Busco em mim
um natal
que um dia inventei
uma certa angustia
Ilusão despida
me cala.
Fátima Fonseca
terça-feira, 24 de dezembro de 2019
quarta-feira, 13 de novembro de 2019
Margens fecundas
Um rio me
corta mansamente
entre
uma margem e outra
gosto
de ser cortada pelo rio
rios
me inundam me transbordam
mas
é
nas margens que troco
de roupas
visto
palavras
é
nas margens que ocorrem metamorfoses
vespas,
girinos, escaravelhos, borboletas
joaninhas,
mariposas…
e
eu maria
com
meu poema molhado
à espera de vestígios líricos. Fátima Fonseca
quinta-feira, 24 de outubro de 2019
segunda-feira, 21 de outubro de 2019
Mini conto
O casamento passava por outra crise. Ela ouvia: Toda relação desgasta. É preciso regar, adubar, reinventar e superação é a palavra. Ela parou e refletiu: trabalho, capacitação, casa, academia, cuidados pessoais, fazer contas e ainda ser vigilante de uma relação!? Ah..., nem! Em silêncio encaixotou cada coisita e bateu a porta. Não por revolta ou indelicadeza, mas para sair bem acordada. Fátima Fonseca
sábado, 28 de setembro de 2019
sábado, 21 de setembro de 2019
sexta-feira, 20 de setembro de 2019
domingo, 15 de setembro de 2019
Não sou branca nem negra, sou amarela
Não sou negra
nem
branca
sou
amarela
descendência
indígena
pintada
de sol
cultivo
no quintal dos meus olhos
uma
roça de girassol
como
quem sonha escrever
com
os pinceis de Van Gogh.
Fátima Fonseca
Fátima Fonseca
quinta-feira, 12 de setembro de 2019
domingo, 1 de setembro de 2019
O BRADO DA DANDARA DOS PALMARES
O BRADO DA DANDARA DOS
PALMARES
Gláucia Maria Vasconcellos Vale
Sou
Dandara
dos
bantus filha
benção
de Nzambi Mpungu
sou
caçadora
guerreira
nasci
livre
morro
livre
livre
o
marimbondo
nascido
da minha língua
com
o ferrão da minha ira
os
ares são livres
as
ondas nos mares
os
ventos do leste
o
verde
no
agreste
livre é Zumbi
companheiro
cria
senhor
do
Quilombo dos Palmares
do
Rio Mundaú
ao
mar
meu
corpo seu leito
seiva
segredo das crateras
entre
bundas e coxas
o
prazer do cafuné
dengos
em noites fecundas
na
boca das manhãs
o
banzo da madrugada
um
moleque
dois
moleques
sem
cochilo
com
cuidado
cem
guerreiros a lutar
outros
mil que vão chegar
***
o entrelaçar
das
miçangas
pedra
a pedra
e
devagar
pega
o jeito da Yá
pega
no feito
de
Ogum
no
arfar da enxada
o
batuque da cuíca
na
ginga da capoeira
o
guardar dos mantimentos:
canjica
fubá farofa
dendê
o
polir da ferramenta
o
forjar das novas letras
bem
dita
língua
dos bantos
argila
da construção
semente
em campo agreste
moro em todas as pegadas
me
demoro nas curvas dos rios
me
ancoro entre montanhas e vales
no
alto da serra densa
no
umbigo
da
Barriga
seio
do abraço da terra
sei o
segredo
das
palmeiras
as
manhas dos animais
artimanhas
nas
viradas
negra
minha pele
o
brilho da lua
no
negro dos olhos
fortalezas
escondidas
iluminando
os dias
estrelas
arregaladas
ao
frescor
das
madrugadas
virgens
matas conquistadas
escondidas
pelo sol
***
o navio aportou
na
carga a marca
o
grito do mudo
no
surdo do ouvido
a
pele salgada
de
púrpuras rosas
desfolhadas
em golfadas
na
ponta
da
chibata
mais
um negro fugido
ia
virar
burro
de carga
saco
de pancada
calado
na mordaça
surrado
na mortalha
marcado
à
ferro e brasa
virou irmão da noite
virou irmão da noite
mais
um guerreiro
em
Palmares
a princesa virou escrava
foi
servir à sinhá
seviciada
servia
de comida ao senhor
no
pescoço a cruz
tortura
de mais um dia
no
ventre a semente
de um
ente deserdado
mais um pobre
desterrado
busca
terra diferente
mais
uma guerreira
em
Palmares
***
barulhos de espoletas
facões
rasgando o espaço
rompendo
cercas
pastos
plantações
choças
ardendo
bazucas
limando troncos
homens
caídos
corpos amontoados
aço
contra ventres nus
crianças
mulheres guerreiros
sonhos
quimeras
fumaças
entre
danças
de
corpos caídos
mutilados
passa
Dandara
uma
ave
uma
garça
um
grito
um
gato
sobe
o morro
invade
as matas
corre
Cadê
Katendê?
