sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Da vida nao quero muito.

 Da vida, não quero muito. Quero apenas saber que tentei tudo o que quis. Tive tudo o que pude. Amei tudo o que valia. E perdi apenas o que, no fundo, nunca foi meu. 

       Mario Quintana

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Quero que o saibas

 


 
Quero que o saibas, linda Inês:
meu coração é português.
E dentro do peito fareja latidos
da alma que há muito me fugiu.
 
Ando sem alma, já se vê,
à procura de não sei quê.
Talvez um cheiro, uma cor, um som

- memória do tempo em que eu,


cidadão de Viseu,
vivia na bolsa seminal de meu pai.
 
O que foi ele buscar no mundo?
O azul profundo que há nos mares
quando se os tem interiores;
novos amores, terras mais vastas.
Não são assim os descobridores?
 
Pois meu coração é assim:
navegante à deriva, naufragado em mim!

Eduardo Alves da Costa
 

NO CAMINHO, COM MAIAKÓVSKI


 Eduardo Alves da Costa


Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakósvki.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho e nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz:
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas no tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares,
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo.
Por temor, aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!


quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Batatas doces

 

Alguém zangado disse: 

Ah..., vai plantar batatas!

E a menina obediente foi ramificando  espalhando pelas margens de seu caderno batatas doces. 

Entre pragas e sombras  agora ela tem a seu favor  batatas que brotaram com portas e janelas 

Alívio transbordamento 

ff

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

 

Assim como deixamos abertas as portas e disponíveis os sentimentos para receber a chegada de um amor, devemos deixar livre a passagem para que serenamente se vá quando chegada a hora.

De quem é esta pele


que cobre a minha mão
como uma luva?
Que vento é este
que sopra sem soprar
encrespando a sensível superfície?
Por fora a alheia casca
dentro a polpa
e a distância entre as duas
que me atropela.
Pensei entrar na velhice
por inteiro
como um barco
ou um cavalo.
Mas me surpreendo
jovem velha e madura
ao mesmo tempo.
E ainda aprendo a viver
enquanto avanço
na rota em cujo fim
a vida
colide com a morte.
                                    Marina Colasanti

Nasci mulher

 

Nasci mulher  


é arriscado e perigoso 

ser fêmea 

diziam  meus pais 

por isso queriam um filho homem


Irremediável nasci mulher


uma dor


cresci no cerrado 

entre gravetos e serpentes 

aprendi a fala da seca 

a dureza da escassez  

poderia ser torrão 

escolhi seguir poetas. ff


sábado, 25 de janeiro de 2025

Tempos doídos

 Dói o sonho de um dia 

dói me  a fome das  mesas 

as raízes expostas descobertas

as mãos acorrentadas 

a dúvida, a injustiça...

dói me a mão que escreve 

FF

Infancia na roça

 


No quintal da casa de meus avós haviam várias plantas e um pé de hibisco sempre vermelho com flores.

Flores essas que me escrevem por dentro com letras trêmulas de uma criança.

FF

sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Mão

 


Agora preciso de tua mão,

não para que eu não tenha medo,

mas para que tu não tenhas medo.

Sei que acreditar em tudo isso será,

no começo, a tua grande solidão.

Mas chegará o instante em que me darás a mão,

não mais por solidão, mas como eu agora:

Por amor. 


(Clarice Lispector)

quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Desculpe, mas preciso esrever

 Desculpe, mas preciso escrever 


Houve um tempo que eu escrevia desatinamente para desaguar.

Hoje escrevo para ser levada pelas palavras. 

Alguém ler e me responde:

O mundo me dói 

Aliás estamos coletivamente doídos.

Ora! Se o mundo é cão.

Cão no sentido ruim

Porque cão, o animal é doce.


      Fatima Fonseca


terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Reflexão


A vida te sacode e o que transborda? 

Se café está na xícara, café derrama. 

O mesmo com você: raiva, medo ou amor, gratidão? Preencha sua xícara com o melhor, pois uma hora, a vida revela o que você realmente carrega. 

Mário Sérgio Cortella.


sábado, 18 de janeiro de 2025

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Meu avô

 Meu avô era tomado por leso porque de manhã dava

bom-dia aos sapos, ao sol, às águas.
Só tinha receio de amanhecer normal.
Penso que ele era provedor de poesia como as aves
e os lírios do campo.
 Manoel de Barros

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Súplica

 


Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.


domingo, 5 de janeiro de 2025

 "O saber a gente aprende com os mestres e com os livros. A sabedoria se aprende com a vida e os humildes".

Cora Coralina

sábado, 4 de janeiro de 2025

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025