser inaugurado mais tarde, a partir do volume Ficções, alcançando o ápice em O Aleph. Para Borges, esses dois livros eram sua bibliografia.

"Na infância pratiquei com fervor a adoração ao tigre; não o tigre cor de pêssego dos camalotes do Paraná e da confusão amazônica, mas o tigre rajado, asiático, real, que só pode ser enfrentado pelos homens de guerra, encastelados sobre um elefante. Costumava demorar-me infindavelmente diante de uma das jaulas no Zoológico; apreciava as vastas enciclopédias e os livros de história natural pelo esplendor dos seus tigres. (Lembro-me ainda dessas figuras: eu que não posso recordar sem horror o rosto ou sorriso de uma mulher). A infância passou, caducaram os tigres, e a paixão por eles, mas eles ainda permanecem em meus sonhos. Nessa lembrança submersa ou caótica, continuam a prevalecer, e assim: adormecido, um sonho qualquer distrai-me e eu sei de imediato que é um sonho. Costumo então pensar: Este é um sonho, uma pura diversão de minha vontade e, já que tenho um poder ilimitado, vou produzir um tigre."
"Oh incompetência! Meus sonhos nunca sabem engendrar a apetecida fera. Aparece o tigre, isso sim, mas dissecado e débil, ou com impuras variações de forma, ou bastante fugaz, ou tirante a cão e a pássaro." (Jorge Luís Borges)


HINO

Esta manhã
há no ar a incrível fragrância
das rosas do Paraíso.
Nas margens do Eufrates
Adão descobre a frescura da água.
Uma chuva de ouro cai do céu;
é o amor de Zeus.
Salta do mar um peixe
e um homem de Arigento recordará
ter sido esse peixe.

Na caverna cujo nome será Altamira
uma mão sem cara traça a curva
de um lombo de bisonte.
A lenta mão de Virgílio acaricia
a seda que trouxeram
do reino do Imperador Amarelo
as caravanas e as naves.

O primeiro rouxinol canta na Hungria.
Jesus vê na moeda o perfil de César.
Pitágoras revela a seus gregos
que a forma do tempo é a do círculo.
Numa ilha do Oceano
os cães de prata perseguem os cervos
de outro.

Numa bigorna forjam a espada
que será fiel a Sigurd.
Whitman canta em Manhattan.
Homero nasce em sete cidades.
Uma donzela acaba de aprisionar
o unicórnio branco.
Todo o passado volta como uma onda
e essas antigas coisas recorrem
porque a mulher te beijou.
   
(Jorge Luís Borges)

O escritor argentino morreu como um dos monstros sagrados da literatura universal.
Deixou uma obra incomparável em língua espanhola, sobretudo pela capacidade inventiva e pelo poder de suas metáforas de transcendência filosófica.

Nos seus últimos anos de vida, viajou incansavelmente pelo mundo com a esposa, Maria Kodama, ex-aluna e secretária particular. Passava no máximo dois ou três dias em cada lugar, não dando muita importância nem para a cegueira nem para a velhice.



Mas houve um tempo de tamanha angústia em que ansiara pela morte, e com tal sofreguidão que a certa altura afirmou que morrer para ele era a última esperança.

“Aqui sob os epitáfios e as cruzes não há quase nada. Aqui não estarei eu. Estarão meu cabelo e minhas unhas, que não saberão que o resto morreu, e seguirão crescendo e serão pó” (Jorge Luís Borges)

Sempre que a ele se referiam como um dos últimos sábios sobre a terra, dizia: “Não, não tenho nenhuma sabedoria. Na verdade li muito pouco, e escrevi alguns livros, somente”.

*            *    

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Jardim




Rubem Alves
Todo jardim começa com uma história de amor, antes que qualquer árvore seja plantada ou um lago construído é preciso que eles tenham nascido dentro da alma.
Quem não planta jardim por dentro, não planta jardins por fora e nem passeia por eles.
Rubem Alves

terça-feira, 14 de maio de 2013

Depois de tudo

tela de S.Dali
Cassiano Ricardo


Mas tudo passou tão depressa
Não consigo dormir agora.
Nunca o silêncio gritou tanto
Nas ruas da minha memória.
Como agarrar líquido o tempo
Que pelos vãos dos dedos flui?
Meu coração é hoje um pássaro
Pousado na árvore que eu fui.

