"Te aguardo nos rabiscos secretos de um diário abandonado" Ronald Claver
quinta-feira, 12 de junho de 2025
sábado, 7 de junho de 2025
domingo, 1 de junho de 2025
quarta-feira, 28 de maio de 2025
terça-feira, 27 de maio de 2025
Haicai
Até as pedras se encontram...
No fundo do verso
pedra sobre pedra
encontro inesperado
fatimafonseca
segunda-feira, 12 de maio de 2025
domingo, 11 de maio de 2025
Centenário de Rubem Fonseca
Uns fogem do amor e outros procuram com sofreguidão, mas no fim o que fica, em todos, é a mesma coisa, uma insuportável sensação de vazio.
quinta-feira, 8 de maio de 2025
Mistério
Gosto de ti, ó chuva, nos beirados,
Dizendo coisas que ninguém entende!
Da tua cantilena se desprende
Um sonho de magia e de pecados.
Dos teus pálidos dedos delicados
Uma alada canção palpita e ascende,
Frases que a nossa boca não aprende,
Murmúrios por caminhos desolados.
Pelo meu rosto branco, sempre frio,
Fazes passar o lúgubre arrepio
Das sensações estranhas, dolorosas…
Talvez um dia entenda o teu mistério…
Quando, inerte, na paz do cemitério,
O meu corpo matar a fome às rosas!
Florbela Espanca
segunda-feira, 5 de maio de 2025
Minha irmã Mara, me liga e ofegante me disse:
Judith morreu. Ah, meu Deus, Judith morreu!
_Judith irmã da Toninha? Perguntei.
_Sim ela mesma.
_Estava doente? O que aconteceu?
_E agora como vai ficar a Toninha?
Toninha morou em nossa casa lá no interior desde pequena, ajudava nossa mãe nas tarefas domésticas.
Muito querida por todos nós. Hoje idosa e com problemas de saúde mora em sua casinha no mesmo bairro nosso. A Judith sua irmã mais nova mas já com 60 anos morava com ela. Cozinhava, lavava e levava a irmã ao culto todos domingos. Ambas, nunca namoraram. Solteiras, evangélicas e alienadas aos preceitos da religião.
_Então, o que aconteceu com Judith?
Minha irmã respodeu:
Fiz a mesma pergunta pra Toninha e ela me disse:
Olha, ultimamente a Judith andava muito estranha. Ficava horas aí no sofá com as mãos entrelaçadas na cabeça. O almoço não saia mais no horário parecia uma tonta. Sei não, mas desde que O Dôdô esteve aqui ela ficou assim.
_E quem é Dôdô?
_Um Senhor que veio consertar a torneira da pia. Ele é viúvo e começou a jogar confetes nela.
_E ela?
_Uai ela tava toda selelé, feliz da vida. Andaram se esfregando por aí.
E hoje quando acordei ela estava morta.
Deus me perdoe, mas acho que ela saiu dos trilhos. Desobediência.
A minha irmã me disse que também achou ela esquisita, emudecida nos últimos dias. Mas pensou ser apenas uma tristeza.
Que nada!
Uma avalanche de emoções para quem vivia na quietude.
O coração não aguentou.
Minha avó dizia: todo excesso faz mal e pode até levar a morte.
Comentarios no velório:
Morreu com borboletas no estômago !
Overdose de paixão!
Morreu feliz!
Fatima Fonseca
Obs. Nomes fictícios
sábado, 3 de maio de 2025
sexta-feira, 2 de maio de 2025
quinta-feira, 1 de maio de 2025
quarta-feira, 30 de abril de 2025
Bom dia! Hoje tem poesia!
Minha amiga avisou: nasceu!
A flor grávida de poesia
era para nascer em maio
mas em abril deu Bom dia
ff
terça-feira, 29 de abril de 2025
sexta-feira, 18 de abril de 2025
quinta-feira, 17 de abril de 2025
Inconfidência Mineira
Era abril e uma corda se fez nó na garganta da liberdade.
Flores e folhas caídas nas calçadas molhadas de angustia.
Uma cabeça exposta.
Um gato enrolado no assoalho de uma varanda escondendo a cara
E a flor espada de São Jorge impotente, definhando a luz do sol ensanguentado.
Era um abril e uma corda se fez nó na garganta da liberdade.
FF
sábado, 12 de abril de 2025
Floriografia
Como o bem-te- vi, a repetir
as orquídeas reaparecem
para dizer:
Não se esqueças de mim!
Floriografia: linguagem secreta
das flores
para afagar os corações moles
e
capengas feito o meu.
Fatima Fonseca
segunda-feira, 7 de abril de 2025
quinta-feira, 3 de abril de 2025
sábado, 15 de março de 2025
Cadê você?
Por vezes pergunto:
onde estará você no universo?
Um dia inventei você
Era fase de lua cheia
quando ela vai crescendo
crescendo... no silêncio
para despontar perfeita.
perfeito ficou você também.
Invenção minha,
no desejo de amar perdidamente.
Sempre evitei
que nossos olhares cruzassem.
Um dia você me pediu:
Olhe para mim!
Olhei e me afoguei.
Mas foi você quem morreu.
Morreu porque existia.
Sobrevivi e lhe fiz poema.
Fátima Fonseca
quarta-feira, 12 de março de 2025
sábado, 8 de março de 2025
terça-feira, 4 de março de 2025
Silêncio amoroso
Preciso do teu silêncio
cúmplice sobre minhas falhas.
