sexta-feira, 9 de maio de 2014

LÍRICA SERENATA


  Sebastião Aimone Braga

       Lua morta lá no alto. Em esmaecido amarelo, o astro sugere formas, adivinha fantasias, abre clareiras na paisagem. Fugitivo séquito de nuvens e brilhos rodeia a rainha e ela estende seu manto de luz sobre o mundo da aldeia e suas dores.

       Baixa o ouro fusco. Acende ânimos e sonhos no escuro das ruas tortas. Escreve caminhos nas sombras da vila antiga. Séculos de sono dos seus moradores. Cansados, nos seus leitos, bordam memórias do dia.

       Igrejinha no centro da praça cresce com sua torre alta, inspira anjos, namorados e poetas. Pairam buscando ecos e ritmos.

       Silêncio quebrado por melodia e chamado, toada. Cada corda da viola reverbera discretas janelas e almas. O trovador arma a lira, suspira em cores sensíveis, acordes e metáforas. Cantos e esquinas, cantigas ao enlevo de poucos.

       Tua porta range devagar e solene. Rende-se ao desejo em rendas e rimas a macia carne branca da lua. Braços e corpos, movimento das marés. Até o repouso suave nas dunas de algodão.


                                               

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