quarta-feira, 25 de maio de 2016

DE COMO SILENCIAR CANÇÕES


                                                          Jacqueline Lopes Salgado Soares
Tinha mãos de espinho porque destruíste as rosas. Eu, também rosa,
Desabitei teu gesto, com o que restara de minhas asas de gelo.
Tocamo-nos apenas no silêncio
Por trás da tarde, levemente crivado
De palpites acinzentados. As horas ficam.
Curvam-se ágeis as palavras mortas, em um ou dois
Bagaços da memória. Estrelas
Se desdobram por baixo revirando minhas metáforas
Todas repousando delicadas
Por ironia da noite.
Cerro os olhos de dentro para não ver a espera.
Por fora, sou um jardim atento.
Verdades sobre ti
Passam-morrem,
Escoam et caeteramente
Pelos olhos cúmplices do entorno.
Eis-me na dor da hora suja. Eis-me
Secreta, hermética, profunda, divagada
Pela rosa muda que sonhei, em mim.
Movo-me cada vez mais distante dos teus riscos
E o que vês em mim, é o seu único Refúgio.
Eu sei, é certo. Não faltarão simulacros
De rosas outras
A desdizer-me enquanto canção, nem outras mãos miúdas.
Nem braços descruzados à despertar pássaros ferida abaixo.
Nem rosas cantadas em silêncio. Silêncio
Grande demais, para se habitar só em gestos.

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