me dê
as ervas da cura
salgando
as entranhas
nas
brenhas das matas
Cadê
Quibanda?
quero
meu corpo fechado
dos
quebrantos do viver
nos
meus trapos
o meu
sangue
de
grilhões arrebatados
corre
Dandara
-
vai!
vira
árvore
vira
ave
voa
voa
Dandara, voa!
corta
o céu
vence
o abismo!
vira
bruma
cerração
zelação
elegia
lenda
elo
eco
que não mais
vai
se calar
que
não sabe sossegar
virou
rugido furação
estrondo
de mil trovões
enxurrada
em tempestade
alimento
na tormenta
queimadura
em
selva escura
desassossego
aflição
ébano
fel ferro
barro
imagem linhagem
do
instante guardiã
fogo
fátuo
de
memórias
latejantes
e sem mais fim
fantasia
que ilumina
fantasma
que nos inspira
luz
primeira
purgação
provação
e
redenção.
(*)
Poema extraído do livro Cantos da Terra, publicado pela editora
Ramalhete
em 2018
sexta-feira, 30 de agosto de 2019
segunda-feira, 19 de agosto de 2019
Envelhecer
Para a amiga Márcia Chagas inspirado no texto postado no poesia-me.
Há um envelhecer no rosto de cada coisa
Mas nada que pareça ferrugem, rugas...
É um sentido que não corrige com retoques, bisturis
É um "q" de versos mudos com traços de perdas e distâncias.
Dentro de cada coisa o tempo que demora nascer
Dentro de cada coisa o breve envelhecer.
Fátima Fonseca
Há um envelhecer no rosto de cada coisa
Mas nada que pareça ferrugem, rugas...
É um sentido que não corrige com retoques, bisturis
É um "q" de versos mudos com traços de perdas e distâncias.
Dentro de cada coisa o tempo que demora nascer
Dentro de cada coisa o breve envelhecer.
Fátima Fonseca
domingo, 18 de agosto de 2019
sexta-feira, 16 de agosto de 2019
"Não é que vivo em eterna mutação, com novas adaptações a meu renovado viver e nunca chego ao fim de cada um dos modos de existir. Vivo de esboços não acabados e vacilantes. Mas equilibro-me como posso, entre mim e eu, entre mim e os homens, entre mim e o Deus. É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo" Clarice Lispector
quarta-feira, 14 de agosto de 2019
Sofrimento temporão
Fátima Fonseca
Estranhável: pode ser essa fruta que não tem o sabor da estação
( fora de época)
Estranhável, aquele de visão vasta
(nasceu a frente de sua época)
Estranhável, aquele que carrega as horas paradas e vive atrás de seu tempo
(alienado)
Poesia: sou eu querendo entender onde estou no tempo
Estranhável: pode ser essa fruta que não tem o sabor da estação
( fora de época)
Estranhável, aquele de visão vasta
(nasceu a frente de sua época)
Estranhável, aquele que carrega as horas paradas e vive atrás de seu tempo
(alienado)
Poesia: sou eu querendo entender onde estou no tempo
quinta-feira, 1 de agosto de 2019
quarta-feira, 31 de julho de 2019
segunda-feira, 29 de julho de 2019
quarta-feira, 12 de junho de 2019
terça-feira, 4 de junho de 2019
palavras que me fogem
palavras que me fogem
Fátima Fonseca
traçados, retas inacabadas
gotas obtusas de silêncios
esboços mutantes do meu universo
vejam quantos labirintos
nos versos sem rimas
vejam quantos cruzamentos, esquinas
no poema que não me encontra
caminhos sem margens
palavras que me fogem
Fátima Fonseca
traçados, retas inacabadas
gotas obtusas de silêncios
esboços mutantes do meu universo
vejam quantos labirintos
nos versos sem rimas
vejam quantos cruzamentos, esquinas
no poema que não me encontra
caminhos sem margens
palavras que me fogem
domingo, 2 de junho de 2019
segunda-feira, 27 de maio de 2019
sexta-feira, 24 de maio de 2019
domingo, 12 de maio de 2019
Mulher
Fátima Fonseca
Por mares e rios entre nuvens
voando... nadando...
mulher Capitu,
Madalena,
Calcutá,
escrava, princesa que somos todas nós
mulheres abissais de águas profundas
que recusam não voar
trazem nas asas
voz de sonhos,
esperança e garra ancestrais.
