sábado, 30 de novembro de 2013

ela era...


Renata Fagundes
Ela era uma mulher de fibra, guerreira
mas tinha mania de sentir o som
ouvir os tons
desnudar o corpo
e cantar em silêncio

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Fátima Fonseca
A pá-lavra
arrasta entulhos
me cava rios
floresce esperança
me apascenta entre os lírios

Eu (:) rio


Bianka Andrade

Eu: rio de dor.
Eu rio da dor
persistente,
perspicaz,
penetrante.

Eu rio da dor.
Eu: rio de dor
consciente,
cos+]tumaz,
cortante.

Companheiro sagaz
esse absinto amargor.
Companheiro insistente
esse rio de dor.

Eu rio da dor.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Anatomia


Ana Caetano

Qual a matéria do poema?
A fúria do tempo com suas unhas e algemas?

Qual a semente do poema?
A fornalha da alma com os seus divinos dilemas?

Qual a paisagem do poema?
A selva da língua com suas feras e fonemas?

Qual o destino do poema?
O poço da página com suas pedras e gemas?

Qual o sentido do poema?
O sol da semântica com suas sombras pequenas?

Qual a pátria do poema?
O caos da vida e a vida apenas?  

terça-feira, 26 de novembro de 2013

O último verso de Celan


Alexandre Marino

Margeia o rio o anónimo suicida,
a afogar-se na aridez humana.
Ainda lhe resta uma luz na madrugada,
realizar a morte como projeto de vida.

Não é um rio qualquer, é o Sena,
a dividir a civilização ao meio.
Testemunha de históricas tragédias,
que a paz dessas águas não serena.

Ele versejou no idioma dos carrascos
e procurou nas dores a beleza.
Quantos parasitas quebram o silêncio...
Cruza a ponte o morto solitário.
A noite parece leve a seus eflúvios.
Contra as feras, faz-se náufrago.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

inicio-me onde germina o voo dos pássaros.


Alexandre Bonafim

Estou na iminência do ser.
A existência de tudo calou-se em mim.
No além dos pensamentos,
fecundei-me na nudez dos sonhos.
Agora sou límpido como céu
despido de nuvens. inicio-me
onde germina o voo dos pássaros.

sábado, 23 de novembro de 2013

Clarice Lispector

Só o que está morto não muda!
Repito por pura alegria de viver:
A salvação é pelo risco,
Sem o qual a vida não vale a pena!!!"

Romance


Fátima Fonseca

começava uma história de amor
quando  fui dominada pelos   inquietos  
todos tinham  traços de loucura
me habitaram todos os solitários e desamparados 
aqueles que viveram esperando a felicidade

nesse turbilhão de  suplicas ,
encantamentos,
canções  sem rumo,
transbordei...
derramei  dores e amores
esvasiei  me  das personagens  e seus romances

então, quem é que ainda planta mudas de desejos dentro de mim?


sexta-feira, 22 de novembro de 2013

toda prosa

Fátima Fonseca
a menina pintou os lábios
caprichou no decote
e toda prosa foi pra janela
esperar um possível bote.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A SOMBRA QUE NOS HABITA


              
       IVAN MARTINS

 Há uma tristeza em nós que sobrevive às maiores alegrias. Todo mundo sabe disso. Freud, Shakespeare, Paulo Leminski. Um dia, inevitavelmente, os neurocientistas irão localizar, com ajuda de ressonância magnética, o vão do cérebro que permanece cinza mesmo no auge da euforia e no ápice da paixão. Então saberemos, com rigor científico, o que sempre soubemos: que a sombra e a melancolia são partes inseparáveis de nós.

Ter isso claro ajuda a entender o que nos passa. Ajuda a compreender nossos humores estranhos. Ajuda a entender uma tarde sombria no auge do verão. Ajuda a aceitar uma noite em claro, o silêncio no meio da festa, a vontade irresistível de chorar ouvindo uma canção no rádio. Também somos assim.

Às vezes temos sonhos de abandono em momentos serenos da vida. Neles, a pessoa que a gente ama vai embora, nos vira as costas, torna-se repentina e irremediavelmente inacessível. A gente acorda de um sonho desses com a alma turva, tomado de desconfiança. Olha cheio de ressentimento para a outra, adormecida ali ao lado, e se pergunta: por quê?

