quinta-feira, 28 de março de 2024
terça-feira, 26 de março de 2024
Escrevo,
"Escrever é uma luta contínua com a palavra. Um combate que tem algo de aliança secreta” Julio Cortázar
domingo, 24 de março de 2024
sexta-feira, 22 de março de 2024
quinta-feira, 21 de março de 2024
sábado, 16 de março de 2024
sexta-feira, 8 de março de 2024
Nasci mulher
é arriscado e perigoso
ser fêmea
diziam meus pais
por isso queriam um filho homem
Irremediável nasci mulher
uma dor
cresci no cerrado
entre gravetos e serpentes
aprendi a fala da seca
a dureza da escassez
poderia ser torrão
escolhi seguir poetas.
Fatima Fonseca
segunda-feira, 4 de março de 2024
Textos de oficina
Lê me - disse ela
a borboleta
pousada levemente sobre a pedra
Limitado,
quadrado é um sujeito
que é todos nós
com seus hiatos, traços e rastros
em cada vão
resquícios de loucura
sopros de ternura
um poema ergue
nas farpas do limite
sem se ferir
*
triângulo
Numa ponta, eu
noutra ponta você
noutra ponta ilusão
Fantasia craquelando...
Meu Deus,
de onde vem esse morrer
-Ele retornou ofegante. Ela já havia virado a esquina.
-Arrumou as malas em silencio. Saiu nas pontas dos pés. Bateu a porta com força para registrar o adeus.
-Encarou o chefe e disse: fica aí jararaca! Na bolsa a sonhada aposentadoria.
-Não aconteceu. Ainda assim, ela suspirava uma esperança que ensolarava o coração.
-Lá na cidadezinha todos se conheciam.
A mulher do prefeito gerenciava projetos sociais em parceria com a igreja local. Elegante, simpática, mas os moradores a olhavam com um certo "ar" de piedade. Todos sabiam que seu marido além de fama de sedutor, tinha uma amante num distrito próximo. Um dia a cidade acordou em alvoroço com a notícia de que o padre havia fechado a paróquia e fugido com primeira dama. Uma história de amor de longas datas comentavam os mais próximos.
Eu sou a menina do cerrado com sua cesta de sonhos e porque vestia chita com flores graúdas era perseguida por borboletas.
Hoje a menina espia essa mulher e murmura:
O que fizeste ela com seus sonhos? E por que essas cruas reticências na palavra silêncio?
I
Os sonhos têm idades
e existem perguntas
que nem o eco responde,
todos os dias mudo
e sou outra pessoa
nao sei para onde estou indo
nem tenho intinerario
estou me tornando
fluente em silencio
nao que eu queira
aliás quando dei por conta
tudo já inclinava
para dentro.
II
A menina vestida de chita
levava em sua cesta sonhos
queria tocar o horizonte,
mas quando chegava no topo
avistava outro horizonte
ali ela decidiu escrever
um poema turquesa
e foi assim que ficou
afogada no verde e azul
com gosto de colinas na boca
com os olhos nuveados,
brumados, quase verbo.
tem remédio
Escrevo para mim e para os "comigos de mim"
A infância na roça foi sem livros, revistas, jornais... mas a menina observava que ali todos liam. Liam muito: a lua, o sol, plantações... eles tinham conexão com a natureza e sabiam interpretar os avisos dos animais. Quando estavam angustiados levantavam as mãos para cima e com palavras escreviam nos céus: "Êta mundão de Deus, de infinitos milagres" segui caminhos a fora escrevendo, recolhendo no mais fundo de mim, sentidos. Caminhos esses que vem me escrevendo e entornandor um certo doer.
FF
Nó
numa ponta a realidade
na outra ponta o devaneio
E porque a realidade
tem mãos de ferro,
dentes de leão,
e anda nua e crua aos pés da cova,
ela sempre deu um jeito
de flertar com as estrelas,
de desaparecer com as nuvens,
de conversar com os queridos
que já partiram.
Ninguém entende sua lucidez
e dizem que é delirio
Cartas de amor
necessário ou ridículo
a verdade é que ela escrevia
cartas e cartas de amor
calçava o caminho com versos
ladrilhados de desatino e ternura
havia perdido a discrição
transbordava...
sabes por que?
apaixonou - se!
Depois tudo foi desacontecendo:
o caminho, o desassossego , o tempo
ela, as cartas e o amir.
páágina de um diário
Perguntei para minha amiga anfitriã:
Com qual roupa eu vou?
