sexta-feira, 28 de junho de 2013

Soneto do Orfeu


Vinícius de Moraes
São demais os perigos dessa vida
Para quem tem paixão, principalmente
Quando uma lua surge de repente
E se deixa no céu, como esquecida
E se ao luar, que atua desvairado
Vem unir-se uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher
Uma mulher que é feita de música,
Luar e sentimento, e que a vida
Não quer, de tão perfeita
Uma mulher que é como a própria lua:Tão linda que só espalha sofrimento,Tão cheia de pudor que vive nua.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Citação de Millôr Fernandes



  "Se você não tem dúvidas é porque está mal informado."

 presente no livro "Não se desespere!",
 de Mário Sergio Cortella:

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Saudade ...


Pablo Neruda
...Saudade é amar um passado que ainda não passou,
É recusar um presente que nos machuca,
É não ver o futuro que nos convida...

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Eu me esforço para ser cada dia melhor...


Cora Coralina
"Procuro semear otimismo e plantar sementes de paz e justiça. Digo o que penso, com esperança. Penso no que faço, com fé. Faço o que devo fazer, com amor. Eu me esforço para ser cada dia melhor, pois bondade também se aprende. Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar; porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o decidir."

A justiça...


Theodore Roosevelt
A justiça não consiste em ser neutro entre o certo e o errado, mas em descobrir o certo e sustentá-lo, onde quer que ele se encontre, contra o errado.


sábado, 22 de junho de 2013

O Cão Sem Plumas

Joao Cabral de Melo Neto

A cidade é passada pelo rio
como uma rua
é passada por um cachorro;
uma fruta
por uma espada.

O rio ora lembrava
a língua mansa de um cão
ora o ventre triste de um cão,
ora o outro rio
de aquoso pano sujo
dos olhos de um cão.

Aquele rio
era como um cão sem plumas.
Nada sabia da chuva azul,
da fonte cor-de-rosa,
da água do copo de água,
da água de cântaro,
dos peixes de água,
da brisa na água.

Sabia dos caranguejos
de lodo e ferrugem.

Sabia da lama
como de uma mucosa.
Devia saber dos povos.
Sabia seguramente
da mulher febril que habita as ostras.

Aquele rio
jamais se abre aos peixes,
ao brilho,
à inquietação de faca
que há nos peixes.
Jamais se abre em peixes.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Alegria...


João Guimarães Rosa
Deus nos dá pessoas e coisas,
para aprendermos a alegria...
Depois, retoma coisas e pessoas
para ver se já somos capazes da alegria
sozinhos...
Essa... a alegria que ele quer

terça-feira, 18 de junho de 2013

Compreendi, então,


Rubem Alves
Compreendi, então,
que a vida não é uma sonata que,
para realizar a sua beleza,
tem de ser tocada até o fim.
Dei-me conta, ao contrário,
de que a vida é um álbum de mini-sonatas.
Cada momento de beleza vivido e amado,
por efêmero que seja,
é uma experiência completa
que está destinada à eternidade.
Um único momento de beleza e amor
justifica a vida inteira.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Se escrevo...


Fernando Pessoa
Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto

sábado, 15 de junho de 2013

Renucia


Emilio Moura
Se eu cheguei a esta renúncia total, foi porque o meu sofrimento me transfigurou sem que eu o percebesse.
Aqui estou, tímido e humilde.
Parece que aqui estou há séculos.
Meus olhos já não compreendem outra realidade.
A realidade que amei dorme na sombra.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

O que Me Dói não É...


Fernando Antonio Nogueira  Pessoa

O que me dói não é
O que há no coração
Mas essas coisas lindas
Que nunca existirão...

São as formas sem forma
Que passam sem que a dor
As possa conhecer
Ou as sonhar o amor.

São como se a tristeza
Fosse árvore e, uma a uma,
Caíssem suas folhas
Entre o vestígio e a bruma.
*
In "Cancioneiro"

terça-feira, 11 de junho de 2013

Levo o meu rumo na minha mão.'

Cecília Meireles
Que procuras? Tudo. Que desejas? — Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.'

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Olhe...

C.Lispector
Olhe, tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras.
Sou irritável e firo facilmente.
Também sou muito calma e perdôo logo.
Não esqueço nunca.
Mas há poucas coisas de que eu me lembre.

Em Mim Também


 Olavo Bilac

Em mim também, que descuidado vistes,
Encantado e aumentando o próprio encanto,
Tereis notado que outras cousas canto
Muito diversas das que outrora ouvistes.
Mas amastes, sem dúvida ... Portanto,
Meditai nas tristezas que sentistes:
Que eu, por mim, não conheço cousas tristes,
Que mais aflijam, que torturem tanto.
Quem ama inventa as penas em que vive;
E, em lugar de acalmar as penas, antes
Busca novo pesar com que as avive.
Pois sabei que é por isso que assim ando:
que é dos loucos somente e dos amantes
na maior alegria andar chorando

domingo, 9 de junho de 2013

ARTE FINAL


Affonso Romano

Não basta um grande amor
                                             para fazer poemas.
E o amor dos artistas, não se enganem,
não é mais belo
                          que o amor da gente.

O grande amante é aquele que silente
se aplica a escrever com o corpo
o que seu corpo deseja e sente.

Uma coisa é a letra,
e outra o ato,
                       - quem toma uma por outra
                       confunde e mente.

sábado, 8 de junho de 2013

A Hora da Estrela


Clarice Lispector
Ela acreditava em anjo e, porque acreditava, eles existiam.


A poesía te escolhe, não a escolhes.


