quarta-feira, 27 de julho de 2016

O rio

Jacinta  Pessoa
Tantos rios como eu abriram leito de pedras
e pranto. Um dia perguntávamos:

– Dizei-me, curva, onde vou? casa trono rocha sois
aqueles que ficam, minha lei é não parar. Sigo
fio de água, água humilde sou, para onde? Ó curva,
falai. Água de revolta, espuma e ódio nos poros
na garganta no útero, pranto de mulher, água
de fel antigo, quem é meu semelhante? Dizei, onde vou?

Leito de pedras e pranto. Súbito, próximo,
Atravessou, olhai, ele!
ali na frente, vivo, tão vivo,
ele sim! o rio das águas inúmeras. Correi
doçuras e dores, punhos, Partido, esperança nossa…

Do livro Poemas políticos, Rio de Janeiro: Livraria-Editora Casa do Estudante do Brasil, 1951

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