Solange Amado
Olhinhos azuis. Cabelos como uma névoa branca em torno do
rosto. Mãozinhas pequenas e finas, sempre agitadas. E para por aí sua
semelhança com uma doce velhinha. Nem velhinha, nem doce. Aliás, velhinha é a
mãe! E doce é a senhora sua avó! Arrisco minha vida ao dizer que tem um ar
maternal. E tem. Mas é só para enganar os incautos.
Vez em quando roda a baiana. Tem cabelo nas ventas. Nasceu
assim. Pra todo mundo segurar o fôlego quando conversa com ela. Não use
diminutivos. Se você disser que ela parece sua vovozinha, tão meiguinha,
danou-se. O trem fica feio. Você pode levar um catiripapo no pé da orelha ou um
dedo em riste no nariz, pra desfazer de vez essa má impressão de que ela é uma
coisinha fofa. Não é. Ela aceita o coisinha. Nunca o fofa.
Segura a vida nos dentes. E cospe o bagaço do que é pouco
saboroso. Namora de longe, mas olha meio de banda pro feminil. Homem bom mesmo
pra ela é o Bento. Assim meio chucro, pouco lapidado. Aquele que pega, joga na
parede e chama de lagartixa. Depois manda flores. Morde e assopra. Vem e vai.
Desde que venha na hora H.
Aliás, pra quê garfo e faca? A vida é pra comer com as mãos.
Essa coisa insossa, natureba não é com ela. Tem que ir ao tutano. Haja energia
pra compartilhar essa viagem.
Produz versos. É importante ressaltar. E quando o Espírito
Santo baixa na sua horta, não se faz de rogada. Vai lá e confere. São versos
fortes, às vezes ácidos, às vezes amargos, mas o açúcar está sempre no
fundo. E acaba arrastando seus
companheiros, seus leitores, seus amigos, ao paraíso, levados pelo canto dessa
sereia, meio menina, meio mulher. Um tanto recalcitrante. Meio empacada. Sempre
com a espada em riste, lutando com os moinhos de vento da vida e da morte.
Esta é minha amiga Cida. Olhinhos azuis, mãozinhas delicadas,
versos fortes, cabelo nas ventas.
Volta e meia bota o dedo no nariz da gente: “Sabe com quem
está falando?” Mas é só sacudir que embaixo tem mel.
Feliz aniversário minha amiga! Muita energia e bênçãos!
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