quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Quero uma palavra de fazer sonhar.
Dá-me, poeta,
uma choupana discreta
à beira do lago,
com névoa densa de alvorada
pairando, em sentinela,
convocações a melancolias escorridas
como as gotas suadas na janela,
ali onde habita a espera,
mais nada...

Empresta-me um amor ardente,
alcaloide palavra,
daqueles que se constroem
por carnes delgadas
de uma musa incoerentemente bela,
fazendo que não sabe de nada
daquele jeito que reivindica o desejo
e foge
com suas curvas, rendas, seda e sorriso raro,
deixando o rastro da necessidade de lhe invadir
sem poder, claro...

Rapte-me à sala branca, poema,
sem paredes, teto ou chão,
o nada em construção
onde nascem as concepções,
pré e pós de todas as coisas,
que carrega,
sem um símbolo sequer,
a significação interna mais pura,
última, definitiva,
e, pela letra,
eleva a vida...

Convence-me, artista,
das verdades que tu crias
como entorpecente recreio,
essas milagrosas fantasias
que tanto existem quando leio...

*        *        *

Adriano Dias

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