quarta-feira, 3 de abril de 2013

Poética



Carlos Alberto Jales 
I

Em uma nesga de nuvem
eu te procuro, poesia!
Em uma nesga de nuvem ou
em alguma dessas coisas
a que ninguém dá mais
importância:
um sorriso no escuro
o vento farejando a face
um mastro de navio perdido
no horizonte.
E quando não te encontro,
eu te procuro nos ermos
dos caminhos, sentindo a
emoção de te encontrar afinal
nesses velhos e abandonados
casarões...

II

Eu te perdôo, poesia,
as longas noites de insônia
à espera da palavra inaugural.
Eu te perdôo essa leveza, essa
vontade de ver os lírios crescerem
na solidão das madrugadas.
Eu te perdôo e te agradeço
a sensação de me sentir, às vezes
completo e simples como o pão.

III

Eu te acalanto, poesia
desde a mais terna infância
e te preparo as armadilhas
mais antigas:
um canto de galo
um resto de madrugada
o luar batendo num velho casarão.
E depois que te enlaço nos fonemas
da ternura, tu me devolves as emoções
mais secretas, e me ofereces
o milagre único, continuamente
renovado, de um momento de silêncio

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