quarta-feira, 25 de maio de 2016

LÁZARO, O CERRADO E A PROFECIA


                                            Clúdio David Dangió
Lázaro nasceu no cerrado
O cerrado se fez em flor
Ipês, copaíbas e faveiros
Raízes e cipós entrelaçaram-no
E o cerrado nasceu em Lázaro
Entre amigos bichos do campo
Disputando frutas silvestres
Gabirobas, marolos e cambuís
E assim aculturou-se
Com músicas vindas da mata
Sinfonias de aves e pássaros
Sabiás, jacus e mutuns
Também se evangelizou
Com estórias de assombração
Saci, caipora e lobisomem
Suas crenças e mitos
Nas campinas incandescentes
Das noites de lua cheia
O guará “uuuuuuivava” em ritual
Dragões com chamas e fumaça
Correntes mata adentro
Arrancavam arbustos da Mãe
E a profecia fez-se então
Em seu derradeiro suspiro
Lázaro bradou:
– Pai! Afasta de mim
O gosto amargo do açúcar
Abraçado, morreu com o cerrado
Seus amigos sem julgamento
Queimados foram todos
Das cinzas, a metamorfose verde
O progresso sentenciou:
– Lázaro, levanta-te
E deixa o canavial
E assim cumpriu-se o veredito
Hoje, uma voz mansa e cansada
Clama solitária no deserto:
– Quero apenas um eito
Um eito do cerrado.
E Lázaro tinha visões,

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