Quero uma palavra de fazer sonhar.
Dá-me, poeta,
uma choupana discreta
à beira do lago,
com névoa densa de alvorada
pairando, em sentinela,
convocações a melancolias escorridas
como as gotas suadas na janela,
ali onde habita a espera,
mais nada...
Empresta-me um amor ardente,
alcaloide palavra,
daqueles que se constroem
por carnes delgadas
de uma musa incoerentemente bela,
fazendo que não sabe de nada
daquele jeito que reivindica o desejo
e foge
com suas curvas, rendas, seda e sorriso raro,
deixando o rastro da necessidade de lhe invadir
sem poder, claro...
Rapte-me à sala branca, poema,
sem paredes, teto ou chão,
o nada em construção
onde nascem as concepções,
pré e pós de todas as coisas,
que carrega,
sem um símbolo sequer,
a significação interna mais pura,
última, definitiva,
e, pela letra,
eleva a vida...
Convence-me, artista,
das verdades que tu crias
como entorpecente recreio,
essas milagrosas fantasias
que tanto existem quando leio...
* * *
Adriano Dias
quinta-feira, 29 de outubro de 2015
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?
Cecília Meireles
Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
Cecília Meireles
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?
Cecília Meireles
Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
Cecília Meireles
cerrado de mim gerais
ela nasceu alí
entre os garranchos e brotos do chão
cresceu comendo arcos íris
arrotando pores de sol
embriagando de cores
dormia de barriga para cima
nas palhas de bananeiras
fingia ser fada
curvava todas as
retas
esbarrava nas nuvens do azul
e arregalava os olhos fechados
já nas pontas dos pés
tocava a linha do equador
meio do mundo
onde o riso o choro a fome
e até os sonhos eram iguais.
Fátima Fonseca
quarta-feira, 28 de outubro de 2015
Carlos Drummond de Andrade, em uma de suas cartas para sua filha, Maria Julieta, a aconselha:
“Escreva minha filha, escreva. Quando estiver entediada, nostálgica, desocupada, neutra, escreva. Escreva mesmo bobagens, palavras soltas. Experimente fazer versos, artigos, pensamentos soltos. Descreva, como exercício, o degrau da escada do seu edifício (saiu um verso sem querer). Escreva sempre, mesmo para não publicar. E principalmente para não publicar. Não tenha a preocupação de fazer obras primas; que de há muito já perdi, se é que um dia a tive. Mas só e simplesmente escrever, se exprimir, desenvolver um movimento interior que encontre em si próprio sua justificação…”
segunda-feira, 26 de outubro de 2015
domingo, 25 de outubro de 2015
quinta-feira, 22 de outubro de 2015
quarta-feira, 21 de outubro de 2015
POEMAS ESCOLHIDOS DE ANTÓNIO VILHENA
Amor oculto
Há um amor indizível à espera dos corpos
um amor quase oculto feito de sombras
e desejos que não cabem
nas palavras de um amor convencional.
Há um arco sem fim entre as margens
dessa espera, um dragão de fogo renascido
na esperança onde a solidão é coisa
de adolescentes e de amantes separados.
Há a voz indelével como as águas livres
da montanha o eco e a insónia no rubor
da tua face branca onde adormecem
as noites e o luar das mãos.
- António Vilhena, em "Só há uma vida e uma morte". 2015 (inédito).
Cuidar de ti
Cuidar de ti é trazer a Primavera cativa
os aromas do amor num aquário azul
peixes e beijos desenhados na boca.
Cuidar de ti é acordar corpo a corpo
eternidade dos instantes sem pressa
num mar de desejos em pleno fogo.
Cuidar de ti é ser tudo quanto somos
guardar o antes e o depois na melodia
de um verso que viva dentro de nós.
Cuidar de ti é dar-te sem que me peças
nunca é muito se nos damos ao outro
e ao sonho nesse mar a que regressas.
- António Vilhena, em "Só há uma vida e uma morte". 2015 (inédito).