Vá com a mesma que você usou ontem. Ficou ótima em você.
A mesma roupa?
Mas o que vão dizer as pessoas?
Minha amiga deu uma gargalhada e respondeu: acorda mulher! Você está numa capital. Aqui ninguém quer saber de ninguém.
Da roça para a cidadezinha, eu nunca havia colocado os pés em outro lugar. Acabara de experimentar pela primeira vez o prazer em ser anônima.
Naquele momento tomei uma decisão. É aqui que eu quero morar. Pois carregava um fardo pesado por ser famosa. Isso mesmo: famosa. Pobre, invisível e famosa. Lá no interior você já nascia famoso. Todos eram famosos.Todos se conheciam. E existia aquela troca sutil de competição e desafeto, as vezes um trágico trocar de asas por pedras.
Bom mesmo só os biscoitos riscados de carvao forno de barro feitos pela minha avó. Tinha um ingrediente só dela: amor
Querido diário, hoje pedi minha tia para me enviar um cheirinho de alecrim e fui escrever porque bateu uma saudade danada do canteiro da casa velha lá do interior. Porém uma certa estupidez desavisada atravessou minha memória para expor a lua de uma certa amargura.
afetos e desafetos
mas você sabe, sou inclinada para o amor. Tenho todas as sílabas. Escrevo a palavra: MILAGRE
ff
[3/3 19:46] Sebastião/oficinaliteraia: Flor de maracujá
Já fui flor
Caçadora de primavera
aquarela de arco-iris
bela, grávida de eternidade
vagando no mundo
interrogativa, indefinida
ao seu destino
de um maracujá enrugado
mas se a navalha da palavra
me atravessa
transbordo as taças
um reverdecer líquido
onde escorrem pelos trilhos
os
poemas amadurecidos pelo tempo
Enfeitei um lampião com picadinho de estrelas
amassei palavras ternura na geleia
desenhei meia lua na espuma do café
te convidei a beber do meu poema
você demorou
a fogueira apagou
tudo esfriou
eu entardeci
sinto muito, passou
(O poema)
O poema me disse : "Escreva-me"...
"Escreva-me enquanto luz no farol do mundo,
enquanto água vertendo para a boca do céu dos homens...
Escreva-me naturalmente, como se não me saibas o quanto eu perduro, amargo, esperando a hora de existir...
(LFernando Souza/ amigo do Twitter)
[3/3 19:49] Sebastião/oficinaliteraia: Isso é parte da beleza de toda a literatura. Você descobre que seus desejos são desejos universais, que você não está só e isolado de todo o mundo. Você pertence.
-: Hoje abri o caderno
página vazia, branca
me refletia
sem rosto, sem palavras.
Mas ainda hei de escrever
para você um poema
com violetas na janela
no jardim um pé de algodão
e
rosas carmim
ff
Enigmático
Havia naquele agosto um vento
que respiravas dentes de leão
um assopro sedento por asas
estremecida na tímida leveza
ela era imperfeita
mas
quando despertou já voava
eterno torna-se
sempre viva
começavas outro amanhã.
ff
Texto 9
Nem te conto os micos
Hoje eu li a seguinte manchete:
"Avenida do Contorno: História, Mapa, Câmeras, Trânsito ..."
Abri para ler e pensei comigo: eu também tenho uma história com essa avenida. Em 1980 desembarquei em BH com o propósito de estudar e trabalhar.
Foi um impacto muito grande pois eu estava acostumada que os endereços eram todos logo alí. Naquela época havia pouco tempo que passou a circular ônibus de lotação em minha cidade e eu nunca havia entrado em um.
Eu caminhava pelo centro de BH com uma caderneta nas mãos anotado o endereço para um emprego dos classificados de jornal. Avistei um militar na praça sete e perguntei: onde fica a Av do contorno? Ele me olhou com ar de piedade e disse: Ah ... essa avenida é enorme ela contorna toda a cidade.
Conclusão: eu tinha que pegar um ônibus para ir ao endereço, fiquei muito assustada com extensão da avenida. Quando escrevi carta para minha família comentei: Não me peçam favores para eu resolver porque aqui as ruas são imensas e eu não tenho tempo e sem falar que eu sentia mal estar, enjoou dentro de ônibus. Logo que cheguei na capital causei uma fila de passageiros dentro de um dos onibus, pois paguei a passagem e fiquei esperando o trocador rodar a roleta e nada dele rodar a bendita roleta. Foi um fuzuê. Eu não sabia que era a gente quem empurrava a roleta com o corpo.
