Enfeitei um lampião com picadinho de estrelas
amassei palavras ternura na geleia
desenhei meia lua na espuma do café
te convidei a beber do meu poema
você demorou
a fogueira apagou
tudo esfriou
eu entardeci
sinto muito, passou Fatima Fonseca
Já fui flor
Caçadora de primavera
aquarela de arco-iris
bela, grávida de eternidade
vagando no mundo
interrogativa, indefinida
ao seu destino
de um maracujá enrugado
mas se a navalha da palavra
me atravessa
transbordo as taças
um reverdecer líquido
onde escorrem pelos trilhos
os
poemas amadurecidos pelo tempo
Fatima Fonseca
Perguntei para minha amiga anfitriã:
Com qual roupa eu vou?
Vá com a mesma que você usou ontem. Ficou ótima em você.
A mesma roupa?
Mas o que vão dizer as pessoas?
Minha amiga deu uma gargalhada e respondeu: acorda mulher! Você está numa capital. Aqui ninguém quer saber de ninguém.
Da roça para a cidadezinha, eu nunca havia colocado os pés em outro lugar. Acabara de experimentar pela primeira vez o prazer em ser anônima.
Naquele momento tomei uma decisão. É aqui que eu quero morar. Pois carregava um fardo pesado por ser famosa. Isso mesmo: famosa. Pobre, invisível e famosa. Lá no interior você já nascia famoso. Todos eram famosos.Todos se conheciam. E existia aquela troca sutil de competição e desafeto, as vezes um trágico trocar de asas por pedras.
Bom mesmo só os biscoitos riscados de carvao forno de barro feitos pela minha avó. Tinha um ingrediente só dela: amor
Querido diário, hoje pedi minha tia para me enviar um cheirinho de alecrim e fui escrever porque bateu uma saudade danada do canteiro da casa velha lá do interior. Porém uma certa estupidez desavisada atravessou minha memória para expor a lua de uma certa amargura.
afetos e desafetos
mas você sabe, sou inclinada para o amor. Tenho todas as sílabas. Escrevo a palavra: MILAGRE