Dor
Quando o nosso amor está doente
as estrelas parecem ainda mais distantes
há uma dor indizível sob a pele mesmo se não dizemos nada.
Sei do que falas quando falas dessa dor
que nos acorda ao nascer do dia
e se entranha quando as aves nocturnas saem para a caçada.
A dor mais funda é onde a liberdade atravessa o olhar
como um rio levada na corrente inadiável
de um amor inteiro sem lágrimas.
- António Vilhena, em "Só há uma vida e uma morte". 2015 (inédito).
É tão nosso...
É tão nosso este amor, poético e puro, sorridente e alegre!
É tão nosso o cheiro a manhã, o pão quente partilhado,
com meio-beijo ou beijo inteiro, a gargalhada esvoaçante.
É tão nosso o olhar que derramamos sobre a varanda
em busca do sol ou, ainda, quando ficamos em silêncio
adivinhando as viagens nos corpos tatuados a sémen.
É tão nosso esse gesto de pedir colo sem dizer nada
com a ponta dos dedos e acrobacias sensuais.
É tão nosso o tempo sem pressa e as palavras da noite
segredadas na pele, iluminada de horizontes e sonhos.
É tão nosso não pedir nada, ser apenas de cada um
onde permanece o muito que nos quer.
- António Vilhena, em "Só há uma vida e uma morte". 2015 (inédito).
Nos poemas onde as metáforas
Nos poemas onde as metáforas
e as tranças se desnudam
as cumplicidades e os abraços
enlaçam as árvores
entre o perto e o longe
nesse mar de sargaços
onde tudo parece pouco
quando estamos a dois
e o tempo antes de o ser
era mais que o teu nome
num vale de pétalas.
- António Vilhena, em "Templo do fogo insaciável". Coimbra: Caracol Edições, 2013.
Olhei-te nos olhos
estavam lá todas as paisagens que cresceram no silêncio,
onde apenas sobrevivem os que se entregam pelo coração.
Vi o que outros não viram antes e, talvez, os que hão-de vir.
Vi a púrpura nos lábios, tinta de muitos poemas,
subtraída ao luar nesse imenso espelho de água,
onde se afogam as mágoas e as tormentas.
Vi o Adamastor sulcando a porta das especiarias,
temor de naus e caravelas antes e depois de Calecute.
Vi o Minotauro lançando-se sobre o linho indefeso das Vestais.
Vi o que outros não viram antes e, talvez, os que hão-de vir.
Vi a beleza num castiçal luminoso, cercado de sombras e de medos
sob a mão indizível do mestre-de-cerimónias.
Onde se abriam rosas, havia paredes brancas e barra azul
para perpetuares as manhãs e o céu nos meus olhos.
Vi o que chega tarde e nunca vai embora: a arte inquieta dos instantes,
dividindo os dias e as noites numa cegueira cúmplice.
Vi o que outros não viram antes e, talvez, os que hão-de vir.
- António Vilhena, em "Só há uma vida e uma morte". 2015 (inédito).
Planície
Nos seus rostos não há lugar para ironias
a planície inteira está na pele
queimada como tatuagem da terra.
Quando a noite chega
os círios sinalizam
os percursos da intimidade
e a solidão ganha vida nas trevas
dos que ficam sem companhia.
Nunca um alentejano cantou sozinho,
a sua voz ecoa solidária, o silêncio atravessa
um tambor de paixões
orquestrando o amor de Orpheu e Eurídice.
- António Vilhena, em "Canto imperecível das aves". Coimbra: Caracol Edições, 2012.
Saudade
Olho-te na fotografia. Está lá um horizonte,
uma página à tua espera para escreveres, depois
de tanta ausência. Estão lá as linhas convergentes
como uma nódoa de esperança na pele branca
do poema. Não sou capaz de dizer os instantes à
beira do cais, onde aceno aos navios que outrora
visitaram os meus sonhos, como se estivesses nas
rotas de todos os encontros e as tuas mãos fossem
velas puídas pelo tempo. Olho-me na fotografia.
