segunda-feira, 17 de março de 2014

Monica de Aquino
O peixe que ontem
sugava transparências
amanheceu morto de excesso.
A morte é leve
e pesa a superfície.

Encheu-se o aquário
de vazios
e rastros esparsos sobre o vidro
confundem memória e silêncio.

O peixe que ontem
mastigava a ausência
destilou-me a espera.
A vida breve
dispensa a superfície.

Encheram-se de vazios
os meus restos –
iscas dispersas entre as águas
confetes que não me alimentam.

O peixe que ontem
distraia o absurdo
enfeitou amor e luto.

A vida é febre
e ferve, e agora
é recriar o aquário oculto
limpar vidro, excesso
líquido.

Limpar o peixe: comê-lo;
e transbordar
o vazio.

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