sou extremamente inacabada
tenho fluidos zonzos
que penetram na carnadura
um drama excessivo
uma febre contemporânea
uma quentura comprimida e larga
como teu silêncio.
sou território
danço como uma chama.
Eu amo tudo o que foi
Tudo o que já não é
A dor que já me não dói
A antiga e errônea fé
O ontem que a dor deixou,
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.
Tenho sofrido poesia
como quem anda no mar.
Um enjoo.
Uma agonia.
Sabor a sal.
Maresia.
Vidro côncavo a boiar.
Dói esta corda vibrante.
A corda que o barco prende
à fria argola do cais.
Se vem onda que a levante
vem logo outra que a distende.
Não tem descanso jamais.
Tel Mont
espalho estrelas de papel no céu
do meu quarto
e elas brilham, é só apagar a luz
cerrar o sol, encerrar o dia
esse é o meu mundo, e pronto
nem se atreva a me interromper quando sonho
Estranha pulsão, esta:
derramar no caderno porções de alma.
A mão, captando sinais invisíveis.
Lenta, no formigueiro em marcha.
Absolutamente só,
enquanto todos perseguem a sagrada hora do
[ trabalho
e dos compromissos bancários.
E depois, palavras escondidas em oculto caderno,
papel rasgado, para que delas não sobrem
vestígios.