Acrescento-lhe os anos, mas não posso inventar
o que não vivemos.
Amor oculto
Há um amor indizível à espera dos corpos
um amor quase oculto feito de sombras
e desejos que não cabem
nas palavras de um amor convencional.
Há um arco sem fim entre as margens
dessa espera, um dragão de fogo renascido
na esperança onde a solidão é coisa
de adolescentes e de amantes separados.
Há a voz indelével como as águas livres
da montanha o eco e a insónia no rubor
da tua face branca onde adormecem
as noites e o luar das mãos.
- António Vilhena, em "Só há uma vida e uma morte". 2015 (inédito).
Cuidar de ti
Cuidar de ti é trazer a Primavera cativa
os aromas do amor num aquário azul
peixes e beijos desenhados na boca.
Cuidar de ti é acordar corpo a corpo
eternidade dos instantes sem pressa
num mar de desejos em pleno fogo.
Cuidar de ti é ser tudo quanto somos
guardar o antes e o depois na melodia
de um verso que viva dentro de nós.
Cuidar de ti é dar-te sem que me peças
nunca é muito se nos damos ao outro
e ao sonho nesse mar a que regressas.
- António Vilhena, em "Só há uma vida e uma morte". 2015 (inédito).
Dor
Quando o nosso amor está doente
as estrelas parecem ainda mais distantes
há uma dor indizível sob a pele mesmo se não dizemos nada.
Sei do que falas quando falas dessa dor
que nos acorda ao nascer do dia
e se entranha quando as aves nocturnas saem para a caçada.
A dor mais funda é onde a liberdade atravessa o olhar
como um rio levada na corrente inadiável
de um amor inteiro sem lágrimas.
- António Vilhena, em "Só há uma vida e uma morte". 2015 (inédito).
É tão nosso...
É tão nosso este amor, poético e puro, sorridente e alegre!
É tão nosso o cheiro a manhã, o pão quente partilhado,
com meio-beijo ou beijo inteiro, a gargalhada esvoaçante.
É tão nosso o olhar que derramamos sobre a varanda
em busca do sol ou, ainda, quando ficamos em silêncio
adivinhando as viagens nos corpos tatuados a sémen.
É tão nosso esse gesto de pedir colo sem dizer nada
com a ponta dos dedos e acrobacias sensuais.
É tão nosso o tempo sem pressa e as palavras da noite
segredadas na pele, iluminada de horizontes e sonhos.
É tão nosso não pedir nada, ser apenas de cada um
onde permanece o muito que nos quer.
- António Vilhena, em "Só há uma vida e uma morte". 2015 (inédito).
Nos poemas onde as metáforas
Nos poemas onde as metáforas
e as tranças se desnudam
as cumplicidades e os abraços
enlaçam as árvores
entre o perto e o longe
nesse mar de sargaços
onde tudo parece pouco
quando estamos a dois
e o tempo antes de o ser
era mais que o teu nome
num vale de pétalas.
- António Vilhena, em "Templo do fogo insaciável". Coimbra: Caracol Edições, 2013.
Olhei-te nos olhos
estavam lá todas as paisagens que cresceram no silêncio,
onde apenas sobrevivem os que se entregam pelo coração.
Vi o que outros não viram antes e, talvez, os que hão-de vir.
Vi a púrpura nos lábios, tinta de muitos poemas,
subtraída ao luar nesse imenso espelho de água,
onde se afogam as mágoas e as tormentas.
Vi o Adamastor sulcando a porta das especiarias,
temor de naus e caravelas antes e depois de Calecute.
Vi o Minotauro lançando-se sobre o linho indefeso das Vestais.
Vi o que outros não viram antes e, talvez, os que hão-de vir.
Vi a beleza num castiçal luminoso, cercado de sombras e de medos
sob a mão indizível do mestre-de-cerimónias.
