sexta-feira, 10 de outubro de 2014

A descoberta do amor

Maria  Apparecida  de  Mattos 

Aos  15  anos
o  amor  foi  promessa.
Os  tempos  eram  outros
e  o  pecado,
muito  envergonhado.
Garotas  e  garotos  ficavam.
À  moda  antiga,  ficavam.
Ora  faziam  footing 
na  praça  principal,
ora  colhiam,
na  matinê  de  domingo,
o  fruto  dos  olhares  da  praça.

Aos  25  o  amor  foi  confiança.
Sem  cálculo,  sem  pressa,
na  casa  simples
de  uma  rua  de  bairro
construíam-se    castelos,
tendo  o  futuro  como  promissória
e  sonhos  como  fiadores.

Aos  35  o  amor  foi  tudo,
paixão  semicoberta
no  leito  onde,  encoberta,
feitiçaria  conjurava.
Centelhas  dos  desejos  e  dos  ódios
acendiam  tal  poder  que  sufocavam
possível  esconjuro.
Em  cegueira  e  malcoberta
a  garota  dos  15  não  previa
os  tropeços  da  queda  anunciada.

Aos  45  o  amor  foi  quase  nada.
Político  em  desespero,
tentava  boca  de  urna.
Ateu  convicto,
desfilava  contas  do  rosário
como  quem  joga  água
em  peneira  furada.
Eros  falido  em  eros  renascendo
das  cinzas  de  uma  fênix  matreira.

Hoje  o  amor  é  redenção.
Cara  limpa  despida  de  máscara,
redescoberta  de  corpo
redescoberta  de  espírito
aurora  boreal
no  cerne  do  crepúsculo,
a  garota  dos  15
dos  30  e  dos  inconfessáveis
está  livre  pra  jogar  escolhas
na  balança  do  tempo.






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