Não acho que exista uma resposta, mas eu tenho uma teoria.

A mim parece que a natureza nos dotou de alarmes. De quando em quando, um deles dispara para nos lembrar, realisticamente, que não há bem que sempre dure. É como se algo em nós dissesse (através do sonho, da inexplicável melancolia, de um pressentimento repentino), “Por favor, não se acostume. As relações não são eternas, a vida não é simples, a dor é inevitável.” Algo em nós avisa que a tristeza faz parte da vida.

Muita gente não está interessada, claro. A moda é parecer feliz e bem-sucedido. Tem mais de um rei do camarote dando pinta por aí. Mas essa fachada social sorridente precisa ser posta de lado na intimidade - ou a intimidade não existe. No aconchego de uma relação verdadeira, tem de haver espaço para os nossos medos, as nossas falhas e as inconfessáveis inseguranças. O lado B da alma humana precisa aparecer, nem que seja no escuro. Sem ele a gente não se entende, nem entende o outro.

Isso não cabe na trama das novelas, mas pessoas de verdade têm sonhos e dias ruins. Gente de carne e osso frequentemente parece incompreensível. Certas manhãs, elas nos olham com tanta tristeza que dá vontade de escrever um poema, de abraçar apertado, de segurar pelas bochechas e dizer “Eu sei como é. Eu estou aqui”. Talvez nem adiante, mas faz parte. Estamos nesse mundo também para nos consolar mutuamente.

Por isso acho bacana respeitar minha tristeza e a dos outros. Ela faz parte. Nos livra da idiotia de um sorriso permanente. Nos coloca em harmonia com um mundo nem sempre gentil. Reflete algo de profundo e inexorável da nossa biologia. No final das contas, é parte de nós. Como a alegria. Se não ligarmos para ela durante o dia, virá nos visitar durante a noite, num sonho – do qual sairemos de olhos molhados e sozinhos, até que um abraço nos resgate.

domingo, 17 de novembro de 2013

Pedaços de Mim


Martha Medeiros

Eu sou feito de Sonhos interrompidos detalhes despercebidos amores mal resolvidos.  Sou feito de Choros sem ter razão pessoas no coração atos por impulsão.  Sinto falta de Lugares que não conheci experiências que não vivi momentos que já esqueci.  Eu sou Amor e carinho constante distraída até o bastante não paro por um instante.  Já Tive noites mal dormidas perdi pessoas muito queridas cumpri coisas não prometidas.  Muitas vezes eu Desisti sem mesmo tentar pensei em fugir,para não enfrentar sorri para não chorar.  Eu sinto pelas Coisas que não mudei amizades que não cultivei aqueles que eu julguei coisas que eu falei.  Tenho saudade De pessoas que fui conhecendo lembranças que fui esquecendo amigos que acabei perdendo Mas continuo vivendo e aprendendo.

sábado, 16 de novembro de 2013

alegria


assinado


Fátima Fonseca

uma letra sagaz
inclinação para a arte
torta de malícia
contornos de elegância
letra que estica,  retorce
disfarça ternura e escorre mistério
com passos ocultos
passeias traiçoeira em ausência
cutuca  vaidade
assombra  espantalhos
espreguiça em  “G”
vidra minha atenção
sem me ver contigo
o gato e mulher se confundem
no espelho. 


quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Adão Ventura


ALFABETIZAÇÃO

Papai
levava tempo
para redigir uma carta

Já mamãe Sebastiana de José Teodoro
teve a emoção de assinar seu
                                nome completo
já quase aos setenta anos

PAISAGENS DO JEQUITINHONHA

Quem dança no vento
                            no ventre das águas
                            do Jequitinhonha?

Quem percorre o leve
                            de breves passos
nas margens do Araçuaí?

Quem detém dos pássaros
                            o ziguezaguear de vôos
                            recompondo sombras
                            sobre lixívias e lavras
                            de Chapada do Norte?

Quem imprime
                   em argila
                   a singeleza dos gestos
                   dos artesãos de Minas Novas?

IAM

não sei não. mas a aqui a gente
conversa assuntos
que na Capital necas/nadas.
lá é aquela gente correndo
— correria sem fim
pra qualquer decá aquela palha.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Pergunta-me

Mia Couto
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda
o minuto de cinza
se despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue

Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos

Pergunta-me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me detive
junto das pontes enevoadas
e se eras tu
quem eu via
na infinita dispersão do meu ser
se eras tu
que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente

Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer

Não falei, mas concordo!