Onde se abriam rosas, havia paredes brancas e barra azul
para perpetuares as manhãs e o céu nos meus olhos.
Vi o que chega tarde e nunca vai embora: a arte inquieta dos instantes,
dividindo os dias e as noites numa cegueira cúmplice.
Vi o que outros não viram antes e, talvez, os que hão-de vir.
- António Vilhena, em "Só há uma vida e uma morte". 2015 (inédito).
Planície
Nos seus rostos não há lugar para ironias
a planície inteira está na pele
queimada como tatuagem da terra.
Quando a noite chega
os círios sinalizam
os percursos da intimidade
e a solidão ganha vida nas trevas
dos que ficam sem companhia.
Nunca um alentejano cantou sozinho,
a sua voz ecoa solidária, o silêncio atravessa
um tambor de paixões
orquestrando o amor de Orpheu e Eurídice.
- António Vilhena, em "Canto imperecível das aves". Coimbra: Caracol Edições, 2012.
Saudade
Olho-te na fotografia. Está lá um horizonte,
uma página à tua espera para escreveres, depois
de tanta ausência. Estão lá as linhas convergentes
como uma nódoa de esperança na pele branca
do poema. Não sou capaz de dizer os instantes à
beira do cais, onde aceno aos navios que outrora
visitaram os meus sonhos, como se estivesses nas
rotas de todos os encontros e as tuas mãos fossem
velas puídas pelo tempo. Olho-me na fotografia.
Acrescento-lhe os anos, mas não posso inventar
o que não vivemos.
há vozes no escuro que me rondam
há sementes debaixo das pedras que me conhecem
que lugar é esse que me olha como se eu ainda fosse uma menina?
******
embora minha atração pelos loucos equilibra entre a razão e poesia.
minha intenção é de ser lúcida.
******
no reino animal já fui crocodilo
rasteiro silencioso pele polida.
mordida certeira ou traçoeira?
quantas vestes meu poema precisa?
******
quero esfregar no seu olhar de sabichão domador minhas artimanhas de santinha extraviada
quero pingar no mel dos seus olhos meu sangue cigana enganadora.
********
comigo ninguém pode
rastros brancos no verde
são pegadas de anjos que me rodeiam e me guardam
como a menina dos olhos
fátima fonseca
terça-feira, 20 de outubro de 2015
segunda-feira, 19 de outubro de 2015
Poema: Francisco Rafael Dantas (França in memorian)
Casa velha abandonada
Caída sobre os escombros
Lá na beira da estrada
Servindo até de assombros
Seus moradores de outrora
Quem não morreu foi embora
Pra morar na cidade
Quem conhece seu passado
Passando hoje ao seu lado
Sente tristeza e saudade
As corujas e os morcegos
Hoje são quem moram nela
A procura de sossegos
Se apoderaram dela
A poeira se entranha
Em tecidos de aranha
Enfeitando um quadro triste
Nesta velha moradia
Onde outrora era alegria
Hoje a solidão existe
Nos janelões estragados
Ao lado do corredor
Ali alguns namorados
Fizeram juras de amor
Hoje se escuta o rangido
Do tabuado encardido
Castigado pelo vento
E a tramela no chão
Talvez com recordação
De algum feliz momento
Num canto de agerol
Entre farrapos de panos
Vive um velho rouxinol
Morador há muitos anos
Tudo desapareceu
Só ele permaneceu
Na sua morada certa
Todo dia se levanta
Bate suas asas e canta
Olhando a casa deserta
Aquele alpendre da frente
Já com um lado caído
Foi ali antigamente
O lugar mais divertido
Enfeitado de papel
Brincadeira de anel
Conto de estória e leilão
Resta na parede a giz
Marca de data feliz
Pra dar mais recordação
Naquela sala pequena
Ainda existe um relatório
De ladainha e novena
Dentro de um velho oratório
Era ali que havia ensaio
Dos terços do mês de maio
Com muita alegria e festa
Um manchado escapulário
Com pedaços de rosário
É a lembrança que resta
No terreiro da cozinha
Ainda existe o batente
Onde toda tardezinha
Se contemplava o poente
O fogão velho arriado
Ainda todo manchado
Do leite que cozinhava
E para dar mais tristeza
Velhos pedaços da mesa
Que se comia e rezava
De longe se escuta o barulho
De grilo, morcego e rato
No chão, ruma de vasculho
Que o vento tangeu do mato
Caco de telha no chão
Cada parede um rachão
E a porta escancarada
Quem a conheceu não resiste
Vendo hoje o quadro triste
Desta casa abandonada
O silêncio
..pode ser sua "melhor resposta"...??