Entardeci
Fátima Fonseca
Preparei picadinho de estrelas
uma fatia de lua
ainda amassei poesia na geleia de amora
convidei a comer do meu poema
você demorou
entardeci
sorry!
Preparei picadinho de estrelas
uma fatia de lua
ainda amassei poesia na geleia de amora
convidei a comer do meu poema
você demorou
entardeci
sorry!
sexta-feira, 10 de maio de 2019
segunda-feira, 29 de abril de 2019
domingo, 28 de abril de 2019
Esperança
Fátima Fonseca
Esse vazio regente
onde zanzam tontos tantos
esse verbo engatilhado
me abalam, não nego.
Mas para curvar a letra riste
sei que basta um fiozinho de luz.
Por isso escrevo:
Esperança!...
Esse vazio regente
onde zanzam tontos tantos
esse verbo engatilhado
me abalam, não nego.
Mas para curvar a letra riste
sei que basta um fiozinho de luz.
Por isso escrevo:
Esperança!...
quinta-feira, 25 de abril de 2019
Fui criado no mato e aprendi a gostar das
coisinhas do chão –
Antes que das coisas celestiais.
Manoel de Barros
coisinhas do chão –
Antes que das coisas celestiais.
segunda-feira, 22 de abril de 2019
domingo, 21 de abril de 2019
É tão difícil amar
neste mundo imperfeito
é difícil dizer alguma coisa
que não seja um equívoco
é difícil encontrar
o peso correto
das coisas
saber nosso próprio tamanho
olhar alguns bichos nos olhos
pensar com doçura
aproveitar adequadamente a luz
desejar para o pássaro um destino de pássaro,
para a seda, um destino de seda.
Ana Martins Marques
terça-feira, 16 de abril de 2019
Palavra
Fátima Fonseca
essa palavra
que sabe pisar em ovos
para dizer sem falar
de mágoas e paixão.
que sabe voar nesse verso
mudo
deve ser mesmo essa palavra,
essa boca calada, serena, sem verbos
deve ser mesmo
esse porquê e para quê
deixar o silêncio intervir
sem
palavra.
essa palavra
que sabe pisar em ovos
para dizer sem falar
de mágoas e paixão.
que sabe voar nesse verso
mudo
deve ser mesmo essa palavra,
essa boca calada, serena, sem verbos
deve ser mesmo
esse porquê e para quê
deixar o silêncio intervir
sem
palavra.
sábado, 13 de abril de 2019
quinta-feira, 4 de abril de 2019
Poemas, pedras e Pedrico
Fátima Fonseca
Quando comecei a escrever
eu era uma lagarta já alfabetizada que rastejava sílabas
no diário para despir sentimentos
do meu casulo
Acumulava esperas
e carregava a dor de uma pedra portuguesa desgarrada,
uma dor de outras pedras que se perderam.
Criaturas desencontradas.
Minha cartilha escolar
já com orelhas de burro
me escrevia cartas de encorajar assinadas por Pedrico.
Escreva! Escrever desacorrenta dizia meu Pedrico.
Obediente, inacabada
segui escrevendo...
Ora poemas ora pedras.
Quando comecei a escrever
eu era uma lagarta já alfabetizada que rastejava sílabas
no diário para despir sentimentos
do meu casulo
Acumulava esperas
e carregava a dor de uma pedra portuguesa desgarrada,
uma dor de outras pedras que se perderam.
Criaturas desencontradas.
Minha cartilha escolar
já com orelhas de burro
me escrevia cartas de encorajar assinadas por Pedrico.
Escreva! Escrever desacorrenta dizia meu Pedrico.
Obediente, inacabada
segui escrevendo...