"Tem coisas que o coração só fala para quem sabe escutar!"

"E o que importa não é o que você tem na vida, mas sim quem você tem na vida."

"O que não nos derruba, só nos fortalece!"

"Tempo é aquilo que passa enquanto eu me divirto!"

"A emoção me faz chorar... a tristeza me faz crescer."

"Se as pessoas que falam mal de mim soubessem o que penso delas, falariam mais!"

"Não vou desistir, nem desanimar. Sei que a vida passa se a gente para de lutar.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

sentidos


David Mourão-Ferreira
Nós temos cinco sentidos:
são dois pares e meio de asas.
Como quereis o equilíbrio?

Este livro



José Luís Peixoto
este livro. passa um dedo pela página, sente o papel
como se sentisses a pele do meu corpo, o meu rosto.

este livro tem palavras. esquece as palavras por
momentos. o que temos para dizer não pode ser dito.

sente o peso deste livro. o peso da minha mão sobre
a tua. damos as mãos quando seguras este livro.

não me perguntes quem sou. não me perguntes nada.
eu não sei responder a todas as perguntas do mundo.

pousa os lábios sobre a página. pousa os lábios sobre
o papel. devagar, muito devagar. vamos beijar-nos.


domingo, 10 de novembro de 2013

cicatriz


Caio Fernando Abreu
"Temos de ver todas as cicatrizes como algo belo. Combinado?
 Este vai ser o nosso segredo. Porque, acredite em mim, uma cicatriz não se forma num morto.
Uma cicatriz significa: “Eu sobrevivi.


sábado, 9 de novembro de 2013

às vezes estou para Lispector, Espanca ou para Barros... ontem estive com anônimos, hoje acordei A breu


"Eu sou uma eterna apaixonada por palavras. Música. E pessoas inteiras. Não me importa seu sobrenome, onde você nasceu, quanto carrega no bolso. Pessoas vazias são chatas e me dão sono. Gosto de quem mete a cara, arrisca o verso, desafia a vida. Eu sou criança. E vou crescer assim. Gosto de abraçar apertado, sentir alegria inteira, inventar mundos, inventar amores. O simples me faz rir, o complicado me aborrece".
Caio Fernando de Abreu

"Eu sei que todos os dias quando eu acordo Deus dá um sorriso e me diz: Estou te dando a chance de tentar de novo."
Caio Fernando de Abreu

A vida é feita de escolhas. Quando você dá um passo à frente, inevitavelmente alguma coisa fica para trás.
Caio Fernando de Abreu

Tô me afastando de tudo que me atrasa, me engana, me segura e me retém. Tô me aproximando de tudo que me faz completo, me faz feliz e que me quer bem.(...)
Caio Fernando de Abreu

“Escrever é enfiar um dedo na garganta. Depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma. Pode sair até uma flor. Pode sair até uma flor. Mas o momento decisivo é o dedo na garganta."
Caio Fernando de Abreu

"Então e assim, somos presente, passado e futuro. Tempo infinito num só, esse é o eterno."
Caio Fernando de Abreu

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Se é pra amanhecer, que me permita ser sempre verão…


Erikah Azzevedo
Se é pra aquecer que eu me faça sempre fogo. Se é pra amanhecer, que me permita ser sempre verão…se é pra recomeçar que eu me sinta sempre dia, se é pra iluminar que eu me veja sempre sol....e se eu me estilhaçar que possam me transformar em estrelas porque se é pra viver que seja sempre de explosões e se for pra arder que seja sempre de vida.

.....

Hilda Hilst
Se te pareço noturna
e imperfeita
Olha-me de novo.
Porque esta noite
Olhei-me a mim,
como se tu me olhasses
E era como se a água
Desejasse...

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Poda


Desfolhar
Doi mudar
Renascer, renovar 

AS PALAVRAS SÃO NOVAS


José Saramago 


As palavras são novas: nascem quando
No ar as projectamos em cristais
De macias ou duras ressonâncias


Somos iguais aos deuses, inventando
Na solidão do mundo estes sinais
Como pontes que arcam as distâncias.