É de silêncio
o nome que te chamo
meu amor sem nome
conhecido
dum silêncio que grita
em meu ouvido
ânsia dor
com que te amo!
É de sede o beijo
que te ofereço
desta imensa sede
que é tortura
esta falta de água
esta amargura
pela falta dessa boca
que reclamo!
É de fome o abraço
que te peço
da fome de quem vem
doutras paragens
dessa de quem fez
tantas viagens
é de fome o abraço
que te peço!
É de sonho a vida
que procuro
do sonho de quem busca
e ousa e quer
do sonho que é mais sonho
na Mulher
é de sonho a vida
que procuro!
É de silêncio a força
com que te amo
esta força trovão
à flor da pele
esta força que cresce
e que me impele
e é de silêncio o nome
que te chamo!...
o nome que te chamo
meu amor sem nome
conhecido
dum silêncio que grita
em meu ouvido
ânsia dor
com que te amo!
É de sede o beijo
que te ofereço
desta imensa sede
que é tortura
esta falta de água
esta amargura
pela falta dessa boca
que reclamo!
É de fome o abraço
que te peço
da fome de quem vem
doutras paragens
dessa de quem fez
tantas viagens
é de fome o abraço
que te peço!
É de sonho a vida
que procuro
do sonho de quem busca
e ousa e quer
do sonho que é mais sonho
na Mulher
é de sonho a vida
que procuro!
É de silêncio a força
com que te amo
esta força trovão
à flor da pele
esta força que cresce
e que me impele
e é de silêncio o nome
que te chamo!...
A poesia como arte
Caminhava
entre sombras de árvores, quando pareceu a ela ouvir nitidamente: - é hora de
poesia.
Tentou
compreender o recado e anotou: poesia é diferente de poema.
Depois,
espiando respingos de chuva na vidraça, pensou: o poema nasce do desejo pelo
belo; a poesia nasce da compreensão que se tem do belo. E ainda anotou: - o
poema é uma obra em verso, nasce de um estado de admiração. Tem enredo. Poesia
é arte de escrever em verso. Nasce da poeira, símbolo da força criadora.
Desperta o belo que dorme em cada criatura.
Deixou cair
sobre a folha o pensamento e foi viver primeiro.
De volta ao
seu lugar de estar, sentiu que um vento preguiçoso espalhava as folhas soltas
sobre a mesa. Ousou pensar: a poesia tem seu momento, assim como a vida. A
morte, no entanto, passeia como este vento para Re-significar o que já existia
antes - a própria vida.
Perguntou-se,
então, a pensadora que vigiava o vento que atravessa a espessura do império dos
significados: o que vale mais, a vida ou a morte?
Anotou para
não esquecer: a poesia.
O Piano
O Piano
Nalu Nogueira
Decifra-me
Se me queres,
Tenta-me.
Há portas que estão
Apenas aparentemente
Fechadas. Abre-as.
Uma delas dá acesso a
Uma sala e dentro dela
Há um piano. Entra.
E toca-me.
Se teus Dedos produzirem
Música, terás.
Me aprendido.
sexta-feira, 16 de outubro de 2015
quinta-feira, 15 de outubro de 2015
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