Não fale.
Um sopro, a menor vogal pode me desamparar.
E se eu abrir a boca minha alma vai rachar.
O silêncio, aprendo, pode construir. É um modo
denso/tenso - de coexistir.
Calar, às vezes, é fina forma de amar.
domingo, 2 de março de 2025
terça-feira, 25 de fevereiro de 2025
Um encontro com Carlos Drummond Andrade
domingo, 23 de fevereiro de 2025
De repente ... poesia
Limitado,
é um sujeito
que é todos nós
com seus hiatos, traços e rastros
em cada vão
resquícios de loucura
sopros de ternura
De repente...
um poema ergue
nas farpas do limite
sem se ferir
Fatima Fonseca
sábado, 22 de fevereiro de 2025
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025
domingo, 16 de fevereiro de 2025
sábado, 15 de fevereiro de 2025
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025
sábado, 1 de fevereiro de 2025
Eu sei, mas nao devia
Crônica de Marina Colasanti.
Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.
sexta-feira, 31 de janeiro de 2025
Da vida nao quero muito.
Da vida, não quero muito. Quero apenas saber que tentei tudo o que quis. Tive tudo o que pude. Amei tudo o que valia. E perdi apenas o que, no fundo, nunca foi meu.
Mario Quintana
quinta-feira, 30 de janeiro de 2025
Quero que o saibas
Quero que o saibas, linda Inês:
meu coração é português.
E dentro do peito fareja latidos
da alma que há muito me fugiu.
Ando sem alma, já se vê,
à procura de não sei quê.
Talvez um cheiro, uma cor, um som
- memória do tempo em que eu,
cidadão de Viseu,
vivia na bolsa seminal de meu pai.
O que foi ele buscar no mundo?
O azul profundo que há nos mares
quando se os tem interiores;
novos amores, terras mais vastas.
Não são assim os descobridores?
Pois meu coração é assim:
navegante à deriva, naufragado em mim!
Eduardo Alves da Costa
NO CAMINHO, COM MAIAKÓVSKI
Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakósvki.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.
Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho e nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz:
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.
Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.
Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas no tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares,
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
E por temor eu me calo.
Por temor, aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!
quarta-feira, 29 de janeiro de 2025
Batatas doces
Alguém zangado disse:
Ah..., vai plantar batatas!
E a menina obediente foi ramificando espalhando pelas margens de seu caderno batatas doces.
Entre pragas e sombras agora ela tem a seu favor batatas que brotaram com portas e janelas
Alívio transbordamento
ff
terça-feira, 28 de janeiro de 2025
De quem é esta pele
como uma luva?
Que vento é este
que sopra sem soprar
encrespando a sensível superfície?
Por fora a alheia casca
dentro a polpa
e a distância entre as duas
que me atropela.
Pensei entrar na velhice
por inteiro
como um barco
ou um cavalo.
Mas me surpreendo
jovem velha e madura
ao mesmo tempo.
E ainda aprendo a viver
enquanto avanço
na rota em cujo fim
a vida
colide com a morte.
Nasci mulher
Nasci mulher
é arriscado e perigoso
ser fêmea
diziam meus pais
por isso queriam um filho homem
Irremediável nasci mulher
uma dor
cresci no cerrado
entre gravetos e serpentes
aprendi a fala da seca
a dureza da escassez
poderia ser torrão
escolhi seguir poetas. ff
sábado, 25 de janeiro de 2025
Tempos doídos
Dói o sonho de um dia
dói me a fome das mesas
as raízes expostas descobertas
as mãos acorrentadas
a dúvida, a injustiça...
dói me a mão que escreve
FF
Infancia na roça
No quintal da casa de meus avós haviam várias plantas e um pé de hibisco sempre vermelho com flores.
Flores essas que me escrevem por dentro com letras trêmulas de uma criança.
FF
sexta-feira, 24 de janeiro de 2025
Mão
Agora preciso de tua mão,
não para que eu não tenha medo,
mas para que tu não tenhas medo.
Sei que acreditar em tudo isso será,
no começo, a tua grande solidão.
Mas chegará o instante em que me darás a mão,
não mais por solidão, mas como eu agora:
Por amor.
(Clarice Lispector)
quinta-feira, 23 de janeiro de 2025
Desculpe, mas preciso esrever
Desculpe, mas preciso escrever
Houve um tempo que eu escrevia desatinamente para desaguar.
Hoje escrevo para ser levada pelas palavras.
Alguém ler e me responde:
O mundo me dói
Aliás estamos coletivamente doídos.
Ora! Se o mundo é cão.
Cão no sentido ruim
Porque cão, o animal é doce.
Fatima Fonseca
terça-feira, 21 de janeiro de 2025
Reflexão
A vida te sacode e o que transborda?
Se café está na xícara, café derrama.
O mesmo com você: raiva, medo ou amor, gratidão? Preencha sua xícara com o melhor, pois uma hora, a vida revela o que você realmente carrega.
Mário Sérgio Cortella.
sábado, 18 de janeiro de 2025
quarta-feira, 15 de janeiro de 2025
segunda-feira, 13 de janeiro de 2025
Meu avô
Meu avô era tomado por leso porque de manhã dava
quinta-feira, 9 de janeiro de 2025
segunda-feira, 6 de janeiro de 2025
Súplica
Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.
Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.