Ora poemas ora pedras.
segunda-feira, 1 de abril de 2019
Tenho (homenagem a Fernando Pessoa)
Fátima Fonseca
Tenho
eu tenho comigo o afligir de uma dor que deveras sinto.
nunca me vi nem achei
carrego o não saber de quantas almas tenho
e sei enfim que nunca saberei de mim
herdei de meus pais fé em Nossa Senhora
tenho Fátima no nome
alma brunhida com um “q” de Portugal
mas,o que me dói não é
o que há no coração
mas essas coisas lindas
que nunca existirão...
que nunca existirão...
por isso, bebo de suas palavras
com uma esperança bem morrida de poesia
de um porvir encontro estrelado
com você Fernando em pessoa.
domingo, 31 de março de 2019
sábado, 30 de março de 2019
A Edgard Allan Poe
Fátima Fonseca
Um enigmático corvo
despensa versos no outono dos meus olhos
negreja o verbo
e provoca um pensar de assombro e magia
ela morre... tu morres... eu morro...
asas levantam voo
não! não é mal mal presságio
beleza e poesia
" há de ser isso e nada mais"
domingo, 24 de março de 2019
Politicos
Fátima Fonseca
Por falar em políticos, colhi erva daninha em sua fala, arranquei urtigas de seus olhos, quando o braço atravessou o ombro do outro havia qualquer coisa de embandeirar naquele gesto. Quem sabe de crocodilo na espreita? Jacinto's incrédulos permanecem, e quando sonhamos, inventamos um país habitado por humanos.
Por falar em políticos, colhi erva daninha em sua fala, arranquei urtigas de seus olhos, quando o braço atravessou o ombro do outro havia qualquer coisa de embandeirar naquele gesto. Quem sabe de crocodilo na espreita? Jacinto's incrédulos permanecem, e quando sonhamos, inventamos um país habitado por humanos.
quarta-feira, 20 de março de 2019
quarta-feira, 13 de março de 2019
Falhei
falhei
ser
Fátima Fonseca
a palavra que procuro entender
não é aquela
que pede dicionário
dobra a lingua
definitivamente a palavra
que procuro entender
é aquela que desce pelo meu esôfago
e deixa um “ser” dobrado
engasgado na garganta ressequida
falhei
ser
ser
Fátima Fonseca
a palavra que procuro entender
não é aquela
que pede dicionário
dobra a lingua
definitivamente a palavra
que procuro entender
é aquela que desce pelo meu esôfago
e deixa um “ser” dobrado
engasgado na garganta ressequida
falhei
ser
segunda-feira, 11 de março de 2019
a menina viveu alguns anos no mato
espreguiçava feito bicho preguiça
comia carne de tatu, veado, paca, ovos caipira
tomava banhos em agua doce.
foi levada pra cidade grande
teve que aumentar os passos
descobriu uvas e melancias sem caroços,
e outros geneticamente modificadas,
experimentou água com gás,
peito de frango grande e suculento de hormônios,
carnes a vácuo, goiaba sem bicho...
e foi crescendo assim meio esquisita:
Imprecisa
espessa
bélica
caiçara
pachorra, um naco de poesia.
domingo, 24 de fevereiro de 2019
Adiòs
Fátima Fonseca
na despedida ele rasgou o verbo:
esqueça!
ela amassou aquela palavra
dobrou a esquina
e foi ser passarinha
bater asas nas nascentes de outros
versos
amo a palavra desapego.
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019
Florir
a menina vestia chita florida
carregava cesta com poesias
pães fresquinhos.
as borboletas a perseguia
eram flores que elas liam.
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019
O meu dia a dia
o meu dia a dia é uma viagem
que me
rasga
remodela
revela
agora dei para fotografar borboletas
borboletas que pedem flores
flores que pedem chuva
chuva que pede vento
e eu, cá comigo, no dia a dia
também carrego os meus pedidos
que me esperançam a sempre partir...
fleuma e indiferente
que me
rasga
remodela
revela
agora dei para fotografar borboletas
borboletas que pedem flores
flores que pedem chuva
chuva que pede vento
e eu, cá comigo, no dia a dia
também carrego os meus pedidos
que me esperançam a sempre partir...
fleuma e indiferente
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019
Minha rua
Fátima Fonseca
E aquela mulher na esquina com lápis e papel?
Parece querer voar. Vai saber...
Bem no olho da rua
um mosquitinho flutuante
só de passagem
eu, vizinhos e você
sábado, 12 de janeiro de 2019
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