NO SILÊNCIO DOS OLHOS
Em que língua se diz, em que nação, 
Em que outra humanidade se aprendeu 
A palavra que ordene a confusão 
Que neste remoinho  se teceu? 
Que murmúrio de vento, que dourados 
Cantos de ave pousada em altos ramos 
Dirão, em som, as coisas que, calados, 
No silêncio dos olhos confessamos?


quarta-feira, 6 de novembro de 2013

INFÂNCIA


Marc Gogh
Meninice a saltar por Santa Teresa
bairro de minha infância, das peraltices
das brincadeiras na praça, dos jogos
a deliciar o momento da criançada.

Rua Salinas, primeira estação
o beco, o cortiço do Seu Manoel,
vidas em trânsito, crianças eletrizantes
pobreza ao derredor e muita falação.

Rua Professor Raimundo Nonato
barraco mui simples e amado
historietas de cinco criaturinhas
despontando para a vida que acena.

Mãe com jeito protetor
animal arisco protege sua prole
bravura destemida em índole nortista
sensível no coração de grande mulher.

O pai, longe, labor bem distante
toque narcísico de sua existência
permeia as terras das Geraes,
amoroso no jeito doce de ser.

Gritaria da turma na "gran" barroca
buraco fundo, terra rosada
restos de construção, cacos de vidro,
criançada em auge aposta que voa.

Festas animadas na casa simples
reunião dos verdadeiros amigos,
Titia e Almir, risadas em êxtase
borbulhar dos infantes.

Jogos de baralho, casa do Zé Moreira
fumaça embaçante dos cigarros no ar
gritos entusiasmados... TRUCO!
meninada a comer bananada, a farrear.


Caminho para a escola, descida
chororô da mais nova
caminho de brita, casas amigas
caminho de volta, subida.

Sandoval de Azevedo... feijão azedo
Dona Ondina com sua braveza
Professora Natália com sua brandura
tirou o melhor de mim... E eu me achei!





RANCHO QUE DÓI FUNDO


Marc Gogh
Tem horas que vivo do passado
e que o passado vive em mim
(sintomas de quem envelhece),
passado de minha infância
tempos de pura inocência
que vivi em Congo do Soco
pedaço da querida Barão de Cocais.

Ai, que saudade me dá!

Das terras vermelhas, dos caminhos
que levavam à Fazenda Rancho Fundo,
terras dos avós, a perder de vista
delicioso riacho a trepidar
meu coração a palpitar...
nas alegres travessuras que fazia lá.

Ai, que saudade me dá!

Do grande moinho a cantarolar
envolvendo as águas de modo circular,
da gigante máquina de moagem de cana
preparando a doce e escura garapa,
tacho de cobre,  melado de rapadura
salpica borbulhas, tão quente está.

Ai, que saudade me dá!

Dos alqueires com plantação
escondidos entre montanhas virgens
vistos pelo olhar infante
mundo tão vasto, sem vizinhos
na estrada, cobras de vidro encontrar
à noite, fogueira, causos de arrepiar.

Ai, que saudade me dá!

Da tão desejada festa em família,
festa dos aniversários de vovó,
família a cantarolar,
petiscos a saborear,
hinos de alegria e graça
no arrasta pé, sem hora de acabar.

Ai, que saudade me dá!
Da Estrela D'alva no céu a despontar!


