Eu,
Tu,
Eles,
Nos, somos uma folhinha em queda livre. Insinua o outono.
Fátima Fonseca
Kathia Pimentel
Desfaço-me de todas as necessidades
Para manter-me, no mínimo, ao longe
Das febris exigências de um tempo inglório
Quero voar acima de todo incômodo
Fugir das palavras vãs e mórbidas
Soadas em estridentes falsetes
A invadir tímpanos e sonhos
Desfaço-me de toda urgência
Que a tantos falta o imprescindível
Nem um sonho para tornar verdade
Embriago-me nos agudos das alcateias
A enfrentar tempos desconhecidos
Esqueço-me no cuidar das plantas
No brilho óbvio das noites enluaradas
Até que nasça a trêmula palavra
Que reconheça a solitude
Do que tenho para viver hoje.
TE AGUARDO num verso desesperado de uma canção Neruda. No The End de uma última sessão de cinema. Nas cores da tarde de uma aquarela tardia. TE AGUARDO nos rabiscos secretos de um diário abandonado, TE AGUARDO no lado obscuro da lua, nas esquinas de amores clandestinos, na caligrafia aflita do adolescente percorrendo o labirinto do amor impossível, no beijo proibido no escurinho do cinema. TE AGUARDO no entardecer dos olhos, na noite que finda os olhos, no ocaso do olhar TE AGUARDO, TE AGUARDO.
RONALDCLAVER, FEV.2021
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Ela embrenhava no milharal por onde rastejavam as melancias. Lá na roça, longe dos produtos industrializados, minha avó nos surpreendia com aquelas bonecas de espigas nas mãos. A melancia vermelha tão doce só ela sabia escolher. E os frutos de época, chegavam até nós para falar de amor. Baixinha, magrinha com uma vara tirava os mamões verdes do pé. Lavem as mãos c sabão e vamos fazer anelzinhos. Pedia ela. Só alegria. E cada anel daquela fruta era uma aliança de amor. No tacho transformavam em doce. Existem várias formas de dizer: eu te amo. Fátima Fonseca