Enfeitei um lampião com picadinho de estrelas amassei palavras ternura na geleia desenhei meia lua na espuma do café te convidei a beber do meu poema você demorou a fogueira apagou tudo esfriou eu entardeci sinto muito, passou
Já fui flor Caçadora de primavera aquarela de arco-iris bela, grávida de eternidade vagando no mundo interrogativa, indefinida ao seu destino de um maracujá enrugado mas se a navalha da palavra me atravessa transbordo as taças um reverdecer líquido onde escorrem pelos trilhos os poemas amadurecidos pelo tempo
Perguntei para minha amiga anfitriã: Com qual roupa eu vou? Vá com a mesma que você usou ontem. Ficou ótima em você. A mesma roupa? Mas o que vão dizer as pessoas? Minha amiga deu uma gargalhada e respondeu: acorda mulher! Você está numa capital. Aqui ninguém quer saber de ninguém. Da roça para a cidadezinha, eu nunca havia colocado os pés em outro lugar. Acabara de experimentar pela primeira vez o prazer em ser anônima. Naquele momento tomei uma decisão. É aqui que eu quero morar. Pois carregava um fardo pesado por ser famosa. Isso mesmo: famosa. Pobre, invisível e famosa. Lá no interior você já nascia famoso. Todos eram famosos.Todos se conheciam. E existia aquela troca sutil de competição e desafeto, as vezes um trágico trocar de asas por pedras. Bom mesmo só os biscoitos riscados de carvao forno de barro feitos pela minha avó. Tinha um ingrediente só dela: amor Querido diário, hoje pedi minha tia para me enviar um cheirinho de alecrim e fui escrever porque bateu uma saudade danada do canteiro da casa velha lá do interior. Porém uma certa estupidez desavisada atravessou minha memória para expor a lua de uma certa amargura. afetos e desafetos mas você sabe, sou inclinada para o amor. Tenho todas as sílabas. Escrevo a palavra: MILAGRE