Cassiano Ricardo Leite foi um jornalista, poeta e ensaísta brasileiro. Representante do modernismo de tendências nacionalistas, esteve associado aos grupos Verde-Amarelo e da Anta

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Recordo Ainda…

                                                                                        
 Mario Quintana

Recordo ainda… e nada mais me importa…
Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre, de lembrança,
Algum brinquedo novo à minha porta…
Mas veio um vento de Desesperança
Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
Todos os meus brinquedos de criança…
Estrada afora após segui… Mas, ai,
Embora idade e senso eu aparente
Não vos iluda o velho que aqui vai:
Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino… acreditai…
Que envelheceu, um dia, de repente!

domingo, 12 de maio de 2013

Soberania



Manoel de Barros

Naquele dia, no meio do jantar, eu contei que
tentara pegar na bunda do vento — mas o rabo
do vento escorregava muito
e eu não consegui pegar.
Eu teria sete anos.
A mãe fez um sorriso carinhoso para mim e não disse nada.
Meus irmãos deram gaitadas me gozando.
O pai ficou preocupado
e disse que eu tivera um vareio da imaginação.
Mas que esses vareios acabariam com os estudos.
E me mandou estudar em livros. Eu vim.
E logo li alguns tomos havidos na biblioteca do Colégio.
E dei de estudar pra frente.
Aprendi a teoria das idéias e da razão pura.
Especulei filósofos e até cheguei aos eruditos.
Aos homens de grande saber.
Achei que os eruditos
nas suas altas abstrações
se esqueciam das coisas simples da terra.
Foi aí que encontrei Einstein (ele mesmo— o Alberto Einstein).
Que me ensinou esta frase:
A imaginação é mais importante do que o saber.
Fiquei alcandorado! E fiz uma brincadeira.
Botei um pouco de inocência na erudição.
Deu certo.
Meu olho começou a ver de novo
as pobres coisas do chão mijadas de orvalho.
E vi as borboletas.
E meditei sobre as borboletas.
Vi que elas dominam o mais leve
sem precisar de ter motor nenhum no corpo.
(Essa engenharia de Deus!)
E vi que elas podem pousar nas flores e nas pedras
sem magoar as próprias asas.
E vi que o homem não tem soberania
nem pra ser um bentevi.

*            *            *

- in "Memórias Inventadas - A Terceira Infância",

sábado, 11 de maio de 2013

Viviane Mosé

Toda Palavra
Procuro uma palavra que me salve
Pode ser uma palavra verbo
Uma palavra vespa, uma palavra casta.
Pode ser uma palavra dura. Sem carinho.
Ou palavra muda,
molhada de suor no esforço da terra não lavrada.
Não ligo se ela vem suja, mal lavada.
Procuro uma coisa qualquer que saia soada do nada.
Eu imploro pelos verbos que tanto humilhei
e reconsidero minha posição em relação aos adjetivos.
Penso em quanta fadiga me dava
o excesso de frases desalinhadas em meu ouvido.
Hoje imploro uma fala escrita,
não pode ser cantada.
Preciso de uma palavra letra
grifada grafia no papel.
Uma palavra como um porto
um mar um prado
um campo minado um contorno
carrossel cavalo pente quebrado véu
mariscos muralhas manivelas navalhas.
Eu preciso do escarcéu soletrado
Preciso daquilo que havia negado
E mesmo tendo medo de algumas palavras
preciso da palavra medo como preciso da palavra morte
que é uma palavra triste.
Toda palavra deve ser anunciada e ouvida.
Nunca mais o desprezo por coisas mal ditas.
Toda palavra é bem dita e bem vinda.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Maria Silvia Boaventura


Mulher Maravilha
Entre uma colher de feijão
e duas de arroz
a mulher maravilha mastiga o peixe
respira raso
resfolega,  engole seco
e se consola
com um quebra-queixo
de sobremesa

A mulher maravilha deita
respira fundo
ressona e sonha
senhora da hora sem horas
sente que cinqüenta, sessenta anos se passaram
e que a morte não é dona de tudo
descobre que o imaginado existe
e que ainda pode mergulhar no por do sol
e ouvir estrelas

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Poeminha Amoroso


Cora Coralina
Este é um poema de amor
tão meigo, tão terno, tão teu...
É uma oferenda aos teus momentos
de luta e de brisa e de céu...
E eu,
quero te servir a poesia
numa concha azul do mar
ou numa cesta de flores do campo.
Talvez tu possas entender o meu amor.
Mas se isso não acontecer,
não importa.
Já está declarado e estampado
nas linhas e entrelinhas
deste pequeno poema,
o verso;
o tão famoso e inesperado verso que
te deixará pasmo, surpreso, perplexo...
eu te amo, perdoa-me, eu te amo...


sábado, 4 de maio de 2013

Hilda Hilst


Se a tua vida se estender
Mais do que a minha
Lembra-te, meu ódio-amor,
Das cores que vivíamos
Quando o tempo do amor nos envolvia.
Do ouro. Do vermelho das carícias.
Das tintas de um ciúme antigo
Derramado
Sobre o meu corpo suspeito de conquistas.
Do castanho de luz do teu olhar
Sobre o dorso das aves. Daquelas árvores:
Estrias de um verde-cinza que tocávamos.

E folhas da cor das tempestades
contornando o espaço
De dor e afastamento.

Tempo turquesa e prata
Meu ódio-amor, senhor da minha vida.
Lembra-te de nós. Em azul. Na luz da caridade.”