sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Casimiro de Abreu



Na minha terra, no bulir do mato,
A juriti suspira;
E como o arrulho dos gentis amores,
São os meus cantos de secretas dores
No chorar da lira.

De tarde a pomba vem gemer sentida
À beira do caminho;
- Talvez perdida na floresta ingente
A triste geme nessa voz plangente
Saudades do seu ninho.

Sou como a pomba, e como as vozes dela
É triste o meu cantar;
- Flor dos trópicos - cá na Europa fria
Eu definho, chorando noite e dia
Saudades do meu lar.

A juriti suspira sobre as folhas secas
Seu canto de saudade;
Hino de angústia, férvido lamento,
Um poema de amor e sentimento,
Um grito de orfandade!

Depois... o caçador chega cantando,
À pomba faz o tiro...
A bala acerta, e ela cai de bruços,
E a voz lhe morre nos gentis soluços,
No final suspiro.

E como o caçador, a morte em breve
Levar-me-á consigo;
E descuidado, no sorrir da vida,
Irei sozinho, a voz desfalecida,
Dormir no meu jazigo.

E - morta a pomba nunca mais suspira
À beira do caminho; -
E, como a juriti, longe dos lares,
Nunca mais chorarei nos meus cantares
Saudades do meu ninho!

(Escrito em Portugal, onde o poeta permaneceu 4 anos)
  

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