segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Agonia de ser


fátima fonseca


A chuva agreste o sertão

A vó sempre dizia: olha por onde pisa menina!
desvia das poças d’água!
mas ela insistia em molhar os pés
afundar na lama
pegar frieira entre os dedos

Aprendeu a fala medonha dos raios que partem
do tempo tingido de nuvens escuras
as palavras molhadas das goteiras
a geografia dos córregos
a imposição dos trovões, medos e reticências...

Ah, mas o que ela queria mesmo era aprender ser rio
e ficou assim: transbordando por tudo
ou talvez  tornando vazia, desamparada
escorrendo infinitamente sem conseguir  alcançar
sem saber para onde vai
agonia de ser 



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