domingo, 10 de junho de 2012
Abismo
Fernando pessoa
Olho o Tejo, e de tal arte
Que me esquece olhar olhando,
E súbito isto me bate
De encontro ao devaneando
— O que é sério, e correr?
O que é está-lo eu a ver?
Sinto de repente pouco,
Vácuo, o momento, o lugar.
Tudo de repente é oco
— Mesmo o meu estar a pensar.
Tudo
— eu e o mundo em redor
— Fica mais que exterior.
Perde tudo o ser, ficar,
E do pensar se me some.
Fico sem poder ligar Ser, idéia, alma de nome
A mim, à terra e aos céus...
E súbito encontro Deus
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