Ô céus!
ff
Texto 16
Vou me embora pra cidade grande
Lá no cerrado onde ela vivia
a vida era um poema
bebia leite de estrela, a vaquinha
mimada do avô.
era namorada de João de Barro e rival de Joaninha, amiga do sapo que antes de beijá lo era príncipe.
A vida era mesmo divertida:
loucos regidos pelas faces da lua.
engarrafamento de andorinhas.
balanços nos galhos retorcidos
E outras luxúrias...
Lá ela era verso de folha "Maria fecha a porta", mas ela vivia dizendo que ia embora para a cidade grande. Queria ser alérgica, viver na correria e sair do marasmo.
Um dia fez sua trouxinha em silencio
e foi-se...
Agora tem muitas histórias para contar.
ff
Texo 10
O amor
Ah nao quero falar de amores
não quero falar dos desertos
que inventei
que atravessei
entardeceu...
não tenho mais tempo
agora só quero caminhos férteis
para namorar
meu desejo de florir.
ff
: Texto 16
Sim, é com você que eu falo
Quando crescer...
Ser
Quando aposentar
descansar
Quando mudar
inovar
Quando perfilar palavras
escrever
Ah,... esse tempo de espera
Mas já eram descaminhos do início
e ela ainda hesitava
De repente...
Esperança acenou
Sim, é com você que eu falo
Não espere versar com perfeição.
encontre me na poesia...
ff
Texto 13
outubro
Há no mês de outubro alguma coisa que encontrei.
Talvez quem sabe um regresso de mim
Há também alguma coisa que perdi
uma alegria entre tristezas qualquer
Nasci em outubro
fui me compondo nas sombras e nas luzes
Sou nascida desde o sonho das águas nas cavernas.
aguas que não contentam ser só água
aguas que escorrem, pingam, perfuram, petrificam.
Comigo nessa trilha estão as crianças, os professores, os funcionários públicos, os franciscanos as bruxas
que eu sou
todos nasceram neste mês de outubro.
ff
: O dia amanhece.
O galo canta.
Eu não posso cantar de galo.
Nunca sei se vou amanhecer.
ff
Texto 03
Paredes descascadas da casa velha
Lá na casa velha ninguém estava preocupado com perfeição. As crianças podiam desenhar amarelinha no chão para jogar. Pintar, bordar sem ser repreendidos.
Com carvões a menina contornava rostos de pessoas imaginárias nas paredes descascadas. Um dia ouviu sua avó dizer para seu avô: Essa menina tem umas esquisitices! outro dia me perguntou quem passa bombril nas estrelas. E olha só essa parede, são pessoas com quem ela fala. Sei não! Essa menina precisa ser estudada.
ff
: Alongamento
Texto 09
Em memória a minha querida tia, costureira.
No morrer de cada dia
ela virava as páginas dos jornais,
lia as manchetes,
alguma palavra bonita,
às vezes alguma poesia.
Transformava tudo em moldes
que recortavam tecidos
que vestiam corpos
que embelezavam sonhos.
Um dia ela vestiu de branco,
disse que ia costurar nos céus
Essa data ficou emoldurada
numa lápide .
agora só saudades ...
ff
: "Todo escritor que admiro, traz algo perturbador, triste , uma dor que se joga em segundo plano.
Talvez seja isso que impulsiona a criação mais densa .
Escritores veem no escuro, como gatos.
E quem consegue vê-los rs atravessa a barreira da carne , até ver o território do segredo"
: Palavra sinuosa
arco íris
cores gazozas
Fachos de luzes
sol nascente
desperta o louva-a-deus
Dobrando a esquina
Ela não entendia de fel
não falava a língua de pedras
não sabia manusear cortantes
Deu as mãos a poesia
e
dobrou a esquina.
Foi tocar o azul dos céu
[3/3 20:17] Sebastião/oficinaliteraia: Mulher...na cabeça um pote de mágoas
nas mãos poesia algemada,
segue caminhando, anônima.
Um sino dobra em mim, Ave-Marias!
Fico pensativa, olhando o vago...
Eu queria ser a pedra que não pensa,
a charneca Florbela que não espanca.
folheio o livro das ignoranças:
Afinal tenho uma dor de concha extraviada, uma dor de pedaços que não voltam.
Eu sou muitas pessoas destroçados,
meu olhar tem odor de extinção,
tenho abandonos por dentro e por fora.
Penso me renovar usando borboleta...
essa que sinto voltejar em mim.
Nesse virar de paginas com Manoel de Barros.