texto compartilhado pela poeta e amiga Silvia Boaventura

Viva a tristeza
                                                                   Zélia Duncan
Não, não vou falar mal da tristeza, não seria justo. Eu devo a ela minhas profundidades, minha imaginação, minha volta por cima. Graças a ela vislumbrei coisas importantes para mim. Músicas que várias pessoas conhecem. Cartas, textos, coisas que ninguém vai ler, mas que me serviram em algum momento Mergulhei no por do sol, uivei para a lua, encostei a cabeça na janela daquele dia de chuva e ouvi a música mais linda do mundo. Num dia triste, me sentindo fora do planeta, fui ao cinema e vi Blade Runner.
Num dia soturno fui caminhar na praia e vi a onda mais azul, o céu mais infinito e o horizonte mais perfeito. Num dia triste li e reli Fernando Pessoa e não me senti só. Num dia assim triste uma criança correu e abraçou as minhas pernas, cutucou minha esperança, me confundiu com alguém querido e me fez ligar para alguém que eu amava. Num dia cinza eu me senti viva e quis virar lápis de cor. Num dia oco eu procurei motivos novos e antigos pra me preencher de novo e foi até divertido. Num dia assim – assim trouxe um cachorrinho pra casa, que virou meu menor companheiro. Num dia tristíssimo procurei por você e sua voz me encheu de sorrisos até o resto do dia. No dia mais triste do mundo eu perdi um amigo. No dia seguinte, ainda triste, agradeci por ter tido um dia um amigo que me valesse tanto. Num dia infinitamente triste eu cantei. Minha voz era a voz da tristeza, precisamos nos indignar com ela, precisamos desejar a alegria genuinamente. Com essa mania de corrigir tudo no computador, acabamos facilitando nossa fragilidade diante de tudo. Ortografias, fotos, cores, sorrisos, a vida vai virando um show de Trumman de verdade ! Você ouve uma voz, mas não tem certeza se foi corrigida ou não, vê uma foto, mas não sabe se há silicone, injeções ou photoshops, lê um texto e a autoria fica vagando pelos sites. Um olhar positivo sobre a vida é sempre fundamental, mas, neste mundo em que vivemos, ter como exigência o riso é quase uma falta de respeito.. .Ou de consciência.  Sei lá, vejo as pessoas querendo morrer de rir, muitas vão ao teatro só se for comédia, e isso me assusta um pouco. Se não entrarmos em contato com as consistências das coisas e suas eventuais tristezas, como podemos acreditar na alegria quando ela vem?

Maria Sílvia Vargas Boaventura- Oficina de Escrita 5/11/2013

mini conto (ilustrado em fato real)

Mini conto I
Horácio Júnior , engenheiro, casado, três filhos, meu vizinho de longas datas e colega de boteco.
Horácio  tem os olhos esverdeados e rasgados, por isso foi apelidado de “cat”.
Por falar nele por onde andas?
No bar fiquei sabendo que ele  divorciou, mudou de bairro, e estava evitando contatos.
Mini conto II
Era uma tarde de segunda-feira, fazia muito calor e eu estava numa fila dentro de um cartório de Belo Horizonte lotado de pessoas ansiosas para serem atendidas quando alguém pelas minhas costas puxou sutilmente  a manga da minha camisa e pronunciou “zino” meu apelido que só familiares e vizinhos conheciam. Virei e fiquei muito assustado  pois era um mendigo sujo com cabelos felpudos que quase cobriam seu rosto, fiquei estático sem entender. Arregalei os olhos e me aproximei um pouco mais na tentativa de entender quando ele pronunciou  em tom de brincadeira: miaaau...
–cat ! !!!
_Sim,  sou eu.
Você tem um trocado pra um cafezinho?

recebeu o dinheiro e saiu rapidamente sem agradecer.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

uma frase do poeta Jorge Luís Borges

"Eu acho que os jovens são facilmente infelizes porque, é claro, as
  paixões são mais fortes e, entre as paixões, está o desespero, não é?
 "


superação


Fátima Fonseca
Uma árvore retorcida
Um ninho pendurado
A noite umedecida

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

lua congelada


Mário Benedetti

Com esta solidão
ingrata
tranquila

com esta solidão
de sangrados achaques
de distantes uivos
de monstruoso silêncio
de lembranças em alerta
de lua congelada
de noite para outros
de olhos bem abertos

com esta solidão
desnecessária
vazia

se pode algumas vezes
entender
o amor.

domingo, 3 de novembro de 2013

bem-me quer...


José Saramago
“A vida, esta vida que inapelavelmente, pétala a pétala,
vai desfolhando o tempo, parece, nestes meus dias,
ter parado no bem-me-quer …”

sábado, 2 de novembro de 2013

receitas de Aninha


Fátima Fonseca

ouço seu andar pelos morros dos meus olhos
nem sei se aqui é Minas
mas vejo pontas de minhas raízes ressequidas nessas páginas
conheço esse caminho de pedrinhas miúdas, reviradas...
florzinhas acanhadas, pisadas, maltratadas.

- aqui há sol! muito sol!
sua voz de nascimentos  sopra-me versos

feinha vou milagrando em letras nas rachaduras
da dureza da vida
frágil, relutante, bravia...
integrando na lição terna

curvo em seu ouvido
-semear, vigiar, colher...

Ah, Aninha, ainda faço doces com suas receitas.