MANUEL ORESTES NIETO

A poesía te escolhe, não a escolhes.
Te acolhe, como um tíbio ventre de mulher
no centro do amor.

Tudo doa no ato de saber
que tudo deve ser tomado.
Não trama, tece para os outros. Às vezes com dor.
Sua virtude principal consiste
em maltratar-te por banal.
Acossar o turvamento de teus días, é seu ofício.
2.

Exorcizar-te
para que possam viver contigo
as vidas que rondam nos diâmetros
que teu coração é capaz de traçar.
Te abandona quando tentas sortear
suas conseqüências.
Foge dos lugares onde a imaginação
e o assombro morreram
e evita passar por onde coabitam
ruindades do espírito.
Está feita de presença
porque tem o dom de desdobrar-se
sem deixar de ser inteira.

3.

Filha da palabra
vituperaram-na sem poder tocá-la.
Irmã da história
foi queimada e posta em custódia
dos carcereiros.
Com esta qualidade única
de não necessitar de repouso,
não desfalece nem conhece a fadiga.
Seus textos falsificados,
desonrados seus leais oficiantes,
distorcida até o cansaço,
prefere a rota do viajante
do que viver nos templos
que pôde edificar
pela magnitude de sua luz.
4.

Humilde como só ela,
entra sem ruído na casa da fome,
varre seus rincões,
limpa o pó mais afastado,
conserta o roído
e se encarrega do roto.
Vidente dos fatos
com que se mede o tempo,
a idade e a plenitude
da comoção dos que se reúnem.
Andaime do porvir.
Frágua, cosntância,
fole, criadora.

5.

Diante de ti
há uma vergonha confessa que aspira
a sua purificação.
Alguém que desenterrou sua pedra angular
para refazer sua pirámide
antes que o matagal a oculte.
Clamaste para que se detenha
o sacrificio irracional
e a rachadura
dos bárbaros se feche.
Te interpuseste
entre a adaga e o indefeso.
Aprendeste que a compaixão
tem seus fornecedores
no olho da agua do injusto.
Apesar de tuas razões,
te cabe errar como os despatriados forçados,
cercados e reduzidos à proibição.
E te levaram em um andor
longas filas de homens sérios,
estremecidos até a perturbação
pelo que pode provocar
a ignominia.

6.

Quiseram transformá-la em mãe da lamentação
e da desesperança.
Velório de cosmético, graça de feira.
Acenderam incensos
e construíram urnas de cristal.
Difundiram, sem parar,
que nasceste para o sonho e que a vida
pouco tem a ver com teus costumes.
Tentaram de enfeitar
como jóia de cristaleira
e te presentearam todos os espelhos
para neles veres
refletidas suas consciencias.
Mas soubeste dizer-lhes que não.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Caio F Abreu


Quero colo

Exatamente assim. Pesada, sufocada. Ando com uma vontade tão grande de receber todos os afetos, todos os carinhos, todas as atenções.

Quero colo, quero beijo, quero cafuné, abraço apertado, mensagem na madrugada, quero flores, quero doces, quero música, vento, cheiros ... quero parar de me doar e começar a receber.

Sabe, eu acho que não sei fechar ciclos, colocar pontos finais. Comigo são sempre virgulas, aspas, reticências... eu vou gostando... eu vou cuidando, eu vou desculpando, eu vou superando, eu vou compreendendo, eu vou relevando, eu vou... e continuo indo, assim, desse jeito, sem virar páginas, sem colocar pontos... e vou... dando muito de mim, e aceitando o pouquinho que os outros tem para me dar.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Que o tempo nunca leve


Alice Ruiz
Que o breve
Seja de um longo pensar
Que o longo
Seja de um curto sentir
Que tudo seja leve
De tal forma
Que o tempo nunca leve!


terça-feira, 4 de junho de 2013

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Trocando em miúdos


Chico Buarque
“Eu bato o portão sem fazer alarde
Eu levo a carteira de identidade
Uma saideira, muita saudade
E a leve impressão de que já vou tarde.”

DA FELICIDADE


Mario Quintana
Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!

sábado, 1 de junho de 2013

Para que ninguém a quisesse


Marina Colassanti
Porque os homens olhavam demais para a sua mulher, mandou que descesse a bainha dos vestidos e parasse de se pintar. Apesar disso, sua beleza chamava a atenção, e ele foi obrigado a exigir que eliminasse os decotes, jogasse fora os sapatos de saltos altos. Dos armários tirou as roupas de seda, da gaveta tirou todas as jóias. E vendo que, ainda assim, um ou outro olhar viril se acendia à passagem dela, pegou a tesoura e tosquiou-lhe os longos cabelos. Agora podia viver descansado. Ninguém a olhava duas vezes, homem nenhum se interessava por ela. Esquiva como um gato, não mais atravessava praças. E evitava sair.
Tão esquiva se fez, que ele foi deixando de ocupar-se dela, permitindo que fluísse em silêncio pelos cômodos, mimetizada com os móveis e as sombras. Uma fina saudade, porém, começou a alinhavar-se em seus dias. Não saudade da mulher. Mas do desejo inflamado que tivera por ela. Então lhe trouxe um batom. No outro dia um corte de seda. À noite tirou do bolso uma rosa de cetim para enfeitar-lhe o que restava dos cabelos. Mas ela tinha desaprendido a gostar dessas coisas, nem pensava mais em lhe agradar. Largou o tecido em uma gaveta, esqueceu o batom. E continuou andando pela casa de vestido de chita, enquanto a rosa desbotava sobre a cômoda.
In: Conto de amor rasgados.